domingo, 17 de maio de 2015

RC DÁ MAIS UM PASSO

Ricardo Coutinho avançou um passo na construção do discurso que pode – pode – resultar mais à frente no anuncio do rompimento da aliança PSB-PT. 

Instado a falar do acordo com o Partido dos Trabalhadores em 2016, RC não apenas afirmou não ter nenhum compromisso firmado no apoio à reeleição de Luciano Cartaxo como disse que a fatura pelo decisivo apoio dado pelo PT, em 2014, já havia sido paga durante a própria campanha, quando Lucélio Cartaxo teve sua candidatura impulsionada por todo o estado no rastro da campanha do governador. 

Se isso não fosse bastante, Coutinho cobrou apoio do PT na assembleia, já que o partido compõe o governo, mas seus deputados, especialmente Frei Anastácio, agem como se fossem de oposição. 

Como eu registrei aqui no Jornal da Paraíba quando tratei do apoio de Anísio Maia à CPI do Empreender, essa postura um dia seria cobrada por RC. E se o PT não enquadrar urgentemente seus deputados, RC consolida cada vez mais um discurso para justificar um futuro rompimento.

A lembrança do governador Ricardo Coutinho nos permite entender duas posições que o PSB tomou em relação ao governo petista da Capital: não participar da administração Cartaxo indicando nomes para o secretariado e liberar seus parlamentares na Câmara de Vereadores, onde um deles é de oposição. 

RC sabia, por um lado, que dificilmente contaria com a unidade da bancada petista no apoio ao seu governo na Assembleia Legislativa; por outro, contava que o PT indicasse nomes para compor seu governo, o que realmente se efetivou. 

Diferente do PSB, que não tem unidade interna em relação ao governo da capital e, portanto, não participa do governo. 

Enfim, peças aparentemente desconexas começam a se encaixar permitindo que Ricardo Coutinho, quando resolver o dilema sobre se lança candidato à Prefeitura

sexta-feira, 15 de maio de 2015

A VIOLÊNCIA DA BOATARIA

Antes de qualquer coisa, vamos fazer uma distinção que eu considero necessária: uma coisa é a violência como um fato cada vez mais alarmante da vida contemporânea, outra é a percepção que nós temos dela, o medo, o pânico que ela pode causar a nós e aos mais próximos.

Lembro-me de um tempo em que o Rio de Janeiro passou a ser associado de tal maneira à violência que qualquer brasileiro não residente na Cidade Maravilhosa tinha dificuldades de entender como os seus moradores conseguiam aguentar a pressão daquele terror cotidiano, porque parecia que o Rio nada mais era do que um espaço de violência, uma cidade vivendo em plena guerra civil.

Por quê? Porque a percepção que se tinha da violência era muito, muito maior do ela própria.

E agora em tempos de internet e redes sociais, onde boatos, nascidos não se sabe onde, tornam-se “verdades” num passe de mágica, criar pânico está se tornando quase um fato banal.

Em novembro de 2013, por exemplo, depois que foi difundido pelo Whatsapp que traficantes haviam determinado um toque de recolher nas imediações do Bairro São José, que fica nas proximidades de Manaíra e do Shopping que tem o mesmo nome, por conta de um possível assassinato de um dos seus chefes, criou-se um alvoroço tal que em questão de horas quase toda João Pessoa se viu envolvida pelo pânico.

Campina e os boatos

Ontem, Campina Grande viveu um dia semelhante. Depois de dois ataques a ônibus, que resultou na destruição completa de um deles através de fogo deliberadamente ateado, uma onda de boatos sobre a violência que se alastrava percorreu de tal modo toda a cidade através das redes sociais que levaram à suspensão de aulas em colégios e até na Universidade Estadual da Paraíba.

Vejam bem: uma universidade suspendeu as aulas por conta de um boato.

A questão que se impõem nesse momento é: se não foi uma ação deliberada, como insinuou Célio Alves, secretário adjunto de Comunicação do estado, atribuindo os boatos a partidários do Senador Cássio Cunha Lima, o que é de uma gravidade sem tamanho, foi uma ação orientada pela desinformação, o que também é grave e preocupante.

Como é que boatos podem se converter em fontes de informação para que decisões dessa gravidade sejam tomadas e ganhem a legitimação de órgãos do Estado?

A questão ganha outros contornos fundamentais quando o assunto é a parte que cada um tem a desempenhar no combate à violência.

Ao suspender as aulas, a UEPB dá sua contribuição a que o pânico se imponha, o que é um incentivo a traficantes continuarem a “tocar o terror”. Ora, se boatos levam a instituição a suspender as aulas, o que acontecerá quando a ameaça for verdadeira?

O mesmo se pode dizer sobre quem eventualmente procura tirar proveito político desses boatos, criando-os e ajudando-os a se espalharem.

Enfim, recomenda-se que decisões como essas sejam tomadas em consonância com as instituições do Estado e pensando na educação da sociedade, numa pedagogia para o enfrentamento da violência.

Cássio e as responsabilidades pela violência na Paraíba

Nesse mesmo dia, o senador Cássio Cunha Lima subiu à tribuna do Senado para falar de violência na Paraíba.

Tinha nas mãos o relatório da pesquisa realizada pelo Fórum Brasileiro da Segurança Pública sobre violência e as informações do que ocorria em Campina Grande na cabeça.

Falou da “falência do sistema de segurança pública” da Paraíba e dos dados que colocam o estado em lugar de destaque nesse triste ranking.

Realmente, é verdade que a Paraíba sofreu um duro e grave revés entre os anos 2002 e 2012 quando o assunto é segurança pública.

Também é verdade que, ao nos depararmos com os dados dessa publicação, e para sermos justos, nos dois únicos anos que se referem ao governo Ricardo Coutinho o que se observa é uma redução, e não o aumento da violência, especialmente quando o assunto se refere à taxa de óbitos por armas de fogo.

Em 2011, foram assassinadas 1.403 (taxa de 37 por 100 mil habitantes), enquanto que em 2013 foram 1.260, o que significou uma redução da taxa para 33/100 mil habitantes ou 10,2%.

Os números que realmente que me impressionaram, contudo, foram aqueles que mostram a evolução das taxas de homicídios na Paraíba, ou seja, como chegamos a esses trágicos índices.

E nisso o senador Cássio Cunha Lima, ao invés de apontar o dedo, teria muito o que explicar não fosse ele o principal responsável por esse verdadeiro desastre humanitário que vivemos.

No último ano do governo José Maranhão/Roberto Paulino (2002) foram registrados 451 homicídios na Paraíba (taxa de 12 por 100 mil habitantes).

Quando Cássio deixou o governo, em 2009, os homicídios haviam atingido os 1043 por ano, o que representava uma taxa de 27,8/100 mil. Ou seja, em apenas seis anos, os assassinatos com armas de fogo na Paraíba cresceram 130%! E continuaram em crescimento até 2012, quando houve a primeira redução em dez anos.

Por mais que seja expressão de insensibilidade olhar para essa realidade apenas como “dados”, “números” – um professor meu dizia que o maior problema das estatísticas é quando nós passamos a fazer parte delas, – ela está aí, senão a desdizer por completo discursos como os de Cássio, que procura se apresentar como não tivesse responsabilidade alguma com eles, mas a mostrar o tamanho do nosso drama e o quanto ele é real.

Não cabe ao governo subestimá-los ou procurar converter toda crítica em ação política. Mais do que qualquer coisa, esses dados nos enfeiam.

Enfeiam-nos, mas nos revelam, porque enquanto eles majoritariamente acontecerem nas periferias de grandes cidades como João Pessoa e Campina Grande, serão apenas números a serem manipulados pelo interesse circunstancial da política.

Mas, infelizmente, eles são muito mais do que isso.

*Coluna publicada no Jornal da Paraíba de sexta (15/05/2015)

quinta-feira, 7 de maio de 2015

BENJAMIN E O ALMOÇO DE 1500 REAIS

Sobretudo depois dos avanços verificados nos últimos anos, quando assistimos a combinação de leis que tem tornado a transparência uma exigência para o bom funcionamento da administração pública com os meios que facilitam o acesso a essas informações, impressiona como muitos políticos ainda se desgastam de maneira desnecessária. 

Eu poderia escrever “por pouca coisa”, mas, nos casos que tratarei a seguir, isso pode soar como um acinte para a grande maioria que labuta o mês inteiro e é obrigada a sobreviver com um salário mínimo.

Na última terça (06), no site Congresso em Foco, o ativista digital – assim ele se define – Lúcio Big tornou público que a Câmara dos Deputados teria pagado “R$ 1.495 por almoço de deputado”. 

A informação Big conseguiu na página de transparência da Câmara, onde estão disponíveis as prestações de contas dos deputados, nesse caso, de uma tal Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar (Ceap). 

A Ceap é um recurso que todo parlamentar federal tem direito para custear sua atividade parlamentar, e pode incluir o pagamento de passagens aéreas e outras despesas com deslocamentos, inclusive fretamento de aviões, contas de telefone, correios, gastos com escritórios de representação, consultorias e divulgação. 

Só no passado, segundo levantamento do Congresso em Foco, a Câmara gastou um total de R$ 753 milhões de reais com a Ceap. Cada deputado federal paraibano tem direito a 38.319,91 de cota, além de ajuda de custo, auxílio moradia, verba de gabinete para até 25 funcionários que pode chegar a R$ 78.000,00 e, claro, do salário de R$ 33.700,00, que não é justo que se trabalhe de graça nesse país. 

Na média, cada deputado federal custa R$ 147.659,96 mensais para os cofres públicos. É o custo da democracia, mesmo que seja o trabalhador que banque tudo isso para que deputados retribuam contando-lhes direitos, como no caso do PL da terceirização.

Pois bem. O deputado em questão, aquele que solicitou o reembolso de quase R$ 1.500,00 por um almoço, é o paraibano Benjamin Maranhão, do Solidariedade. A despesa teria sido realizada em um dos mais chiques restaurantes de Brasília no dia da posse do deputado, em 1º de fevereiro. 

Descoberta a despesa inusitada paga com dinheiro público, o jornalista Lúcio Big ligou para o gabinete do deputado e pediu esclarecimentos sobre o fato, sem ter obtido nenhuma resposta, o que levou Big a entrar em contato diretamente com a Câmara. 

Somente depois que publicou a denúncia em vídeo, a Casa presidida por Eduardo Cunha – que no início do ano, todos se lembram, prometeu passagem aérea de graça para as senhoras dos deputados federais matarem as saudades dos maridos em Brasília – retirou o recibo com a comprovação da despesa do ar e, no dia seguinte, respondeu que Benjamin Maranhão havia restituído à Câmara o valor pago indevidamente.

Em nota, o deputado repudiou a matéria por considera-la “tendenciosa”. Benjamin atribuiu o erro à sua assessoria por incluir “indevidamente a referida despesa no rol daquelas passíveis de ressarcimento”. Foi o próprio parlamentar que, segundo a nota, comunicou o fato à administração da Câmara e providenciou a “devolução imediata da quantia envolvida”. 

Ainda segundo Benjamin, isso foi feito não por conta da denúncia, mas porque ele acredita que assim deve “proceder todo cidadão que paute sua conduta baseado na decência e na ética.”

Cássio pagou jantar de R$ 7.500 e mandou a conta para o Senado

O caso envolvendo Benjamin Maranhão me fez lembrar de outro ocorrido não faz muito tempo envolvendo outro parlamentar da Paraíba. Em outubro de 2013, o Senador Cássio Cunha Lima foi denunciado pelo jornal o Estado de São Paulo em matéria intitulada “Congresso banca ‘hábito gourmet’ dos parlamentares”, por ter levado para jantar na churrascaria Porcão amigos e parentes. 

O hoje líder do PSDB no Senado pagou pela conta a bagatela de R$7.567,60 e depois pediu ressarcimento do valor ao Senado, no que foi prontamente atendido. Cássio à época se defendeu assim pelo twitter, sem deixar, claro, de fazer um autoelogio: “Sou um dos poucos que com total transparecia coloco na internet as notas fiscais de todas as despesas ressarcidas. 

Usei a verba indenizatória, uma única vez em refeição, para pagar o jantar no dia da sessão especial em homenagem ao Poeta.”

E lembrar que a imprensa provocou a demissão de um ministro porque o rapaz pagou tapiocas no valor de R$8,00 com cartã0 corporativo...

Lula e a panela de Pâmela

O ex-presidente Lula resolveu entrar na luta de peito aberto para evitar o colapso do PT e participou do programa partidário petista exibido na última terça à noite. 

Lula tenta liderar o reencontro do PT com a trajetória que levou o partido ao poder no Brasil e atacou diretamente o PL da Terceirização aprovado recentemente pela Câmara, com o decisivo apoio da bancada do PMDB que, como lembrou Cid Gomes, continua a agir como oposição sem largar o osso do governo. 

“Esse projeto faz o Brasil retornar ao que era no começo do século passado, voltar ao tempo em que o trabalhador era um cidadão de terceira classe, sem direitos, sem garantias, sem dignidade”, disse Lula, enquanto as panelas zoavam nos bairros de classe média, sem ter tido, porém, a repercussão alcançada no último “panelaço” ocorrido durante o pronunciamento de Dilma Rousseff no Dia Internacional da Mulher.

Uma das líderes do panelaço em João Pessoa foi a ex-primeira dama, Pamela Bório, que publicou em seu Instagram uma foto no exato momento em que surrava com vontade uma panela de alumínio. 

Na legenda: “A Pâmela e a panela” e em um dos tantos comentários, a hoje apresentadora da TV Tambaú mandava ver: “Amiga, fiquei rouca de tanto desabafar... #foralula #foraladrao. Tomara que eu amanheça com a voz boa para trabalhar.” Não é por acaso que uma das grandes amigas de Bório é Rachel Sheherazade.


quarta-feira, 6 de maio de 2015

RC VOLTOU A SER RC OU FOI SÓ UMA RECAÍDA?

O ex-governador Roberto Paulino confirmou ontem o seu rompimento com o governador Ricardo Coutinho. 

O motivo: as declarações dadas a rádios do Brejo durante o fim de semana que, entre outras coisas, deixavam claro que o governador entendia a resistência do deputado estadual Raniery Paulino em compor a bancada da situação na Assembleia como “autovalorização”. 

Em outras palavras, RC insinuou que o deputado fazia jogo de cena para encarecer o passe, que traz de volta uma agressividade desnecessária e deixa dúvida sobre se o estilo “paz e amor” adotado por RC nesses primeiros meses de governo tenha sido totalmente colocado de lado.

A resposta RC não recebeu de Raniery, mas de seu pai, Roberto Paulino que, ao que parece, não pensou duas vezes em assumir a defesa do filho para anunciar o rompimento, como é próprio daqueles que não aceitam engolir sapos para preservar proximidades com o poder. 

“É bom Ricardo saber que Raniery nunca quis ir para o Governo. Ele recebeu emissários, inclusive com propostas pouco republicanas, mas, sempre as refutou. O meu filho não procurou o Chefe do Executivo, nem está se valorizando,” respondeu ontem Roberto Paulino. 

A Paraíba espera saber que propostas “pouco republicanas” foram essas feitas a Raniery.

RC, Paulino e o PMDB

Esse talvez tenha sido o primeiro erro da bem trabalhada composição que RC faz para levar o PMDB não apenas para sua base de apoio, mas para compor seu projeto de poder no estado, cujo primeiro passo consistia em isolar os peemedebistas refratários a qualquer aproximação com Ricardo Coutinho, a exemplo do deputado federal Manoel Jr. 

Paulino não é um peemedebista qualquer. Paulino talvez seja, hoje, ao lado de José Maranhão, um dos poucos consensos no PMDB paraibano pela trajetória de lealdade ao partido, coisa rara na empobrecida política paraibana quando o assunto é fidelidade partidária. 

Na oposição ou no governo, Paulino nunca deixou margem para dúvidas a respeito de suas posições. Não fez nenhum movimento de aproximação com Ricardo Coutinho no comecinho do primeiro governo, como tentaram alguns deputados peemedebistas. 

Nem muito menos deixou-se seduzir pelo jogo que o cassismo tentou empreender para dividir o PMDB – tornou-se notória a ação de algumas lideranças peemedebistas para implodir a candidatura de Veneziano Vital e depois, durante a campanha, na adesão quase escancarada ao tucano, deixando o candidato do partido, Vital do Rego Filho, a ver navios. 

Em todos esses casos, Paulino permaneceu firme com o seu partido. Candidato a vice-governador na chapa peemedebista, seguiu o partido na decisão de apoiar Ricardo Coutinho no segundo turno, e foi decisivo ao transferir integralmente os votos obtidos em Guarabira para o governador-candidato.

O mesmo se pode dizer do filho, o hoje deputado estadual Raniery Paulino. Ainda que destoando do apoio que o pai ofereceu até a última segunda à noite ao projeto do governador Ricardo Coutinho, sempre o fez de maneira pública e transparente, mantendo a posição que orientou o seu mandato nos últimos quatro anos. 

E é bom lembrar que Raniery Paulino não votou em RC no segundo turno de 2014, preferindo a neutralidade, o que já era um claro indício do quanto ele se sentia constrangido com aquela nova posição do PMDB. 

Mas, o fato é que o afunilamento próprio da política paraibana iria impor, mais dia menos dia, uma aproximação de Raniery com o bloco ricardista. Era só uma questão de tempo. E tempo RC tem de sobra, já que conta hoje com folgada maioria na Assembleia.

Ao dar margem e discurso para o rompimento, RC perdeu o apoio de uma expressiva liderança regional, cujo apoio foi também decisivo para que RC conquistasse a vitória em 2014 em Guarabira. 

Lá, RC obteve no primeiro turno 9.773, contra 12.333 de Cássio Cunha Lima, e 5.577 de Vital do Rego Filho. No segundo, RC incorporou quase a soma exata da votação peemedebista no município, ultrapassando Cássio Cunha Lima com a votação de 15.317. 

Sem esquecer que em Guarabira, a média de votação de Vital (20%) foi quatro vezes superior a obtida por ele em toda a Paraíba (5,22%) e mais do que o dobro da obtida em Campina Grande (8,35%), sua terra natal.

Além disso, RC pode ter permitido que um grande óbice tenha se colocado entre ele e o projeto político que alimenta com o PMDB. E que o governador torça para que os Paulino não resolvam esticar a corda mais do que ela está esticada e exijam solidariedade do PMDB. 

Ou então, que desfaça o imbróglio com gestos de reaproximação. De qualquer maneira, o cassismo comemora e Zenóbio Toscano respira mais aliviado.

Fulgêncio e os “pleitos não atendidos”


O problema de um prefeito ou governador ter uma bancada de apoio numerosa no parlamento é que isso acaba criando inevitáveis problemas para a gestão política de sua administração. 

O desafio é “acomodar” todos os numerosos interesses envolvidos, sem que isso produza ganhos políticos, a não ser os relacionados à maioria parlamentar e as promessas de apoio partidário futuro. 

Ontem, o site de notícias MaisPB noticiou que      “alguns vereadores aliados estão insatisfeitos com o trabalho desempenhado pelo secretário de Articulação Política Adalberto Fulgêncio”. 

Segundo a matéria, as “insatisfações” têm a ver com “pleitos não atendidos”. Um recado nada sutil que, como bom entendedor, Fulgêncio já deve ter captado. Essa imagem de quem não cede às chantagens do parlamento Luciano Cartaxo não agregará à sua biografia nem à imagem de sua administração. 

terça-feira, 5 de maio de 2015

LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL, 15 ANOS DE...

A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) completou ontem 15 anos. Para alguns economistas e jornalistas, falar sobre ela é como um muçulmano falar sobre a Caaba: trata-se de um lugar sagrado que merece permanecer intocado para sempre. 

A LRF parte de um pressuposto aparentemente consensual, segundo o qual nenhum ente federativo, especialmente a União, deve gastar mais do que arrecada. 

Esse “equilíbrio das contas públicas” deve ser perseguido através do estabelecimento de metas que inibam o gasto público e para a qual, segundo consta no primeiro artigo da LRF, a “obediência a resultados entre receitas e despesas e a obediência a limites e condições no que tange a renúncia de receita, geração de despesas com pessoal, da seguridade social e outras”, existem pesadas penalidades ao gestor, que vão desde reclusão, cassação do mandato e inelegibilidade.

Poucas leis no Brasil são tão respeitadas pelos agentes públicos como a LRF. Um dos motivos é o rigor com que os Tribunais de Contas se empenham em fazer valer o “espírito” da lei, como talvez não façam em relação a qualquer outra, até mesmo a Constituição. 

Quantos governadores, por exemplo, deixaram de cumprir a exigência constitucional de aplicarem 25% do orçamento estadual em educação e 12% em saúde e mesmo assim escaparam de terem suas contas rejeitadas? 

Querem exemplos? Em 2008, as contas do então governador Cássio Cunha Lima foram aprovadas mesmo que os auditores do TCE tenham constado que o governo estadual investira apenas 23,09% e 9,6% em saúde. 

O TCE acabou aceitando a inclusão de gastos com saneamento básico e programa do leite, entre outros, na rubrica da saúde e aprovaram as contas. Mesmo no rumoroso caso das contas de 2011 do governo Ricardo Coutinho, também aprovadas pelo TCE, um dos conselheiros (Umberto Porto) anotou uma série de irregularidade, entre elas a aplicação em educação 24,57%, e votou contra a aprovação. 

A Paraíba não é um caso isolado. Em Minas Gerais o próprio TCE já chegou a assinar um Termo de Ajustamento de Gestão (TAG) com o Executivo que desobrigava o então governador, Antônio Anastasia, de cumprir a Constituição Federal quanto a investir os percentuais mínimos em saúde e educação. 

A TAG deu lugar a uma disputa judicial em que o governador chegou a conseguir derrubar uma liminar na justiça que, vejam só, tornava sem efeito o Termo.

Quem comemora a austeridade fiscal?

Quando o assunto é LRF, entretanto, os nossos “gestores” são muito mais obedientes, em grande medida porque a mídia é muito mais vigilante quando se trata de gasto público. Ninguém que ter a fama de gastador e descumpridor a LRF. 

O acompanhamento da aplicação dos orçamentos e das economias dos gastos mediante cortes no orçamento é quase um ritual no nosso jornalismo.
Com tudo isso desejo apenas chamar a atenção para um detalhe: o tratamento que se dá ao gasto público depende do destino que a ele é dado. 

Por exemplo: a Presidenta Dilma Rousseff foi ameaçada de ter cometido crime de responsabilidade porque o seu governo não repassou imediatamente à Caixa Econômica os valores referentes ao pagamento dos benefícios do Bolsa Família. 

O governo pretendeu “fazer caixa” para aumentar o superávit primário e melhorar as contas públicas, o que foi apelidado de “pedalada fiscal”. Como essa questão é regulada pela LRF, Dilma teria cometido um crime imperdoável. 

Vejam bem que a coisa é grave: um governo precisa fazer uma manobra fiscal, deixar de repassar recursos a bancos públicos apenas para, do ponto de vista puramente contábil, poder mostrar um “superávit primário” mais favorável. E sabem o que é superávit primário? 

E aquilo que o governo economiza na execução do orçamento, excluindo aí as suas dívidas. É por isso que, nesse campo, o governo resiste até a especulação política, mas tem ojeriza à especulação rentista.

Alguém aí pode perguntar: como estão as finanças públicas do Brasil depois de 15 anos de LRF? E a dívida pública? Segundo dados do Banco Central, a dívida pública bruta brasileira correspondia a 29,5% do PIB, em 1995, primeiro ano do governo Fernando Henrique. 

Em 2000, ano em que a LRF entrou em vigor, a dívida havia saltado para 49,8%. Dois anos depois, com LRF e tudo, a dívida pública brasileira havia saltado para incríveis 60,4% do PIB! 

Ou seja, mesmo com toda a economia de gastos feita no período, o endividamento brasileiro só aumentou – e nós estamos tratando aqui da dívida interna, aquela que é resultado de empréstimos que faz o governo no mercado financeiro, normalmente através da emissão de títulos. 

A dívida bruta deixou de crescer nos últimos doze anos, mas continua em patamares altíssimos – ela estava em 58,5% do PIB no final do ano passado. 

Só em 2014, o Brasil pagou 170 bilhões de Reais apenas com juros e encargos dessa dívida, o que representa 7,8% do Orçamento Geral da União executado em 2014, que foi de R$ 2,168 trilhões de Reais. 

E o ajuste fiscal, ou seja, cortes nos gastos públicos anunciados no início do ano pretende aprofundar ainda mais a economia, mesmo que isso represente piora na qualidade dos serviços públicos e na vida dos brasileiros, com ameaça de desemprego.

Vaccari tem patrimônio de 385 mil reais


Segundo noticiou ontem o jornalista Lauro Jardim, que trabalha na insuspeita revista Veja, o patrimônio de João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT, levantado pela Receita Federal é de R$ 385.059,88. 

Alguém dirá que o restante deve estar nas mãos de laranjas ou depositado no exterior. 

Vamos ver. Mas, o fato é que até agora, mesmo depois de ter sua vida virada do avesso, e a cunhada presa confundida com sua esposa, Vaccari não parece em nada com quem “roubou” ou ajudou a roubar os bilhões desviados da Petrobras. 

Todos os outros investigados – e premiados com as delações – só abriram o bico depois de descobertos seus milhões em patrimônio e contas no exterior. Foi só a PF “seguir o dinheiro”, como sugeriu Moro. 

No caso de Vacari, depois de mais de um ano de investigação, nada existe que o incrimine materialmente até agora foi apontado, apesar de já ter sido incriminado e pagar pena por isso. 

Pensando bem, comparando com o patrimônio de alguns políticos da Paraíba, Vacari é milionário. 

Publicado no Jornal da Paraíba de 05/05/2-15

segunda-feira, 4 de maio de 2015

MORGANINHA VAI ÀS RUAS (uma primeira incursão na crônica literária)


Morgana Beatriz, “Morganinha” como os pais e amigos mais próximos a chamavam, estava cada vez mais irritada com o que acontecia no Brasil. Irritada não seria o termo adequado para descrever esses sentimentos: Morganinha estava indignada, como ela gostava de se autoproclamar quando postava alguma mensagem no Facebook ou no Wathsapp sobre os descalabros que, segundo ela, os brasileiros estavam obrigados a aguentar do atual governo. 

Era a primeira vez que Morganinha experimentava sentimentos que não estavam relacionados exclusivamente a si própria ou à família. Política era um assunto que nunca a interessou e quando acontecia do professor de sociologia da faculdade particular em que estudava, um “comunista”, segundo sua apreciação a respeito do rapaz, introduzia assuntos políticos, Morganinha aproveitava para ligar o iphone e verificar suas mensagens.

Tudo mudara nos últimos meses, especialmente durante a última campanha eleitoral, quando não apenas descumprira a promessa de só tirar o título eleitoral quando fosse obrigada, depois que completasse 18 anos, como principiara a pedir votos, coisa que sempre deplorou. Morganinha adquirira uma repentina preocupação com “o” Brasil, que enxergava apenas como uma entidade geográfica, já que a preocupação com o país não se estendia ao “povo brasileiro”, que ela depreciava ferozmente. 

Como a jovem não estendia para si as qualificações que atribuía ao povo, é lícito presumir que ela não partilhava aquele sentimento de pertencimento. Povo eram aquelas com quem preferia não “misturar-se”, em qualquer ambiente que fosse. Não gostava do bloco das Muriçocas, por exemplo, porque achava muito “misturado” e tinha saudades dos carnavais fora de época quando podia brincar só ao lado dos seus. 

Certa vez em que ouviu a tia comentar que no condomínio onde morava proibiram as babás de entrarem nas piscinas, mesmo com os bebês que cuidavam, Morganinha perguntou com ar de incredulidade: – E permitiam antes?”

Na última vez que foi a Orlando e a Miami, seus parâmetros de cultura avançada, os problemas que antes enxergava no Brasil e em seu povo recrudesceram. Postou deslumbrada para os amigos imagens daquele mundo limpo e organizado. Morganinha só não gostou por completo daquela viagem porque na volta teve de aturar uma barulhenta família “de pessoas mal vestidas” que ia visitar, depois de décadas, os parentes no Nordeste. “É por essas e outras que se perde a alegria de viajar”, escreveu ela na legenda de uma foto, com a família ao fundo, obtida na simulação de um “self” dentro do avião. 

Eis uma faceta que odiava no seu Brasil. A mistura que, lastimava, começava a enxergar em outros lugares, antes exclusividade de sua classe social. Na volta do primeiro dia de aula na faculdade, Morganinha contou, com os olhos que aos poucos foram se enchendo de lágrimas, que em sua sala agora também estudava gente de “outro nível social” e que aquilo estava “parecendo uma escola pública”. Revoltada com esses fatos, pela primeira vez Morganinha passou a prestar a atenção para entender duas palavras cujo o significado desconhecia: “universalismo” e “meritocracia”. Morganinha passou a apreciar toda discussão em que pudesse atacar o governo, especialmente quando dela participava alguém que o defendesse. 

Um tema era recorrente nas conversas em mesas de bar e nos encontros sociais que a adolescente participava com frequência: a corrupção do governo.
Tudo isso era muito novo na vida de Morganinha, cujo nome herdara da avó paterna, uma senhora de 80 anos que ultimamente se animara a contar histórias sobre o que acontecera nos anos anteriores a 1964 e sua participação para evitar que o Brasil “caísse nas mãos dos comunistas”. No começo, Morganinha escutava a avó com ares de bocejo e esperava a primeira oportunidade para mudar de assunto. 

Agora, não. Nos últimos meses, a filha de Américo e Vanusa, ele dono de uma grande empresa de segurança e ela alta funcionária da Justiça, escutava as histórias da avó com entusiasmo e curiosidade. Era uma nova faceta que descobrira na avó, já que do passado que antes brotava das memórias de Dona Morgana raramente aparecia política, a não ser para relembrar as relações sociais com o círculo do poder político no estado. 

Morganinha, que não conhecia nada desses “tempos do ronca”, como ela desdenhava do passado que desconhecia por completo, achava particularmente interessantes as histórias que a avó tomara conhecimento pela boca do marido, o falecido Dr. Estavão, que morrera há 10 anos desembargador aposentado e conseguira a nomeação depois de 1964. D. Morgana desenterrava as memórias que o marido lhe confidenciara nos mais de 50 anos de convivência e que, especialmente depois do fim da ditadura, ele passou a desejar carregar para o túmulo.

Num domingo, em meio a cervejas e espumantes, antes de Morganinha sair com as amigas, o irmão e o namorado, Damaceninho, para mais uma manifestação contra o governo na praia, D. Morgana contou detalhes de como camponeses foram presos e assassinados logo após os militares assumirem o poder. Dasmaceninho, cuja alcunha era também parte da herança paterna, lembrou-se na mesma hora de uma postagem que lera e compartilhara no Facebook sobre o Movimento dos Sem Terra e disse em tom de galhofa: “Bons tempos! Bem que podiam voltar a fazer o mesmo com esses agitadores sem terra!”

– Vão embora! – disse a avó alegremente, levantando-se com esforço. – E façam por mim o que um dia eu já fiz pelo Brasil. Tirem essa corja do poder!


E todos brindaram ao Brasil antes de sair.