segunda-feira, 31 de agosto de 2015

O timing do PSB

Ronaldo Barbosa sua para explicar as contradições do PSB
Nas várias entrevistas que concedeu a rádios na semana passada, a pretexto de divulgar evento sobre atuação nas redes sociais promovido pelo PSB, o presidente do partido em João Pessoa, Ronaldo Barbosa, deixou mais dúvidas do que certezas em relação a qual é mesmo o projeto socialista para a capital paraibana em 2016.

Apesar de todos os indícios de que o partido de Ricardo Coutinho pretende lançar candidatura própria no próximo ano em João Pessoa, Barbosa não contribuiu para clarear qual é mesmo a intenção da direção partidária.

Sem confirmar a candidatura e reafirmar o óbvio (“o PSB tem nomes para disputar a PMJP”), a informação mais relevante no périplo radiofônico de Barbosa foi a de que qualquer coisa pode acontecer até a conclusão das convenções partidárias no próximo ano: do lançamento de candidatura a apoio à reeleição de Luciano Cartaxo, tudo pode acontecer em relação ao PSB.

Confusão proposital? A posição de Ronaldo Barbosa parece demonstrar que não.

O problema talvez não esteja na posição individual do presidente do PSB, que talvez expresse a falta de unidade do partido e confusão política que toma conta da cabeça dos socialistas em razão da ausência de uma diretiva mais clara por parte de sua maior liderança e maior eleitor em João Pessoa, que é Ricardo Coutinho.

Como o governador tem enviado claríssimos recados sobre sua intenção de lançar candidato na capital, mas ainda não deixou claro que é isso mesmo que pretende fazer, o PSB parece ser hoje um dos poucos partidos que importam no jogo político da Paraíba a não ter uma clara posição sobre como vai agir em 2016.

Ora, como exigir “reciprocidade” do PMDB pelo apoio que o PSB pretende dar a Veneziano Vital em Campina? Reciprocidade a que posição, se os socialistas ainda não sabem com certeza se pretendem lançar candidato/as em João Pessoa?

Essa dubiedade em relação à posição do PSB em João Pessoa quando o assunto são as eleições de 2016 pode ser medida pela postura da dupla de vereadores que o PSB tem na Câmara de João Pessoa: enquanto Zezinho do Botafogo apoia a administração petista, Renato Martins é um dos mais destacados oposicionistas. 

Até quando isso vai persistir? Até às vésperas das convenções do próximo ano? Isso nem de longe é exemplo de “nova política”.

“Aliança eleitoral”

Voltando a Ronaldo Barbosa, o dirigente socialista foi devidamente emparedado quando participou do programa Correio Debate, na última quinta.

Acossado pelos entrevistadores do Correio Debate, especialmente Fabiano Gomes e Wellington Farias, Barbosa saiu pela tangente quando questionado sobre se a aliança PSB-PT seria ou não mantida. 

Barbosa tergiversou, deixando claro que ainda é muito cedo para antecipar posições.

E citou o exemplo de 2014, quando o PT resolveu de última hora apoiar a reeleição do governador Ricardo Coutinho.  

Para a surpresa geral, Ronaldo Barbosa disse que aquela aliança foi apenas “eleitoral”, o que no jargão da esquerda quer dizer que foi uma aliança não programática, em suma, de ocasião, exclusivamente montada para atingir os objetivos comuns tanto de PT como de PSB.

Toda aliança entre partidos para disputar eleições pretende-se que seja programática. Eu pelo menos espero que assim seja. E cada partido tem seus objetivos próprios, que muitas vezes confrontam com objetivos estratégicos de um aliado. Assim é a política.

No caso da eleição de João Pessoa, o projeto do PSB de disputar sua prefeitura é mais do que legítimo considerando ser ela a mais importante da Paraíba e locus onde nasceu e se irradiou a força política que governa hoje o estado.

Vencer em 2016 em João Pessoa é central para a estratégia do PSB por várias razões, algumas das quais ainda serão analisadas aqui. Além do que as críticas administrativas à gestão petista, a qual o PSB não ajudou a eleger e da qual formalmente o PSB não participa, são pontos de grande relevância a justificar a não manutenção da aliança.

E a questão nacional tende a afastar PT e PSB – só é preciso agora observar se o PSB da Paraíba pretende contribuir para uma crítica “pela esquerda” ao PT ou se vai chancelar o programa adotado por Eduardo Campos, e depois por Marina Silva, em 2014.

Enfim, o problema do PSB parece ser o timing para anunciar o rompimento com o PT.

A questão é que quanto mais os dirigentes do PSB tentam encontrar justificativas para as contradições de sua política, mais eles deixam margens para questionamentos e abrem flancos para serem explorados.

Notem também que o PT permanece calado sobre essa questão, mesmo que deixando passar oportunidades para também responder às estocadas no PSB, e não apenas no campo da política.

Esse melhor momento para o anúncio pode ter passado e quanto mais tempo leve para ser feito mais prejuízos políticos podem causar.

E a perda do apoio do PMDB é um exemplo disso – ninguém no PSB percebeu que Maranhão precisava ter participado desse jogo? Que Gervásio e Veneziano sozinhos não comandam o PMDB, especialmente em João Pessoa?

E Luciano Cartaxo continua a ganhar tempo político e, portanto, administrativo.

Na próxima postagem eu tratarei do projeto de Luciano Cartaxo.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

RC X Cássio: essa disputa permanece atual?

"(Cássio) está coberto por essa aura golpista contra a presidente eleita e quer também derrubar um governador eleito. Mas ele vai ter que esperar quatro anos e vai apanhar de novo”.

A frase acima foi dita ontem (24/08) pelo governador Ricardo Coutinho em entrevista à imprensa durante solenidade de entrega da reforma e ampliação da Escola Estadual Mestre Sivuca.

RC se referia ao senador Cássio Cunha Lima e às esperanças cultivadas, tanto pelo atual líder da oposição no Senado como por boa parte dos seus seguidores na Paraíba, de retornar ao governo pelas mãos não do povo, mas de juízes da justiça eleitoral.

2018?

Mas, há algo que as palavras de Ricardo Coutinho não expressam com clareza e que só vão ficar mais claras na medida em que 2018 entrar em pauta.

Quando RC diz que Cássio terá de esperar, o governador parece indicar que não apenas planeja derrotar o tucano, mas vencê-lo em 2018.

Essas duas alternativas só parecem complementares, mas não são iguais, porque derrotar Cássio não é o principal objetivo do governador. RC não age com o fígado e é estratégia pura.

A primeira questão é que RC chama Cássio para a disputa, tentando escolher novamente o adversário, e um adversário que ele pode novamente vencer. Coutinho mais do que ninguém sabe que antagonizar com Cássio mantem o conteúdo político das disputas eleitorais iniciadas em 2010.

E ninguém hoje representa melhor as características da velha política derrotadas nas duas últimas eleições do que o herdeiro dileto dos Cunha Lima.

Eu diria mesmo que RC anseia por uma nova candidatura de Cássio, mas ela não dependerá exclusivamente da vontade do tucano. A candidatura de Cássio em 2018 dependerá de três variáveis, não necessariamente na ordem a seguir:

1) a disputa em Campina Grande no próximo ano; 2) a sucessão presidencial e a montagem dos palanques tucanos nos estados, especialmente no Nordeste; 3) a evolução da avaliação do governo Ricardo Coutinho nos próximos três anos.

Vencer em Campina, sem dúvida, dará sobrevida ao projeto cassista. Uma derrota será um desastre, e isso pode significar que em 2018 Cássio pode ser obrigado a lançar-se candidato a governador para colaborar com a chapa presidencial tucana. É óbvio que Cássio vai tentar evitar isso a qualquer custo. Restaria a ele a disputa para o Senado, mas na chapa de quem?

Quanto a terceira variável, é preciso antes dizer que eu tenho percebido um erro de avaliação comum sobre o futuro político de Ricardo Coutinho, especialmente a respeito de nomes para sucedê-lo.

Nome se constrói.

O importante mesmo será Ricardo Coutinho manter e ampliar a boa avaliação do seu governo. Com isso, ele pode almejar a escolha de um sucessor que seja expressão legítima do projeto político por ele liderado, sem que necessariamente seja uma liderança política reconhecida – João Azevedo é um exemplo disso?

No campo ricardista, que inclui hoje o PMDB, não há lideranças com capacidade de aglutinar e gerar expectativas de vitória.

Veneziano claramente age para recuperar a força que já ostentou, prejudicada claramente depois que saiu da prefeitura de Campina. Mesmo eleito prefeito da Rainha da Borborema, em 2016, Vené terá apenas um ano e três meses de administração e, claro, não cometerá a loucura de sair da prefeitura para embarcar em uma aventura.

E Veneziano é o nome do PMDB que o partido dispõe para tentar recuperar no futuro o governo do estado, e esse não é um projeto de curto prazo.

Por isso, apostar na consolidação da aliança com o governador Ricardo Coutinho pode ser mesmo a alternativa política que resta ao PMDB. Resta saber se José Maranhão terá essa compreensão ou se preferirá o ziguezague político próprio dos agrupamentos sem projeto.

Fora Ricardo e Cássio não há muitos nomes disponíveis no mercado, exceção feita ao do prefeito pessoense Luciano Cartaxo, que ainda terá de passar pela prova de fogo de 2016.


Bom, essa é uma outra história que merece uma análise à parte.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

FHC lança isca para atrair o PMDB e manter crise

Postagem de FHC

Na última segunda, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso publicou em sua página no Facebook uma enigmática postagem.

Entre outras coisas, FHC defendeu que o governo petista “é ilegítimo” e sem “base moral” para continuar governando, contaminado que está pelas “falcatruas do lulopetismo” e pelos “malfeitos de seu patrono” – quem será? – restando a presidenta o “gesto de grandeza da renúncia”.

Ainda na tarde de segunda, eu publiquei um breve comentário também no Facebook:

“FHC pede a renúncia de Dilma depois de afirmar que ela é uma mulher 'honrada'. Anotem aí: FHC quer agora inviabilizar a recomposição de Dilma com o PMDB acenando para Michel Temer. Essa recomposição pode dar estabilidade política ao país e criar as condições para uma recuperação econômica. E com uma possível candidatura de Lula, em aliança com o PMDB e com um programa mais liberalizante e, portanto, mais palatável para os bancos e o empresariado interno e externo, pode representar uma grave ameaça ao projeto do tucanato paulista.

É bom não esquecer que o PSDB de Aécio Neves abandonou a proposta de impeachment depois que Temer disse que o Brasil precisava de alguém para uni-lo. Foi um recado e tanto. Enfim, o que FHC deseja é evitar que se refaça a aliança PT-PMDB.

Mais uma vez e cada vez mais o PT e Dilma dependem do velho PMDB de guerra.”

Essa postagem foi motivada pela divulgação de um experimentado jornalista, como o blogueiro Rodrigo Viana, do Escrevinhador, também publicada na tarde de segunda, para quem a manifestação de FHC tratava-se de “um duplo recado: para Aécio Neves, em primeiro lugar; mas também para a direita que está nas ruas.”

Pois bem. Um dos porta-vozes do tucanato na grande imprensa, o colunista dO Globo, da Globo News e da CBN, Merval Pereira, tratou dessa questão em sua coluna de hoje e revelou os meandros do mistério.

Sob o título “FH organiza o PSDB”, Merval diz que com a “clareada” do texto de FHC o PSDB não apenas se unificou a “favor da saída da presidente Dilma”, como não mais reivindica para si “o protagonismo para uma eventual ação de impeachment” e “garante respaldo político ao sucessor caso o impeachment seja aprovado”, ou seja, a Michel Temer.

Ele lembra um fato óbvio que impedia que PSDB e PMDB compartilhassem a mesma estratégia era nada mais nada menos que Aécio Neves, cujo projeto só tinha viabilidade se toda a chapa fosse impugnada pelo TSE, com a ascensão de Eduardo Cunha a presidência e a convocação de uma nova eleição, dois gravíssimos inconvenientes, segundo Merval.

Ao que parece, FHC sentiu o alcance da conciliação que representa a Agenda Brasil, especialmente no meio empresarial, e a reunificação da base parlamentar do governo em torno do PMDB.

Essa estratégia deixa clara que, mesmo ao custo de ser chamado de irresponsável, a estratégia de FHC deixa claro que não interessa ao PSDB a instabilidade política e econômica. E mais ainda do quanto ele teme a volta de Lula.


Enfim, FHC lançou a isca e Merval Pereira tenta torna-la apetitosa. Resta saber se Michel Temer pretende abocanhá-la.

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

A "peemedebização" do governo Dilma


Não foi por acaso que a iniciativa da apresentação da Agenda Brasil foi feita via Renan Calheiros e o Senado. A intenção é fortalecer o Presidente do Senado não apenas como interlocutor privilegiado do governo, mas como alguém que tem responsabilidade política e institucional.

Renan já foi escolhido e aceitou o papel para ser o anti-Eduardo Cunha, o Presidente da Câmara que, de uma hora para outra, virou pó porque não soube entender o mecanismo de funcionamento histórico a respeito de como são promovidas as grandes mudanças no Brasil, assunto que, aliás, Lula é um grande mestre.

O método sempre teve por princípio evitar os grandes enfrentamentos, cujo desfecho, especialmente nesse caso, tem sempre um quê de imprevisibilidade.

Eduardo Cunha foi sempre estimulado pela grande mídia a enfrentar Dilma e o PT, mas sempre foi mantido na rédea curta. 

Mesmo antes do acordo pretendido ser anunciado, Eduardo Cunha fá havia sido devidamente rifado e espera apenas que o Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, não sem um certo prazer, emparedar Cunha, que deve ser afastado da Presidência da Câmara para que a nova ordem se estabeleça sem muitos sobressaltos.

Notem que o clima já mudou também no TCU, outro espaço onde o “golpe” prosperava: ontem, Dilma ganhou mais 15 dias para se “explicar”. Alguém tem dúvida que lá também Dilma se salvou?

Até mesmo os vazamentos da Lava Jato deram um tempo – sem a audiência da Globo e Folha o delegados aecistas ficam sem palanque.

Restará o último bastião do aecismo, que é o TSE, o último recurso para que “novas eleições” sejam realizadas. Como Gilmar Mendes sempre foi mais obediente a FHC e à Globo, o futuro da chapa Dilma-Temer estará assegurado por lá também.

Resta observar as implicações políticas da incorporação da Agenda Brasil por Dilma.

A peemedebização do governo Dilma

Logo após a eleição de 2014 numa entrevista que ganhou notoriedade ao Manhattan Connection, da Globo News, porque, entre outras coisas, ajudou a desfazer um velho preconceito em relação aos votos dos mais pobres no Brasil pós-Lula, o cientista político Alberto Carlos Almeida, autor do livro A Cabeça do Brasileiro, chamou a atenção para o papel do PMDB na política brasileira.

Na ocasião, Almeida comparou o Brasil com a América Latina radicalizada politicamente, em especial a Argentina. 

Segundo ele, falta à Argentina um partido como o PMDB, que é, desde 1985, o principal fiador, vamos chamar assim, da estabilidade política no Brasil e que, gestão a gestão, vem permitindo a governabilidade.

O que não acontece na Argentina desde 1930, onde só presidentes peronistas conseguiram concluir seus mandatos até hoje.

Depois do impeachment de Collor – governo do qual o PMDB não participou formalmente, diga-se de passagem – o PMDB foi peça-chave nos governos FHC, Lula e Dilma.

E quando ameaçou ir para a oposição contra Dilma, foi um fator decisivo de instabilidade política que deu asas aos que um dia sonharam com o impeachment da atual presidenta.

Vê-se agora porque a opção para o enfrentamento da crise política nunca foram mobilização das ruas.

Lula ameaçava, mas continuou a “aconselhar” Dilma a uma reaproximação com o PMDB. Até que o “ponto ótimo” fosse atingido.

E será o PMDB novamente o partido que, reaglutinado em torno de Renan Calheiros e Michel Temer – é bom ninguém esquecer o vice-presidente, que certamente foi decisivo ao não estimular a radicalização golpista – quem desempenhará novamente o papel que promoverá a estabilidade política ao país, depois de quase 10 meses de uma confusão que nos aproximou muito de uma grave crise institucional.

No entanto, é bom observar o que se segue: o PMDB certamente tem sido determinante para a estabilidade política no Brasil, mas a um custo político muito alto por conta de sua marca predominantemente conservadora.

É um erro, portanto, pensar que o PMDB é movido apenas pelo fisiologismo.
Não foi apenas o PMDB a ser decisivo para impedir que determinadas políticas de viés mais transformador, como reforma agrária e reforma política, por exemplo, prosperassem durante os governos petistas, cujas bases parlamentares eram um verdadeiro samba-d0-criolo-doido ideológico. 

Ainda hoje é assim.

Mas, pelo peso que sempre ocupou nas bancadas de sustentação, certamente o PMDB foi decisivo para manter os governos petistas “nos eixos”.

Por isso, mesmo sendo a “Geni” da política brasileira, o PMDB, cuja formação predominantemente é de centro, e mesmo que comporte até políticos de esquerda, como Roberto Requião, continua sendo essencial ao conservadorismo no país.

Enfim, diante da fragilidade do governo Dilma, o PMDB terá um papel cada vez mais decisivo para levar o governo à frente e concluí-lo em 2018, encarcerado no conservadorismo do PMDB.

E mesmo que a tal “Agenda Brasil” não seja totalmente aprovada e posta em execução – ela não foi elaborada para isso mesmo porque, em toda negociação, os bons negociadores pedem o máximo para conseguirem o possível*, – o governo Dilma perde as condições para criar um novo ciclo de crescimento suficientemente forte para arrancar-lhe da inação política.

É o fim do ciclo do PT.

PMDB e PT

Essa situação deve promover uma reacomodação de forças internas no PT. Muita gente deve abandonar o partido até 2018. 

É bem provável que um novo partido deva nascer dessa crise, talvez um partido-frente de centro-esquerda que consiga acomodar os insatisfeitos com a saída negociada para a crise, dentro e fora do PT.

Mesmo assim, Dilma e Lula conseguirão manter o PT com alguma força política e eleitoral. E a possível candidatura de Lula deve sirvir principalmente para isso.

O certo é que, nessa situação, o petismo que não rejeita o PMDB, normalmente que tem os peemedebistas com adversários nos seus estados, como Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, só para citar dois exemplo, ganhará força no PT e essa aliança pode ser consolidada em alguns estados.

A Paraíba pode ser um deles. 

Mesmo sem muito tempo para curar as feridas abertas desde 2010, aprofundadas em 2012 e 2014, se o PT paraibano, leia-se Luciano Cartaxo, for habilidoso o suficiente pode disputar com o PSB o apoio do PMDB, em 2016, especialmente se tiver visão estratégica, de médio e longo prazos, que é o que falta muito ao partido.

As condições vão amadurecer ainda, mas é preciso se preparar para elas.


*  Essa lógica, claro, não inclui setores do sindicalismo do serviço público federal, especialmente a Andes.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

A pax do mercado: as propostas do empresariado para salvar Dilma


Eis que finalmente sabemos o formato da espada que nesses últimos meses lentamente desceu em direção ao pescoço da presidenta Dilma Rousseff.

O tamanho da ameaça foi apresentado hoje pelas mãos do ministro Joaquim Levy e do Presidente do Senado, Renan Calheiros, e é agrupado num conjunto de propostas a ser aplicado em várias áreas de grande interesse do empresariado, brasileiro e estrangeiro (veja ler as propostas clique aqui).

Essa é a senha definitiva para o fim da crise, a solução perfeita para um conflito que se desenvolveu como uma grande ameaça até que, visivelmente fragilizada, Dilma não tivesse condições de dizer não. 

Eis os prováveis motivos para a antecipação do recuo do Financial Times, da Bloomberg, da Globo e da Folha. São os termos de uma rendição que Dilma, antecipando-se, já declara que "coincidem plenamente" com o que o governo pensa para superar a crise "a agenda positiva para o país".

"Muitas das propostas do presidente Renan coincidem plenamente com as nossas. São propostas muito bem-vindas. Queria até dizer que, para nós, a melhor relação possível do Executivo com o Legislativo... então nós olhamos essas 27 propostas com grande interesse e valorizamos muito a presença delas", disse a presidenta logo depois da divulgação das propostas. (Clique aqui)

É a pax do mercado.

No fim das contas, como eu sempre disse, nunca se vislumbrou com seriedade a proposta de impedir a continuidade do mandato de Dilma, mas de fazer com que ela sangrasse até que não restasse outra alternativa a não ser adotar o programa derrotado na urnas no ano passado que, claro, não será cobrado como uma logro ao que foi dito durante a campanha.

Será o fim melancólico do "ciclo do PT" que, incapaz de enfrentar o adversário, será obrigado a se render e empunhar as bandeiras contra as quais se defrontou e derrotou nas urnas?

É o que veremos nas próximas semanas.

As propostas

Selecionei algumas propostas para alguns breves comentários. Algumas delas ainda serão desenvolvidas, o que já mostra o seu caráter polêmico.

Vamos a elas:

1) Segurança jurídica dos contratos: blindar as legislações de contratos contra surpresas e mudanças repentinas.

Essa conversa é velha e vem dos tempos de FHC. Trata-se de assegurar todo tipo de proteção para os super-lucros das empresas, principalmente estrangeiras, que se preparam para entrar com força no mercado brasileiro, especialmente na área de infraestrutura.Quem quiser ter uma ideia do que se trata, leia os contratos que regulamentaram as privatizações, por exemplo, do setor elétrico.

2) Aperfeiçoar marco regulatório das concessões, para ampliar investimentos em infraestrutura e favorecer os investimentos do Programa de Investimentos em Logística do Governo (PIL).

Concessões, leia-se, maior participação da iniciativa privada em setores antes controlados ou com predominante atuação do Estado. O governo Dilma já entregou os aeroportos (lucrativos) e rodovias (do centro-sul) para as grandes empresas administrarem.

3) terceirização (menos radical) e novo marco jurídico para o setor de mineração ("como forma de atrair investimentos produtivos") e para áreas indígenas ("compatibilizá-las com as atividades produtivas").

É a  pauta que Eduardo Cunha destravou na Câmara, com floreios "regulatórios". Enfim, a expansão da mineração vai ditar o ritmo da organização territorial em determinadas áreas do país, especialmente na Amazônia.

4) Revisão da legislação de licenciamento de investimentos na zona costeira, áreas naturais protegidas e cidades históricas, como forma de incentivar novos investimentos produtivos.

Toda legislação que protege, hoje, minimamente essas áreas do avanço do mercado de hotelaria e todo tipo de empreendimento turístico estará em perigo. Vamos nos cuidar para não virarmos um Caribe.

O Estado

Além dessas questões, que atendem a interesses empresariais em diversos setores, existem as que implicarão em um reordenamento do Estado, também nessa direção da "flexibilização", mas atendendo às exigências, especialmente do setor financeiro, de "economicidade".

Fala-se, de maneira genérica, em "implantar a Instituição Fiscal Independente". O que vem a ser isso? Independente de quem? Do Estado? Dos poderes constituídos? Que atue para atingir que objetivos em termos de arrecadação?

Pretende-se que o Estado venda "ativos patrimoniais (terrenos de Marinha, edificações militares obsoletas e outros ativos imobiliários da União" certamente para entregá-los a empresários do setor de hotelaria e turismo. Vamos raspar o tacho aqui.

Sem que também fique claro do que realmente seja, pretende-se "aprovar a Lei de Responsabilidade das Estatais, com vistas à maior transparência e profissionalização dessas empresas". 

Notem que a ideia de "transparência" aparece junto da de "profissionalização", que, no jargão do mercado, vem a ser uma atuação das estatais distantes de qualquer projeto nacional de desenvolvimento, o que pode representar um retrocesso em relação ao que Lula começou a desenvolver em seu segundo mandato, e que promoveu, entre outras coisas, o renascimento da indústria naval. 

Fala-se em "maior desvinculação da receita orçamentária" para dar "maior flexibilidade ao gasto público". Isso me cheira um retorno à antiga DRU (Desvinculação das Receitas da União) de FHC, que permitiu ao governo de então mexer em gastos com percentuais constitucionalmente estabelecidos, como educação e saúde, com o objetivo de fazer caixa para pagamento de dívidas a bancos e "investidores", o tal "superávit primário.

Existem outros contrabandos, como "ampliar idade mínima para aposentadoria" e o aperfeiçoamento - sabe-se lá o que essa turma entende por isso - do "marco jurídico e o modelo de financiamento da saúde", mas a intenção parece clara: pretende-se que o Estado proíba o financiamento de tratamentos "experimentais onerosos" obtidos hoje através de liminares na justiça, o que vai representar o fim de qualquer esperança de sobrevivência para muita gente vitimada por doença grave, como certos tipos de câncer - menos aqueles que podem pagar por eles, a exemplo dos que elaboraram essa proposta.

No casa de "Avaliar possibilidade de cobrança diferenciada de procedimentos do SUS por faixa de renda" isso pode significar um sério flanco para permitir a cobrança de procedimentos pelo SUS, o que fortaleceria ainda mais a saúde privada. Os mais ricos  hoje só fazem uso do SUS para procedimentos (caros) não cobertos pelos planos de saúde. Isso incluirá os tratamentos contra AIDS, que hoje são gratuitos?

Para suavizar e deixar uma janela aberta por onde muita gente ligada ao petismo já entrou para abraçar a proposta, foi incluída a proposta de "Revisar resolução do Senado que regula o imposto sobre heranças, sobretudo quanto ao teto da alíquota, levando-se em conta as experiências internacionais (convergir com média mundial – 25%)".

E o imposto sobre grandes fortunas, que nunca foi regulamentado, mesmo sendo uma determinação constitucional?

Enfim, essa é agenda que já está sobre a mesa de Dilma e representa o salvo-conduto que os empresários apresentaram contra o impeachment. Chegamos na política o que os economistas liberais chama de "ponto ótimo", ou ponto de equilíbrio para que tudo volte à "normalidade".

Será esse o preço da democracia?

terça-feira, 4 de agosto de 2015

O jogo de Cartaxo


Em um diálogo recente com um amigo de Facebook a respeito do estilo dos principais contendores da política paraibana atualmente (Ricardo Coutinho e Luciano Cartaxo), eu tentei comparar seus movimentos com uma partida de xadrez, comparação bastante comum, aliás, quando o assunto é política.

Escrevi eu na ocasião:

“As peças começam a ser movimentadas no tabuleiro. Por estilo, Ricardo Coutinho nunca deixa a ofensiva para o adversário. RC às vezes se dispõe até a sacrificar peças para fazer avançar sua estratégia. Enquanto Cartaxo é mais conservador e prepara suas peças para a defesa, protegendo ao máximo o rei. Ele é um sobrevivente na política e põe em movimento um estilo de quem sempre espera por um erro do adversário, apostando no acirramento da disputa mais à frente, quando o jogo realmente se decide. A questão é que Cartaxo está diante de um estrategista experimentado (Ricardo Coutinho) que parece não saber jogar na defensiva, e que não recua nem mesmo quando todos os indícios apontam para uma clara possibilidade de derrota. À exceção da eleição de 2012, esse estilo de RC tem dado certo.”

Deixando de lado a metáforas de enxadristas, é isso que temos visto. Desde 2013 até junho de 2014, quando foi anunciada a aliança PT-PSB, Ricardo Coutinho vem fustigando Luciano Cartaxo, o que aconteceu em várias ocasiões.

Especialmente a partir do início do ano, quando o clima político se acirrou de vez no país e na Paraíba, Luciano Cartaxo vem sendo cobrado indiretamente por Ricardo Coutinho por conta do seu envolvimento quase nulo na defesa do mandato de Dilma Rousseff.

A motivação tem um duplo sentido: um, afastar Cartaxo tanto da base social petista e constranger o prefeito em razão da proximidade com os tucanos pessoenses, de quem o prefeito recebe apoio; dois, ocupar um espaço que se encontra vazio de lideranças corajosas o suficiente para enfrentar esse duro embate político.

Com esse discurso, RC conquistou a liderança entre os governadores nordestinos e é, hoje, um dos principais interlocutores do governo federal na região. Há muito, muito espaço ainda a ser conquistado.

Nesse percurso, Coutinho foi aos pouco criando justificativas para o rompimento de uma aliança que, se foi importante para a vitória de 2014, não se pode afirmar que tenha sido decisiva, assim como eu sempre considerei a aliança de RC com Cássio, em 2010.

E se o fim da aliança PT-PSB realmente acontecer, como tudo indica, hoje, não representará sequer uma quebra de acordo, já que 2016 não entrou em discussão quando o acordo de 2014 foi fechado.

Cartaxo também joga

E deixou de entrar não por conta de qualquer ingenuidade de Luciano Cartaxo. Para entender isso, é preciso considerar os objetivos de longo prazo do petista.

Caso o apoio de Ricardo Coutinho à reeleição de Cartaxo tivesse sido antecipado em 2014, é quase certo que também seria incluída ali a exigência do PSB de indicar o candidato a vice, coisa que Cartaxo ainda hoje sequer aceita discutir.

E por uma razão muito simples: só Cartaxo tem o poder de ditar o ritmo da disputa porque só ele dispõe da iniciativa política e administrativa de sua gestão, que será julgada em outubro de 2016. 

Da mesma maneira que RC fez no governo do estado, Cartaxo poderá fazer na Prefeitura de João Pessoa. É um poder e tanto, não é mesmo?

Isso significa estabelecer prazos para entregar obras, agir em pontos estratégicos da cidade, conquistar apoios. Não esqueçamos que Cartaxo tem o apoio de 23 dos 25 vereadores pessoenses.

Por isso, Cartaxo só abrirá mão da vice – para o PSB ou para qualquer outro partido – quando tiver clareza do seu exato tamanho em 2016, o que ainda está distante de acontecer. E essa é uma carta na manga que ele não está disposto a perder.

O que, claro, não significa desconsiderar os erros que podem ser cometidos por parte do petista, e alguns já aconteceram, como já apontamos por aqui.

RC age e discursa hoje para construir uma imagem para associá-la ao seu futuro candidato, e o faz com a competência de sempre. O problema é que não será ele o candidato, apesar da capacidade de transferir votos ser algo que sempre dependerá da campanha.

Aliás, até agora ninguém sabe quem representará o PSB na disputa, apesar de que, depois da entrevista que o governador concedeu ontem ao Conexão Master, a possibilidade de ser novamente Estela Bezerra cresceu bastante na minha bolsa de apostas.

Enfim, Cartaxo continua na defensiva, o que é certamente parte de uma estratégia. Pode ser que no final, com o tabuleiro mais vazio, ele inicie uma ofensiva na hora que considerar certa. E essa hora vai chegar.


E é bom ninguém subestimá-lo.