segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Desde 1986, quem vence em Campina Grande é eleito governador. Em 2014 será diferente?

Existe uma espécie de tradição nas eleições presidenciais americanas de que o candidato que vence no estado de Ohio acaba se tornando Presidente dos EUA, fato que é observável e se confirma das urnas eleição a eleição desde 1968.

A explicação mais aceita para esse fenômeno é que Ohio é uma espécie de mini EUA, a representar com alguma fidedignidade as características tanto econômica e demográficas do país inteiro.

Eu lembrei desse fato no último sábado quando li uma postagem no Facebook do colega do Departamento de História da UFPB, Jaldes Meneses, esposo da atual Secretária de Desenvolvimento Humano do governo estadual, Aparecida Ramos.

Jaldes ensaiou uma interpretação das últimas pesquisas que dão vantagem para o governador Ricardo Coutinho em João Pessoa e em toda Zona da Mata, além do Sertão, para concluir que “Nunca um candidato que venceu nestas três regiões deixou (João Pessoa, Zona da Mata e Sertão) de ser eleito governador.”

Eu só li a referida postagem no domingo, alertado por um ricardista que mencionara essa postagem para defender o favoritismo de RC nas eleições de 2014.

Não precisei puxar muito pela memória para dizer, sem consulta prévia aos dados eleitorais do TRE-PB, que em 2002 e 2006 Cássio perdera em João Pessoa e, mesmo assim, se elegeu governador. E Ronaldo Cunha Lima também, isso em 1990 (Veja quadro abaixo com esses resultados)

Resultados para governador em João Pesso (1990, 2002 e 2010)

Nessas três eleições, Wilson Braga (1990), Roberto Paulino (2002) e José Maranhão (2006) venceram em João Pessoa, mas não se elegeram governador, o que desdiz a tese esboçada acima.

Quanto a Zona da Mata paraibana, fui obrigado a fazer um levantamento que me deu um pouco mais de trabalho e, em razão de tempo, tive de me restringir à eleição de 2002, quando os principais candidatos eram Cássio Cunha Lima, pelo PSDB, e Roberto Paulino, pelo PMDB.

Também nessa Mesorregião, a mais populosa da Paraíba, que concentra mais de 1/3 do eleitorado paraibano, Roberto Paulino venceu Cássio por mais de 35 mil votos, mas, como se viu, acabou derrotado em 2002. (Veja quadro detalhado abaixo)


Desde 1986, quem vence em Campina Grande é eleito governador

Se quisermos estabelecer uma relação entre resultados eleitorais de regiões paraibanas e vitórias de candidatos para o Governo do Estado, algo sempre muito arbitrário, existe pelo menos uma cuja situação cuja recorrência pode indicar alguma relação estatística, sem que isso indique qualquer antecipação de resultado.

Campina Grande e a região da Borborema tem sido decisivas em todas as eleições realizadas na Paraíba desde a redemocratização, com exceção da de 1982.

Em todas elas, quem venceu em Campina Grande acabou sendo eleito governador da Paraíba. Tarcísio Burity, em 1986; Ronaldo Cunha Lima, em 1990; Antônio Mariz, em 1994; José Maranhão, em 1998; Cássio Cunha Lima, em 2002 e 2006; e Ricardo Coutinho, em 2010. (Veja quadro abaixo)


Não tem nada de sobrenatural no quadro das vitória eleitorais mostrado acima. A explicação tem a ver com política e com a força decisiva pode ser atribuída a um único fator: a hegemonia do grupo Cunha Lima na região, influência que, como sempre, se irradia por toda a Borborema a partir de Campina Grande, não pode acaso a "Rainha da Borborema".
Hegemonia que começou em 1982 quando Ronaldo Cunha Lima se elegeu prefeito da cidade, poder que o filho Cássio ajudou a consolidar.

Campina vai decidir de novo? Depende de João Pessoa

Em 2002, 2006 e 2010, em especial, a Paraíba se dividiu e diferenças mínimas acabaram decidindo essas eleições. Ou seja, foram as diferenças obtidas em Campina Grande pelos candidatos apoiados pelo grupo Cunha Lima que asseguraram essas vitórias apertadas. 

A eleição vencida por Ricardo Coutinho em 2010 contribuiu de maneira decisiva a grande votação obtida por ele na capital. 

Em 2014, a uma semana do primeiro turno, a grande questão é como RC vai neutralizar e até superar, como aconteceu em 2010, a partir de João Pessoa, o desempenho de Cássio em Campina, sempre poderoso, que parece novamente em vias de se repetir.

É em João Pessoa onde se travará a “mães de todas as batalhas” nos últimos dias de campanha de 2014, e essa é, sem dúvida, a grande disputa estratégica que se desenvolve hoje na Paraíba.

Tanto RC procura mobilizar o voto pessoense e tentar, pelo menos, repetir o desempenho de 2010, quando colocou 75 mil votos de frente sobre José Maranhão, diferença que, em termos numéricos superou a diferença obtida em Campina Grande, que foi de 61 mil votos, representando uma diferença de 14 mil votos pró João Pessoa. 

Mesmo que, percentualmente, a diferença em Campina tenha sido maior (5%) que a obtida em João Pessoa.

É claro que as circunstâncias de hoje são diferentes, a começar pelos aliados de 2010 que hoje são os principais concorrentes ao cargo de governador.

Mas, a lógica estratégica permanece a mesma. Campina tem um eleitor mais fechado, especialmente quando se defronta com uma disputa entre um candidato campinense, um Cunha Lima, com um “forasteiro”. 

É quando o tradicional campinismo é mobilizado. E ninguém sabe mobilizar mais o campinismo do que Cássio Cunha Lima.

RC sabe do imenso obstáculo que representa Campina Grande e deve trabalhar com uma derrota mais ou menos nos termos do que foi a sua vitória de 2010 (60 a 70 mil votos). 

Por isso, para os objetivos do governador, João Pessoa tem de ser decisiva, como foi em 2010, com dois obstáculos a serem superados. 

Um, é a diferença que marca o eleitor da Capital, muito mais aberto que o eleitor campinense, e, portanto, menos bairrista. Um exemplo que merece ser citado é o da eleição de 1990, também disputada entre um "pessoense" (Wilson Braga, prefeito eleito da Capital até abril de 1990 e avaliado como o segundo melhor prefeito do Brasil), e Ronaldo Cunha Lima.

Braga tentou mobilizar o "bairrismo" pessonse sem muito sucesso. Enquanto em João Pessoa a diferença pró-Braga foi de quase 34 mil votos (101,3 mil a 77,7 mil ou 56,6% a 43,4%), em Campina Ronaldo Cunha Lima venceu com mais de 84 mil votos de diferença! (106,7 mil a 22,1 mil votos ou incríveis 82,84% a 17,16%).  

O discurso de RC é mais político e explora o anticunhalismo do pessoense, e faz isso hoje com muita competência. É cada vez mais visível encontrar eleitores que rejeitam o governador, mas que vota nele "para evitar a vitória de Cássio".

Talvez o grande problema de RC é o funcionalismo estadual, que, sem ser decisivo, tem um peso eleitoral que não pode ser desprezado, especialmente numa eleição acirrada como a atual. 

Com um contingente expressivo e com seus sindicatos em clara mobilização contra o governador, o funcionalismo estadual pode ser um limitador na diferença que RC necessita estabelecer para neutralizar a derrota de Campina e partir para uma hoje improvável vitória no primeiro turno.

Ou, no mínimo, levar a disputa para o que era há um mês improvável segundo turno, o que vem a ser já uma grande vitória.


Tão equilibrada está a disputa que não se pode descartar também uma vitória de Cássio no primeiro turno. 

Tudo dependerá do resultado da votação de RC em João Pessoa.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Eleições para o Senado: o favoritismo de Maranhão

Maranhão é hoje favorito. Lucélio conseguirá ameaçá-lo?
Na reta final da campanha eleitoral para o Senado, o ex-governador José Maranhão aparece, segundo mostram as pesquisas, como o grande favorito a vencer essa disputa

O desempenho de Wilson Santiago confirma o que eu sempre suspeitei a respeito de sua candidatura: ela não é capaz de responder - em razão da origem social, do discurso e do significado - aos desafios da mudança política em curso no Brasil e na Paraíba.

Já Lucélio Cartaxo, com amplo espaço para crescer, não conseguiu até agora se inserir na disputa como um candidato capaz de agregar esse imenso desejo de renovação política. Para tanto, não basta ser ou parecer jovem, é preciso deixar claro o que de novo em termos de proposta e de postura essa candidatura expressa. 

Como eu mencionei na última postagem, Maranhão soube aproveitar as oportunidades abertas para se inserir na disputa. Ao invés de se impor, ele foi "chamado" a ser candidato pelo PMDB e por outras lideranças partidárias.

Maranhão candidato 

Para viabilizar a candidatura ao Senado, José Maranhão soube exercitar o mais necessário atributo do fazer político: a paciência.

Desde logo, Maranhão sabia que não poderia tomar uma decisão errada que o levasse a mais uma derrota, desta feita, definitiva para sua vida pública.

Depois de três derrotas seguidas em disputas para cargos majoritários, Maranhão optou desde cedo pelo caminho menos duvidoso, que era a eleição para a Câmara dos Deputados. Mas sem deixar nunca de vislumbrar o Senado.

O ex-governador sabia que, com o PMDB fragilizado, reivindicando a cabeça de chapa para o governo e precisando ampliar suas alianças, especialmente para incluir o PT, não sobraria espaço para que ele mais uma vaga na chapa majoritária. 

Com isso, Maranhão manteria o PMDB unido em torno de sua liderança e dava mostras de “altruísmo” ao “sacrificar” sua candidatura ao Senado, mesmo quando todas as pesquisas indicavam uma boa possibilidade de vitória.

O ex-governador pressentia que havia jogo de cena demais e disposição de menos, tanto na candidatura de Veneziano, que nunca quis de verdade colocar sua candidatura na rua – mesmo diante dos apelos de setores do PT, – como na clara má vontade do prefeito Luciano Cartaxo em abraçar a candidatura peemedebista.

Maranhão provavelmente projetava um impasse, quando ele poderia aparecer ou como um tércio numa acomodação futura ou como uma candidatura que se impunha pelas circunstâncias. 

Mais de um dirigente do PT paraibano que me disse que José Maranhão anunciara em uma reunião realizada dias antes do prazo final para as convenções que o governador Ricardo Coutinho propusera uma aliança e oferecera as duas vagas na chapa majoritária (Vice e Senado) ao PMDB.

E foi esse fato que levou a direção petista a decidir por se antecipar ao movimento do PMDB e anunciar unilateralmente um acordo com RC.

Diante da minha pergunta sobre que motivos levariam Maranhão a dar informação tão estratégica ao PT, e numa reunião formal, o dirigente petista respondeu reafirmando que o PT apenas se antecipara à rasteira.

Existem pelo menos duas objeções a esse raciocínio.

Primeiro, era cada vez mais evidente que Veneziano não desejava levar à frente sua candidatura e, hoje é possível inferir, que a “solução Vital” sempre foi a verdadeira alternativa do PMDB. 

Só que teria de ser anunciada como um fato consumado e, portanto, próximo das convenções para não reabrir as discussões a respeito de alternativas.

A candidatura Vital do Rego representava a a morte anunciada das pretensões do PMDB para retornar ao governo. 

Onde o PMDB tinha alguma chance de vitória? No Senado, com José Maranhão, que se tornaria o principal objetivo do PMDB na eleição de 2014. 

Mas, para isso, era necessário tirar o PT do caminho. RC era uma alternativa. Era, mas também de alto risco, porque naqueles dias as expectativas de vitória de RC eram vistas como bastante reduzidas.

Além disso, a aliança com o PSB, depois de anos de oposicionismo, desmoralizaria o PMDB por completo e racharia o partido em definitivo, o que teria impactos eleitorais importantes, especialmente na candidatura de Maranhão ao Senado.

Além de não acomodar todo o PMDB, esse acordo poderia provocar um rompimento nacional com o PT e com o governo. 

Como se vê, seria um movimento de alto risco para José Maranhão e cia.

E o que RC queria mesmo era o pacote PT-PMDB. Sem o PT, o PMDB ficaria isolado e frágil demais para seguir adiante.

Por isso, depois de várias tentativas, sem êxito, de se aproximar de José Maranhão, RC promoveu, no dia 02 de junho na Granja Santana, aquela enigmática conversa a dois com o prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, onde certamente lançou suas iscas que acabaram abocanhadas pelos petistas.

O mesmo RC deve ter feito com o PMDB. Ora, se o governador oferecia ao PMDB as duas vagas na majoritária, onde ele iria acomodar o PT, com quem já conversava, que só aceitaria indicar a vaga de senador?

O desfecho dessa história todo mundo já sabe. O PT rompeu unilateralmente com o PMDB para se coligar com o PSB, e o PMDB, depois de muitas especulações, acabou lançando Vital do Rego para o governo e José Maranhão para o Senado. Maranhão estava de volta ao jogo.

Maranhão, a noiva da eleição

Depois dos muitos erros cometidos em eleições pregressas, erros que lhe custaram seguidas derrotas, José Maranhão dessa soube se movimentar com muita habilidade nos mares revoltos de uma disputa cheia de alternativas e incoerências.

Enquanto Lucélio grudou sua imagem na de RC, sem que isso significasse uma campanha conjunta, e Wilson Santiago se tornou o “Senador de Cássio”, Maranhão foi cortejado por todos os lados na sua condição de “noiva” da eleição.

Único nome realmente estadualizado na disputa, Maranhão enfrentaria dois candidatos sem muita inserção no estado.

Lucélio, em razão do parentesco com o irmão prefeito da Capital tem um nome forte em João Pessoa, mas carece de apoio no resto da Paraíba. Constrói às pressas acordos com grupos e políticos tradicionais sem que isso represente a certeza da transferência de votos. 

Faz um discurso sem muita consistência que aposta apenas no “novo pelo novo”, sem adentrar nas grandes questões da Paraíba e do Brasil, que serviriam para distingui-lo dos outros candidatos. O que é mesmo o novo que Lucélio propõe?

Já Wilson Santiago, mesmo tendo sido deputado estadual e federal, e depois de ter assumido o Senado por alguns meses e enfrentado uma disputa judicial contra o hoje aliado Cássio Cunha Lima, de quem pretendia ficar com o mandato de Senador, nunca foi uma liderança estadualizada.

Não foi por outro motivo que, lembrando Ney Suassuna em 1998 (“O Senador de Zé”), outro ilustre desconhecido para o eleitor paraibano, Santiago apostou no vínculo com Cássio para alavancar sua candidatura. Isso por si só mostra as suas limitações eleitorais para enfrentar disputa dessa envergadura.

Por isso, segundo as últimas pesquisas, José Maranhão não apenas manteve os percentuais que ostentava antes mesmo de oficializar sua candidatura (25%), como amplia seus votos a cada pesquisa e colhe os frutos de uma longa vida política, no meio dela, de três mandatos de governador. 

E por se tratar de uma eleição parlamentar, que difere bastante das eleições para o executivo, onde a longevidade política mostrou-se como um óbice nas duas eleições de que participou, para o Senado, entretanto, acaba sendo uma vantagem nessa disputa.

Há um aspecto que é central para potencializar o bom desempenho maranhista nessa eleição. O de não ser atacado por nenhum dos candidatos ao governo, todos de olho no eleitor que votou no PMDB nas últimas eleições e, mais ainda, num acordo para o segundo turno.

E Maranhão se move também sem produzir atritos, colhendo frutos em todos os pomares, entre cassistas e ricardistas.

Enfim, se não for produzida nenhuma grande alteração na disputa para o Senado e Lucélio Cartaxo não se beneficiar do crescimento de RC, considerando sempre o acerto das pesquisas, José Maranhão é o grande favorito para vencer no próximo dia 5. 

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Eleições para o Senado: PT trouxe Maranhão para a disputa (I)

Mudança na política de aliança petista pode determinar a derrota de Lucélio
Ao decidir aliar-se ao governador Ricardo Coutinho às vésperas das convenções partidárias que definiriam as chapas e coligações para as eleições de 2014 na Paraíba, o PT não apenas rompeu com a trajetória de três anos e meio de oposição, postura que foi decisiva, por exemplo, para levar o partido à vitória de 2012 em João Pessoa com o apoio de Luciano Agra, então prefeito.

Essa mudança surpreendente também colocou na disputa o favorito nas pesquisas para o Senado, o ex-governador José Maranhão, que seria candidato a deputado federal caso a aliança PT-PMDB fosse mantida. 

E apoiaria Lucélio Cartaxo, lançado pelo PT à única vaga em disputa para o Senado em 2014.

O cálculo do PT presumia que o PMDB não teria forças para manter a chapa para o governo e teria como única alternativa seguir o mesmo caminho, indicando a vaga de vice na chapa ricardista.

O erro ficou evidente quando o PMDB não apenas lançou Vital do Rego Filho em substituição ao irmão, Veneziano, para o governo, mas também, como queriam 100% dos peemedebistas, José Maranhão para o Senado.

Esse foi o resultado político do repentino movimento petista, que assumirá proporções de um desastre em caso de derrota de Lucélio Cartaxo, um erro de graves consequências internas e externas.

Internamente, o PT da Paraíba criou problemas com a Direção Nacional porque confrontou um poderoso aliado nacional em um estado onde as pretensões do partido não incluía disputar o governo estadual.

Logo isso ficou patente quando um advogado representando a Executiva Nacional do PT aterrissou em João Pessoa para desautorizar a direção estadual e recorrer à Justiça Eleitoral contra a decisão que deixava Dilma Rousseff sem palanque na Paraíba.

Mais ainda. A decisão de coligar-se com o novo aliado teve o condão de colocar um fim na estável relação interna que assegurava ampla hegemonia ao grupo liderado por Luciano Cartaxo.

Hoje, importantes lideranças petistas e a ampla maioria dos sindicalistas não seguem mais a liderança do prefeito de João Pessoa.

O deputado Frei Anastácio, por exemplo, declarou ontem (23) apoio à candidatura de José Maranhão ao Senado, preferindo votar no peemedebista a apostar em companheiro de partido.

O ex-deputado e ex-secretário de Articulação Política da capital, Rodrigo Soares, e seu numeroso e influente grupo, que inclui o ex-superintendente da Emlur, Anselmo Castilho, também já não segue a mesma cartilha dos Cartaxo.

Soares é membro da direção nacional do PT e talvez a liderança estadual com mais trânsito com Lula e Dilma. Gilberto Carvalho, o ministro mais próximo de Lula no atual governo, veio a João Pessoa para participar do lançamento da candidatura de Soares à Assembleia.

Por aí se vê o quanto a decisão do PT criou constrangimentos e problemas internos. 

Do ponto de vista externo, a aliança com RC colocou à mostra uma grave contradição do PT, que mudou de discurso repentinamente, crítica, por exemplo, que é a base da desconstrução da candidatura de Marina Silva no plano nacional. 

Mesmo o eleitor ricardista deve ter visto com desconfianças transfiguração política tão injustificada, a não ser para acomodação de interesses individuais.

Entre os eleitores oposicionistas, Lucélio Cartaxo entrou de imediato em rota de coalizão com parcela expressiva do eleitorado que rejeita o governador, especialmente em João Pessoa. 

Na capital, onde o campo estava aberto para que o petista recebesse votos de um eleitorado carente de novas lideranças (de oposição e de situação), Lucélio perde, por exemplo, a expressiva votação de servidores e lideranças de servidores. Parte desse eleitorado caiu no colo de José Maranhão.

consequência eleitoral desse erro primário do PT, ao mudar de trajetória política e aliar-se ao PSB, pode ter comprometido o principal objetivo do partido nessa eleição, que era eleger um Senador, objetivo que era mais do que factível - e a campanha atual mostra isso, - com o apoio do PMDB e José Maranhão.

Amanhã eu volto para tratar da candidatura de José Maranhão.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Paraíba: segundo turno à vista

Eram duas as dúvidas mais importantes que eu tinha no início dessa campanha na Paraíba, expostas especialmente em várias participações que fiz em programas de rádio:

1)    se Cássio conseguiria superar a faixa dos 50%, que limitou seu crescimento nas duas disputas que disputou, em 2002 e 2006, levando-o a vitória por margens mínimas – fato que nunca o tornou imbatível;

2)    se RC conseguiria incorporar essa banda do eleitorado que vota no PMDB, pelo menos, desde 2002, e viabilizar-se na disputa.

A duas semanas da eleição, tudo indica que a velha divisão no eleitorado que marcou a Paraíba nas três últimas eleições está prestes a se repetir.

A mais de dois meses estacionado entre os 44%-47%, Cássio não conseguiu abrir uma vantagem que lhe desse a segurança de que não seria alcançado até o dia da eleição e venceria no primeiro turno.

Por outro lado, a julgar pelos resultados das últimas pesquisas, quando o eleitorado começa realmente a se definir, que mostram crescimento consistente da candidatura de Ricardo Coutinho e apontam para uma irredutível queda da diferença entre os dois principais candidatos e a realização do segundo turno.

A fortalecer essa possibilidade existe a candidatura de Vital do Rego Filho, do PMDB, atualmente ostentando números próximos dos 5%, o que significa algo próximo dos 8% dos votos válidos.

Ora, se nas últimas eleições os candidatos do PSOL, com uma votação de 0,66% e 1,21% (veja quadro abaixo), levaram a eleição para o segundo turno, agora em 2014, com Vilta do Rego com possibilidade de pontuar 8% dos votos válidos, é quase certa a realização do segundo turno, a ser mantido o crescimento de RC e as perdas de Cássio, que o empurram para o patamar de votação histórico de 47%-49% de votos válidos no primeiro turno.

2010
RC
49,74%
Maranhão
49,3%
Nelson Junior 0,66%
2006
Cássio 
49,67%
Maranhão
48,74%
Davi Lobão 
1,21%
2002
Cassio 
47,2%
Roberto Paulino 39,98%
Avenzoar 
12,57%

Enfim, o que não faltará é emoção nessas eleições da Paraíba. E, mesmo com o segundo turno, os ricardistas vão ter de ralar muito para ganhar a eleição, especialmente se tivermos Dilma e Marina no segundo turno da disputa presidencial.

Depois eu volto para analisar a disputa para o Senado e os cenários para o segundo turno paraibano.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Vitória de Dilma: dois coelhos com uma só cajadada?

A eleição de 2014 caminhava para reeditar a polarização que já dura 20 anos entre PT e PSDB. E confirmar a superioridade eleitoral do PT com mais uma vitória. Isso até o acidente que vitimou Eduardo Campos e levou Marina Silva para a cabeça da chapa do PSB.

Essa mudança abrupta provocou uma mudança mais abrupta ainda no cenário eleitoral.

Marina, aproveitando-se do recall da candidatura de 2010, que ainda a identificava com o desejo de renovação política, e com a comoção provocada pela tragédia de seu companheiro de chapa, foi catapultada à condição de favorita.

Em pouco mais de 10 dias, Marina passou a ameaçar o primeiro lugar de Dilma Rousseff no primeiro turno e a derrota-la no segundo. Muitos jornalistas e eleitores conservadores, recém convertidos ao marinismo, chegaram a comemorar a vitória já tida como certa.

A desconstrução de Marina

Isso até Marina começar a mostrar-se por inteira. Não por acaso, o primeiro anúncio importante da nova candidata do PSB, feito pela indefectível Neca Setúbal, herdeira do Banco Itaú, foi a autonomia do Banco Central, um aceno mais do que evidente aos bancos e ao mercado financeiro. Marina começava a trocar de pele.

Isso até Marina começar a sofrer as pressões de uma base social conservadora, que desde sempre torce e milita nas hostes do antipetismo.

Depois, vieram os recuos de posições que, até então, todos imaginavam ser expressão fidedigna da “nova política” a que Marina procurara se associar desde 2010.

Especialmente, depois que aquela massa foi às ruas no ano passado tentando estabelecer uma pauta transformadora para as práticas políticas e sociais no Brasil, pauta infelizmente capturada pela mídia conservadora, especialmente a Rede Globo, que foi reduzida às bandeira do moralismo de direita e do antipetismo.

Dilma e o PT souberam aproveitar o impulso das pressões populares e anunciaram algumas mudanças, que até então estavam encalacradas, como o programa Mais Médicos e os 10% do PIB para educação. 

A proposta de reforma política, a proposta que melhor sintetizava os anseios daquela juventude que foi às ruas, foi aos pouco sendo esquecida e finalmente deixada de lado, com a ajuda do Congresso e do TSE. Tudo tinha mudado para ficar como estava.

Pois bem. Marina achava que o espírito das manifestações de 2013 estava definitivamente incorporado à sua aura política e a seu espólio eleitoral e não percebeu o caráter radical pouco organizado daquele desejo mudancista.

Foi por isso a derrocada de Marina começou quando o  Brasil assistiu incrédulo à mudanças não apenas nas posições da candidata, mas do programa recém elaborado e divulgado.

O recuo na questão dos direitos civis dos gays, por exemplo, teve um impacto muito didático para determinar o início da derrocada de Marina Silva, porque foi capaz de revelar as fragilidades e as inconsistências de Marina Silva, uma mulher que quer se presidente e se dobra à primeira pressão de um pastor evangélico. Isso pelo twitter!

Um outro ponto importante foi a autonomia do Banco Central defendida por Marina. Se essa questão é de difícil entendimento por parte da amplíssima maioria do eleitorado, ela revela um vínculo que poucos candidatos gostam de assumir: o vínculo com o interesse dos banqueiros e dos mais ricos, algo que já se disseminava em relação a Marina por conta de sua intima ligação com uma banqueira.

Por fim, veio o debate a respeito do Pré-sal, que é algo caro à consciência nacional do brasileiro. A campanha de Dilma não foi capaz ainda de colocar o dedo na ferida e apontar a associação de interesses internos e externos na exploração do Pré-sal. Especialmente, dos americanos e suas petroleiras.

Alternativa à direita: o povo percebeu

Marina, assim como Eduardo Campos, nunca pretendeu ser uma alternativa à esquerda ao PT. Sempre foi uma alternativa à direita que buscava se mostrar mais “viável” para derrotar o lulismo, o que – e a campanha com Marina mostra isso – é verdadeiro.

Esse foi o grande equívoco dos dois e por isso a candidatura de Marina se desfaz como um castelo de areia durante a subida da maré. Os votos que Marina perde hoje é parte do espólio que ela conseguiu em 2010, e que votou majoritariamente em Dilma no segundo turno daquela eleição.

Ou seja, Marina mostrou-se por inteira como uma candidata do conservadorismo, e, como cristã-nova, precisou afirmar sua conversão com um ardor que nem Aécio Neves – ou mesmo José Serra, em 2010 – precisaram para mostrarem-se confiáveis. E isso é o que tem afastado o eleitor que deseja mudança e não retrocesso no país.

E se Dilma vence a eleição, ela e o PT, além de derrotarem novamente o PSDB e reduzirem esse partido à insignificância política, o que, no mínimo, o incapacitará de liderar a oposição nos próximos quatro anos, terão antecipado – e vencido – um embate que, desde 2010, se mostrava como uma incógnita eleitoral.

Se Marina não tivesse sido candidata manteria parte da imagem que a impulsionou como uma forte candidata. Marina conseguiria montar o seu partido, a Rede, e aglutinaria a oposição, talvez com algum apelo popular.

Desconstruída pelas suas próprias palavras, pela propaganda eleitoral do PT e, principalmente, por esse poderoso instrumento político que são hoje as redes sociais, Marina pode liderar a oposição, mas terá perdido o seu trunfo principal, que era o mito de que seria a única candidata capaz de derrotar o PT.

Por fim, mas não menos importante, a ascensão de Marina foi o que encorajou o PT a assumir posições nitidamente mais críticas do modelo político e econômico brasileiro e a começar a ensaiar a ideia de um “novo ciclo” de mudanças.

E é isso o que está empurrando o PT e Lula mais para a esquerda nessa eleição, e já no primeiro turno.

E isso é uma novidade. Talvez a mais importante nessa história toda.


Paraíba: Segundo turno à vista? Esse é o título da próxima postagem aqui no blog.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Onda Marina começa sua fase descendente

Leonadro Boff, que votava em Marina: "Eu me pergunto, autonomia (do Banco
Central) de quem e para quem? Acho uma falta total de brasilidade. Significa
renunciar à soberania monetária do país e entregá-la ao jogo do mercado, dos
bancos e do sistema financeiro capitalista nacional e transnacional.
O eleitorado indeciso parou para pensar mais seriamente sobre o seu voto para presidente. Esse parece ser o dado mais visível das duas últimas pesquisas divulgadas na última quarta-feira.

Fato, aliás, previsto por nós (leia aqui) ainda quando, diante dos números divulgados na semana passada, tudo parecia indicar a irreversível vitória de Marina Silva, que empatara com Dilma no segundo e vencia a petista no segundo com uma diferença de 10 pontos percentuais.

Marina fora beneficiada também pelo deslocamento massivo dos eleitores de Aécio Neves, movimento que também foi estancado. Pelo Ibope, Dilma cresceu acima da margem de erro.

É preciso observar ainda como Marina Silva vai reagir a essa situação, mas não parece de todo absurdo imaginar que a tendência é que a candidata do PSB comece a cair.

É bom lembrar que a pesquisas divulgadas essa semana não refletiram alguns fatos negativos para Marina, como as alterações feitas no programa de governo, anunciadas depois do lançamento do documento, a mais conhecida (dos direitos civis dos gays) feita sob pressão pública do Pastor Silas Malafaia.

Além disso, Marina começa a ficar conhecida como a candidata dos mais ricos e dos banqueiros. Além de defender a autonomia do Banco Central, Marina defende a redução nos gastos públicos – leia-se, na educação e saúde, em especial.

Marina é muito dúbia em relação ao Pré-sal, talvez o debate mais relevante dessa eleição. Como Dilma chamou a atenção no debate do SBT, a única menção que existe no programa de Marina se resume a alguma palavra: “Aplicar os repasses à educação de parcela dos royalties do petróleo das áreas já concedidas e das do pré-sal.” 

O que Marina vai fazer com a exploração do Pré-sal? Vai manter o regime de partilha, criado por Lula? Ou vai fazer voltar o regime de concessão, como deseja a grandes petroleira do mundo, especialmente a Chevron americana.  

Por isso, o eleitor, que começou a conhecer melhor quem é Marina Silva, já não acena com tanta ênfase para a mudança que ela representa. 

Marina muda para melhor ou para pior? Marina é uma certeza ou é mais uma aventura que pode colocar o país em mais uma crise institucional de contornos imprevisíveis?

Especialmente aquele que não é movido unicamente pela aversão ao PT e aos governo Lula e Dilma. Esse eleitor, que votou em Marina no primeiro turno em 2010 e Dilma no segundo turno, pode mudar de posição. Como, aliás, começa acontecer. Leonardo Boff é o exemplo mais recente desse tipo de mudança.

A aposta conservadora em Marina foi acertada?

Passado o oba-oba da onda Marina – teve jornalista que, na euforia, nomeou até o futuro ministério da “socialista”, – e diante da fragilidade cada vez mais patente da candidata do PSB, os meios mais conservadores devem estar agora a questionar se Marina Silva foi mesmo a aposta mais acertada para derrota Dilma, Lula e o PT.

O primeiro aspecto dessa reflexão passa pelo desmonte quase que previsível do PSDB pós-2014, que atingiu pesadamente Aécio Neves, a candidatura presidencial mais orgânica da “elite”, pacientemente preparada durante os últimos quatro anos.

Essa débâcle terá reflexos nos estados e, provavelmente, no tamanho da bancada tucana tanto na Câmara como no Senado. Os tucanos, por exemplo, correm sérios riscos de derrota em Minas Gerais e no Paraná, dois dos três principais estados que governam. 

Em São Paulo, onde deve haver segundo turno, será necessário esperar pela montagem do palanque e dos reflexos da eleição presidencial no estado.

Enfim. o fato de mais fácil projeção é que o PSDB deve perder, em caso de eleição de Dilma, a hegemonia da oposição conservadora. Em caso de vitória de Marina, seguirá o caminho de apêndice do marinismo.

Resta agora por parte dos setores mais conservadores manter a aposta em Marina Silva. A questão é saber se a candidata do PSB é confiável o bastante para unir grande parte do empresariado e do agronegócio, como acontecia com Aécio Neves.

O mais provável é que Dilma seja mesmo a alternativa de parte desses setores para evitar a vitória de Marina Silva quanto mais as incertezas sobre um possível governo da Rede se cristalizem.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Ibope: RC precisa tirar votos de Cássio


A pesquisa IBOPE divulgada hoje mostra que o governador Ricardo Coutinho tem um desafio homérico a ser superado até o dia da eleição.

O governador não precisa apenas crescer, incorporando os votos dos indecisos, mas fazer com que Cássio perca votos.

Com 47% das intenções, Cássio teria hoje mais de 55% dos votos válidos. E, ao que parece, Ricardo não terá nessa empreitada a colaboração de Vital do Rego Filho, cujo desempenho sofrível até agora não permite o vislumbre de um crescimento, com o qual RC conta para levar a disputa para o segundo turno.

Mas, como eu disse, apenas isso não basta no caso de Vital Filho, que teria também de crescer roubando votos de Cássio, o que significa retomar parte eleitorado peemedebista que hoje vota no tucano.

Nas duas eleições em que disputou o governo, em 2002 e 2006, Cássio chegou muito próximo de vencer logo no primeiro turno, chegando à casa do 49% dos votos válidos! Hoje, com parte do PMDB apoiando-o, a situação parece de difícil reversão para a campanha de RC.

O governador cresceu na pesquisa, como era previsível, mas não a ponto de ameaçar Cássio, que também cresceu. Ou seja, os dois incorporam com igual peso, considerando a margem de erro de 3%, a definição do eleitorado indeciso, que se distribui por enquanto entre os dois principais candidatos.

Se essa situação persistir, a tendência é Cássio ampliar a votação e consolidar-se na posição de virtual eleito já no primeiro turno.

RC ainda vive o drama da possibilidade de perder o apoio do PT, caso seja derrotado no TSE na disputa com o PMDB pelo apoio do partido de Lula e Dilma. Veja que situação vexatória o PT da Paraíba se envolveu... 

A entrada de Marina em cena, que tem o apoio de RC, não ajudou muito e o que se vê hoje é uma presença mais ostensiva de petistas ligados à campanha de Dilma na Paraíba em apoio a Vital. Nenhum dirigente nacional do PT pediu votos para RC. E não vão pedir.

Essa mudança pode fazer Vital crescer, mas crescerá no eleitorado de Cássio, que nunca escondeu seu apoio a Aécio Neves? 

Por outro lado, uma derrota no TSE produziria um impacto negativo ainda de difícil medição. Mas o fato é que, caso ocorre, ocorrerá em um momento decisivo da campanha. RC reduziria seu guia pela metade e perderia seu candidato a Senado, Lucélio Cartaxo. Um fato dessa natureza, caso aconteça, pode ser a pá-de-cal nas pretensões do governador.

E mesmo mantendo o apoio formal do PT, ainda assim o desafio será muito grande, porque o voto cristalizado de Cássio é muito expressivo hoje. 

O recomendável é esperar um pouco mais. Uma diferença de 14 pontos pode tranquilamente ser retirada em um mês de campanha. A questão a ser respondida é se o eleitor de Cássio estará aberto a mudar de voto. É essa a questão chave.