domingo, 23 de novembro de 2014

Dilma: os perigos do retrocesso

A vida imita a arte? 
Se Dilma acha que, depois da campanha, terá a "compreensão" de quem assegurou sua vitória no debate eleitoral, nas ruas e nas redes sociais, para fazer os acordos de sua conveniência e do grupo que lhe cerca, pode tirar o cavalinho da chuva.

Depois de 12 anos, agora é preciso dar respostas a dilemas do desenvolvimento brasileiro que nunca foram realmente enfrentados no Brasil, apesar de avanços incontestáveis em vários campos (combate à pobreza, aumento da participação dos salários na renda nacional, mais gastos públicos em investimentos e na área social, ampliação do acesso à educação superior, técnica e tecnológica, diplomacia e comércio internacional).

Não darei ênfase aqui a questões como a reforma agrária. Vamos ficar com dois projetos para o futuro governo anunciados durante a campanha. 

Dilma vai abandonar a "estratégica" reforma política? De que maneira ela pretende aprova-la no Congresso conservador que foi eleito? Como o governo pretende mobilizar seus apoiadores? Como vai convencê-los com tantas concessões pós-eleitorais a quem foi derrotado nas eleições?

E como Dilma pretende aprovar a Lei da Regulação Econômica da Mídia para acabar com o oligopólio familiar das comunicações no Brasil? Como vai enfrentar o poder da Rede Globo, Folha, Veja, Estadão, em grande medida responsáveis pelo atraso brasileiro?

São duas questões de ordem política, eleitoral e de cidadania que precisam ser enfrentadas, antes que o verdadeiro retrocesso se efetive. Ou seja, nos próximos quatro anos.

O movimento pró impeachment arrefeceu, muito em razão da direita tresloucada ter tentado assumir o comando das mobilizações, mas o clima de beligerância não deve terminar. Teremos quatro anos, se Dilma conseguir terminar seu mandato, de confronto aberto. 

A espada de Dâmocles continuará pairando sobre sua cabeça por razões que ficam claras na postura que a oposição assumiu nem bem o resultado da eleição foi anunciado. O mercado financeiro também não dará trégua.

Retrocesso à vista?

Em 2005, diante da ameaça de impeachment depois do escândalo do "mensalão", Lula iniciou um movimento de reaproximação com setores populares que se refletiu no governo.

Os paulistas perderam força (José Dirceu, Antônio Palocci, Aluísio Mercadante) e uma turma mais desenvolvimentista - Dilma à frente - passou a ter mais influência no governo.

Foi isso que alterou em parte os rumos conservadores da política econômica até então hegemônica, cuja equipe responsável Lula, com muita esperteza, nomeou para evitar que seu governo, sem meios para enfrentar ataques especulativos, naufragasse antes mesmo de completar um ano. Como, aliás, FHC esperava que acontecesse. 

A crise de 2008-2009 reforçou essa ala no governo e suas opções desenvolvimentistas: mais gasto público, mais investimento privado, mais exportações para os novos mercados ditos "emergentes", mais geração de emprego, mais renda, mais consumo.

Foi o que salvou o Brasil da maior crise econômica desde 1929, cujos reflexos continuamos a sentir ainda hoje.

Ou alguém acha que o Brasil enfrentou aquela crise, permanecendo quase imune aos seus efeitos destrutivos, especialmente sobre os trabalhadores, em razão da iniciativa dos empresários, que, esses sim, se comportam como uma manada em situações de expectativas negativas?

Antes que a crise completasse dois anos, enquanto a Europa e os EUA continuavam a ver suas economias à beira do colapso, mesmo depois de gastos de mais de 10 trilhões de dólares para salvar o sistema financeiro - exatamente aquele que provocara essa hecatombe econômica - o Brasil cresceu mais de 7% em 2010.

Para a desmoralização dos propagandistas neoliberais, cujas ideias, diagnósticos e prognósticos foram solenemente desprezados por Lula no auge da crise.

Enquanto eles defendiam as receitas de sempre (corte nos gastos públicos, aumento de juros e criação de novos impostos), que conduziram às quebradeiras de 1995, 1997 e 1998, Lula fez exatamente o oposto: aumentou os gastos públicos, reduziu juros e diminuiu impostos sobre o consumo.

Foi essa política econômica que salvou o Brasil da crise e deu a vitória a Dilma em 2010, e que manteve não apenas a estabilidade, mas continuou a bater recordes de geração de emprego, distribuição de renda e combate à pobreza.

Será essa política econômica, vitoriosa nas urnas, que dará lugar à política derrotada defendida por Aécio Neves de corte nos gastos públicos, de arrocho fiscal, de juros altos?

Tudo isso para assegurar a tranquilidade de banqueiros, especuladores e receber o aplauso dos seus comentaristas econômicos?

Em 2003, ainda foi possível entender a atitude de Lula de se render à pressões do mercado financeiro, já que a margem de manobra era quase inexistente.

Mas hoje? Além de não ter mais a ingerência do FMI, o Brasil dispõe de reservas internacionais de quase 400 bilhões de dólares, além de poder contar com a ajudar do Banco dos BRICS que, entre outras coisas, foi criado para proteger as economias dos seus membros de ataques especulativos.

Além do mais, a força da economia brasileira reside cada vez mais no seu mercado interno, que cresce a cada dia.

Enfim, as razões são exclusivamente políticas para que Dilma se renda aos financistas e seus representantes na mídia e no Congresso.

E Dilma só tem a perder, porque não ganhará um só voto do outro lado, enquanto que as críticas e desconfianças abundarão entre o que asseguraram a sua vitória naquela guerra encarniçada que foi a eleição presidencial de 2014 que, como sempre, o PT sempre se apresenta mais à esquerda, para moderar o discurso no governo.

A opção de Lula foi sempre a acomodação “por cima” para evitar recorrer à mobilização popular, o que, diga-se, foi sempre uma possibilidade temida pela “elite”.

É como se ele dissesse: “Se vocês querem briga, podem ter briga. Eu prefiro a moderação.”

Só que a margem de manobra lulista está cada vez mais estreita porque os cachorros loucos da reação estão soltos. O golpismo não é mais algo mais apenas latente, ele está vivo com a clareza que só as redes sociais foram capazes de deixar à mostra.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Cassismo, rumo à decadência?

Derrotado na Convenção do PMDB, em 1997, o grupo Cunha Lima ainda esperou até 2001 para finalmente sair do PMDB.

Antes disso, iniciou uma aproximação com o PT que resultou numa aliança para a Prefeitura de Campina Grande, em 2ooo, que fez de Cozete Barbosa, até então maior referência de oposição em Campina Grande, vice do candidato à reeleição Cássio Cunha Lima.

Cozete, quatro anos antes, obtivera na cidade 42,5% dos votos para o Senado e poderia se tornar uma pedra no sapato do cassismo.

Em João Pessoa, tentando ajudar ao projeto cassista no estado, o PT local tanto fez que inviabilizou internamente a candidatura a prefeito do então deputado estadual petista, Ricardo Coutinho, que acabou renunciando à indicação.

Em 2000, o PT poderia ter tido dois fortes candidatos à Prefeitura das duas maiores cidades do estado e preferia ser linha auxiliar do grupo Cunha Lima.

Com RC fora do caminho substituído por Luís Couto, ficou pavimentada a tranquila reeleição de Cícero Lucena, também ainda no PMDB, que acabou vencendo no primeiro turno com 74,2% dos votos (quatro anos depois, Ricardo se elegeria Prefeito de João Pessoa no primeiro turno com uma votação de 64,5%).

No mesmo ano, só que em Campina, Cozete Barbosa, traída pelo então governador e candidata à reeleição, obteve menos de 10% dos votos (9,6%) e desapareceu em definitivo da política.

Um relação pendular com a esquerda

Até o anuncio da filiação de Cássio ao PSDB, a família Cunha Lima havia mantido uma boa proximidade com a esquerda na Paraíba.

Cássio, por exemplo, fez parte da corrente “Viração”, a juventude universitária do PCdoB quando estudante da UEPB.

Candidato a deputado federal, Cássio foi apoiado pelo PCdoB, em 1986. E em todas as disputas eleitorais até 2002, PCdoB e PCB apoiaram os Cunha Lima nas disputas em Campina Grande; em 1990, para o governo, apoiou Ronaldo Cunha Lima no segundo turno.

Nesse curto trajeto, Cássio manteve uma relação pendular com a esquerda.

A estreia do “jovem” Cássio na política não eram um bom sinal. Por sua atuação na Constituinte, foi “reprovado” pelo DIAP ao obter uma nota de 4,5, num total de 10,0.

Cássio se deslocou para do “Centrão”, o bloco conservador que foi criado para impedir a aprovação de proposta populares na Constituinte.

Já em 1989, apoiou a candidatura de Lula no segundo turno contra Collor. No governo do estado, Ronaldo Cunha Lima seguiu a cartilha dos cortes nos gastos públicos.

Em 1994, o grupo Cunha Lima compôs a maioria do PMDB paraibano que apoiou a candidatura de FHC à Presidência da República – mesmo o PMDB tendo um candidato, Orestes Quércia.

Vitorioso, os vínculos do grupo Cunha Lima com o governo FHC e com o PSDB se fortaleceram, em especial com Jose Serra, que seria o candidato a presidente do PSDB, em 2002.

Cícero Lucena participou da equipe de Serra no Ministério do Planejamento durante sua passagem pela então Secretaria de Integração Regional, entre 1995 e 1996.

E o substituto de Lucena foi Fernando Catão, hoje um dos três familiares que Cássio nomeou para o Tribunal de Contas do Estado durante o seu governo – os outros dois foram Fábio Nogueira e Arthur Cunha Lima.

Essa relação com FHC se tornou mais tensa quando o grupo Cunha Lima foi derrotado na convenção do PMDB de 1998.

Vitorioso, o grupo maranhista avançou sobre os espaços dos Cunha Lima no Governo Federal.

O grupo do então governador José Maranhão, que apoiou por quase oito anos o governo FHC, ocupara o espaço que fora dos Cunha Lima: Ney Suassuna agora era o Ministério da Integração Nacional com a missão de completar a obra iniciada por Cicero Lucena de extinguir Sudene, o que finalmente acabou acontecendo nos estertores do governo tucano, em 2002.

As divergências locais colocaram os dois grupos peemedebistas em rota de colisão nacionalmente.

Na Convenção Nacional do PMDB, por exemplo, que decidiu a posição do partido na eleição presidencial de 1998 (apoio à reeleição de FHC ou lançamento da candidatura de Itamar Franco, que havia se filiado ao PMDB para ser candidato), o grupo maranhista votou pelo apoio a FHC, enquanto os “ronaldistas” optaram pela candidatura de Itamar, que reforçava a oposição.

As derrotas nas convenções estadual e nacional do PMDB e o consequente alijamento das disputas em 1998, associado ao excelente desempenho de Cozete Barbosa para o Senado naquela eleição (a petista obteve 19,7% dos votos no estado e 42,5% em Campina), que projetou sua sombra sobre o projeto de reeleição cassista, em 2000, promovem o interesse de uma inédita aproximação na Paraíba do grupo Cunha Lima com o PT.

Intensas articulações foram feitas e muitos petistas, mesmo no dia do anúncio da filiação de Cássio ao PSDB, em 2001, mantinham sinceras esperanças que o então Prefeito de Campina Grande e candidato ao governo da Paraíba se filiaria ao PTB.

A opção de Cássio pelo conservadorismo

Quando, entretanto, foi se delineando a força da candidatura de Cássio ao governo, reforçados pela proximidade de Cícero Lucena com o presidenciável tucano José Serra, o PSDB nacional foi seduzido e todas as portas e janelas do partido (e do governo federal) foram abertas para Cássio na Paraíba.

À força e ao apelo popular da candidatura de Lula, Cássio preferia as asas acolhedoras dos tucanos, o que significava apoio da máquina federal e financeira, que funcionaria como um contraponto à força da máquina estadual, à época nas mãos do maranhismo.

E Cássio deu, certamente, o passo decisivo para sua carreira e para o seu futuro exatamente no momento em que o Nordeste começava a viver uma viragem à esquerda.

E ao abandonar o movimento de aproximação com o PT e com Lula, realizado cuidadosamente nos três anos anteriores, Cássio perdeu a oportunidade histórica de ser o grande referencial político do lulismo na Paraíba depois de 2003, em um Nordeste prenhe de mudanças sociais, econômicas e políticas.

As vitórias apertadíssimas para o governo que Cássio obteve em 2002 e 2006, esta última no governo e utilizando todos os meios que estavam ao seu alcance, e que lhe custaram o mandato dois anos depois, mostram o erro estratégico de uma opção política que isolou-o à direita, quando toda sua trajetória anterior foi, senão de uma aliança sólida, mas de flertes com a esquerda na Paraíba.

Vejam no quadro abaixo que, quando Cássio se aliou ao PT, em 2000, na eleição para Prefeito de Campina Grande, ele chegou a 71,4% dos votos.

Depois que rompeu com a esquerda, e esta passou a se aliar à oposição ao cassismo com o nome de Veneziano Vital, o grupo Cunha Lima sofreu duas derrotas.

Mesmo na vitória de 2012, o grupo manteve no primeiro turno o mesmo desempenho eleitoral das derrotas anteriores, conquistando a Prefeitura em razão da divisão da coalizão que governou Campina por oito anos.

Vejam que o desempenho eleitoral do cassismo também é decrescente nas eleições para o governo, tanto no primeiro quanto no segundo turno, em Campina Grande.
Tendo como base a eleição de 1990, quando Ronaldo Cunha Lima foi candidato a governador, as votações dos candidatos apoiados pelo grupo Cunha Lima, incluindo as do próprio Cássio, estão em descenso e é provável que assim se mantenha.

2016 será um teste, se não definitivo, mas decisivo para mostrar se a decadência do cassismo se desenvolverá como mais ou menos rapidez.

Se a frente que venceu as eleições em 2014, e que se anuncia em todo o estado, for mantida em Campina Grande, o grupo Cunha Lima tem muito a temer em 2016.

E uma derrota na Rainha da Borborema pode ser o início do fim de uma liderança do porte da que Cássio Cunha Lima se tornou na Paraíba.

Ele e sua família manterão ainda a imp0rtância política, especialmente por atuarem na segunda maior cidade do estado, mas a tendência é que se transformem com o tempo em grupo auxiliar das forças que disputarão a hegemonia política na Paraíba.

Assim como se tornou o “braguismo”.

No momento, o PMDB, em nítida decadência, está em pleno processo de captura.

Chegará a vez do cassismo? 

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Cássio, ascensão e queda

De pai para filho, desde 1986. Ronaldo com o filho Cássio; Cássio com o filho Pedro.
Até a divulgação dos resultados das primeiras urnas da eleição de Governador da Paraíba, ainda no primeiro turno, poucos discordariam da afirmativa de que o atual Senador, ex-governador, ex-prefeito de Campina Grande por três vezes, ex-deputado federal, Cássio Cunha Lima era a maior liderança política do estado.
O primeiro turno confirmara a suspeita, que já se mostrara imediatamente após o lançamento da que era para ser a “imbatível” candidatura do tucano, de que Cássio continuava no mesmo patamar – em queda – de votos que obtivera 12 anos antes, quando enfrentou Roberto Paulino e Avenzoar Arruda para o Governo da Paraíba.
Quando as urnas foram abertas, divulgados os resultados e anunciada a primeira derrota eleitoral de um Cunha Lima na Paraíba, não apenas o mito da invencibilidade do tucano se desfez, para a incredulidade de muitos, principalmente alguns jornalistas, como também aquela certeza de que Cássio era mesmo a “maior liderança política” paraibana.
Até 2014, uma trajetória vitoriosa 
Não há dúvida de que Cássio aproveitou bem os espaços deixados pela transição intergeracional que ocorreu entre os anos 1990 e 2000, quando as principais lideranças políticas paraibanas pós-ditadura (Antônio Mariz, Humberto Lucena, Tarcísio Burity, Wilson Braga), morreram ou saíram da política, e  sem deixar herdeiros, como indicavam nossas tradições.
À exceção foi Ronaldo Cunha Lima. Ainda Prefeito de Campina Grande, o patriarca da família lançou, em 1986, a candidatura do filho, Cássio, à Câmara dos Deputados, que, entre 1987 e 1988, também funcionou como Assembleia Constituinte.
Com a eleição para a Câmara, Cássio iniciava uma ascensão meteórica, no início com a ajuda inestimável do pai.
Dois anos depois, Cássio seria eleito Prefeito de Campina Grande, em um daqueles casuísmos bem ao gosto das maiorias congressuais pós-ditadura permitidos pelo Congresso Constituinte, Ronaldo Cunha Lima lançou o filho à sua própria sucessão, em 1988.
1994
Esse acontecimento é fundamental para entender a consolidação de uma hegemonia que duraria 20 anos da família Cunha Lima em Campina. 

Com a prefeitura nas mãos, os Cunha Lima se projetaram para conquistar o Governo do Estado dois anos depois.
Era a consolidação da liderança daquele que era conhecido como o “menino de Ronaldo”, como Cássio foi apelidado por Enivaldo Ribeiro durante a campanha de 1988.
Um parêntese: Enivaldo, que se tornaria “freguês” dos Cunha Lima com seguidas derrotas para a prefeitura de Campina, recebeu o troco na ocasião da inauguração de um ginásio de esportes, que recebeu o nome, num misto de troça e auto-homenagem, de “Meninão”. Com aquele gesto aparentemente banal, devido às contumazes práticas familísticas e personalistas dos grupos políticos locais, Cássio inaugurava também um estilo de fazer política que marcaria fortemente a sua imagem e da sua família nas décadas seguintes. No governo, foi a vez do pai, que também fez construir um ginásio, agora em João Pessoa, e permitiu que fosse chamado de “Ronaldão”.
Em 1990, o “Menino de Ronaldo” teve papel decisivo na eleição do pai para o governo. Em Campina Grande, Ronaldo Cunha Lima obteve no segundo turno a incrível votação, jamais alcançada nas eleições seguintes, de 82,8%!
Cássio começava a deixar de ser o “Menino de Ronaldo” para ser Cássio Cunha Lima. Chegaria à Superintendência da Sudene, em 1992, nomeado por Itamar Franco.
A passagem de Cássio pela Sudene foi rumorosa o bastante para se converter na principal motivação que levou ao quase assassinato do ex-governador Tarcísio Burity.
O ex-governador, que se tornara adversário político, fizera pesadas críticas à gestão de Cássio na Sudene e Ronaldo Cunha Lima, ainda no exercício do cargo de Governador, tomou as dores do filho e procurou resolver a situação, literalmente, com a arma que tinha em mãos.
Nem esse trágico acontecimento serviria para deter a ascensão cassista.
Na eleição seguinte, em 1994, enquanto Ronaldo era premiado com uma eleição para o Senado, Cássio se elegeria o Deputado Federal mais votado da Paraíba, com mais de 157 mil votos, o que representou a incrível marca de 16,5% dos votos! Quase 100 mil a mais que o segundo colocado, Wilson Braga, que obteve 64.271.
Por incrível que possa parecer, menos de dois anos depois da tentativa de assassinato praticada pelo patriarca da família, 1994 foi o auge do prestígio político da família Cunha Lima, que, de rebarba, ainda elegeu Ivandro Cunha Lima, também Deputado Federal, com a quarta maior votação do estado. O também peemedebista Antônio Mariz, o governador eleito, obteve 76% dos votos em Campina Grande.
Em 1996, Cássio voltaria a disputar a Prefeitura de Campina, derrotando mais uma vez seu tradicional adversário, Enivaldo Ribeiro, desta vez numa apertada disputa cuja diferença chegou a apenas 8 mil votos, obtidos em distritos fora de Campina Grande.
Enivaldo seria derrotado mais uma vez, em 2000, configurando sua quarta derrota seguida para a família Cunha Lima, três das quais para Cássio. Depois, provavelmente cansado de tantas sovas eleitorais, Enivaldo passaria a compor o grupo de apoio cassista em Campina Grande e no estado.
Um acontecimento iria alterar a trajetória de Cássio Cunha Lima rumo ao Governo do Estado na eleição seguinte, que se reslizaria em 1998, quando teria apenas 35 de idade: a morte prematura de Antônio Mariz e a aprovação da emenda da reeleição, num outro casuísmo, já que aconteceu em pleno andamento dos mandatos dos beneficiários com o direito de se reelegerem: Prefeitos, Governadores e o Presidente da República.
Nas comemorações do seu aniversário. Ronaldo rompe com
Maranhão em 1997. Na foto acima, Cássio está atrás de Ronaldo
A morte de Mariz efetivou José Maranhão no cargo de governador e a aprovação da emenda da reeleição abriu a possibilidade de, no cargo, o governador disputar mais um mandato.
Esse fato abriu uma grave crise no PMDB paraibano, que vivia um vazio na liderança depois das mortes de Humberto Lucena e do próprio Antônio Mariz.
A solução foi uma disputa de vida ou morte pelo controle do PMDB numa rumorosa e disputadíssima Convenção, enfim vencida pelo então governador José Maranhão.
Esse racha levaria a família Cunha Lima e seu grupo para o PSDB, em 2001, para viabilizar finalmente a candidatura de Cássio ao governo, que em 2000 se elegera, ainda pelo PMDB, em aliança com o PT da até então combativa vereadora, Cozete Barbosa, indicada para vice.
Na próxima postagem
Na próxima postagem, analiso as consequências políticas da decisão do grupo Cunha Lima de se filiar ao PSDB e, em números, a trajetória cassista rumo à decadência como liderança política estadual.


quinta-feira, 6 de novembro de 2014

PT reduz votação e perde espaço em 2014, mas ainda tem o futuro pela frente

Quem tinha expectativas de que o Partido dos Trabalhadores aumentasse seus peso politico e eleitoral nas eleições 2014 em razão da conquista da Prefeitura da maior cidade o estado, a capital João Pessoa, certamente decepcionou-se. Ou surpreendeu-se
Em 2014, o PT reduziu sua votação nas eleições proporcionais (Assembleia e Câmara dos Deputados), e nas eleições majoritárias seu candidato a Senador foi derrotado por outra candidato que até o final de junho sequer era candidato, e contava com uma estrutura de campanha infinitamente inferior.
Além disso, a presidente do PT à reeleição, Dilma Rousseff , também diminuiu sua votação em relação a 2010 tanto no estado, mas especialmente, vejam só, naquela que é a única capital nordestina governada por um petista.
A derrota em números
Para a Assembleia Legislativa, o PT reduziu sua votação em quase 11%. Dos 136.920 votos obtidos em 2010 (incluídos os de legenda), os candidatos a deputados estaduais petistas viram sua cair para 111.510 agora em 2014.
O resultado disso foi uma redução na bancada de três para apenas dois deputados numa assembleia de 36 deputados, ou seja, o PT tem pouco mais de 5% do parlamento estadual paraibano.
Para a Câmara dos Deputados, apesar de mantido a única representação que tinha, a do deputado Luiz Couto, o PT viu sua votação cair em quase 60 mil votos, de 174.384 para 132.973.

O próprio Luiz Couto perdeu mais de 25 mil votos entre uma eleição e outra. De 95.555, em 2010, para 69.922, uma perda de quase 25%!

E é bom lembrar que Couto era quase um candidato único de todas as forças internas do PT – seus principais adversários eram recém filiados ao partido, Bira Pereira e Odon Bezerra, – e seguramente contou com o apoio do governador Ricardo Coutinho pelos anos de fidelidade ao seu projeto de poder.

Senado: petista é derrotado

Quanto ao Senado, Lucélio Cartaxo, irmão do prefeito pessoense Luciano Cartaxo, foi derrotado por José Maranhão, do PMDB, que lançou-se candidato no dia da Convenção do partido, a pouco mais de três meses da eleição. Detalhe: Maranhão, até então o favorito nas pesquisas para o Senado, apoiaria a candidatura de Lucélio em troca do apoio do PT ao candidato a governador do PMDB.

Sem alternativa por conta da ruptura unilateral do PT da aliança que estava acordada, o PMDB lançou José Maranhão, que acabou ocupou os espaço que seria de Cartaxo no enfrentamento de candidatos  frágeis eleitoralmente para vencerem disputas majoritárias, até então Rômulo Gouveia e Wilson Santiago.

Não há qualquer dúvida que teria sido muito mais fácil derrotar Rômulo Gouveia e Wilson Santiago nessa disputa.

E como Gouveia não foi candidato, substituído que foi por Lucélio, fica a dúvida de como seria seu desempenho, mas é quase certo de que não seria muito superior ao que alcançou Santiago, cuja fragilidade se mostrou por inteiro durante a campanha.

Um dos motivos para a vitória de Maranhão tem a ver com o maior conhecimento do peemedebista em meio ao eleitorado por ter sido ele três vezes governador, senador e várias vezes deputado federal, além de ter participado das duas últimas disputas para o governo.

Tão importante quanto o recall maranhista, entretanto, foi o fato de ter sido ele o desaguadouro tanto das insatisfações dos aliados de Santiago como de sua condição de ex-governador que foi a referência durante um bom tempo para parte expressiva do eleitorado.

Sem buscar pontos de atrito, Maranhão, ao contrário,  como eu disse antes da eleição, foi tratado como uma verdadeira “noiva” da eleição, tanto por RC como por Cássio, o que permitiu agregar votos de todos os palanques.

Isso poderia ter também acontecido com Lucélio, já que todos esses que deixaram o palanque de Wilson Santiago compõem a base de apoio da presidente Dilma no Congresso.

Por outro lado, como o PT esperava, Cartaxo não conseguiu reproduzir no palanque de RC o bom desempenho do “socialista”, especialmente nas grandes cidades.

Nas 10 maiores, Lucélio venceu Maranhão em quatro (João Pessoa, Bayeux, Santa Rita – esta por uma diferença de apenas 1572 votos, – e Sousa, enquanto Maranhão venceu Lucélio em seis municípios (Cabedelo, Guarabira, Sapé, Campina Grande, Patos e Cajazeiras).

A diferença de votos que o petista colocou nessas dez cidades sobre o peemedebista (31.454 votos), toda foi resultado da votação obtida na capital que lhe rendeu uma diferença de 79.970, diferença que foi facilmente tirada no restante do estado tanto quanto a disputa se encaminhava para os municípios menores.

Se João Pessoa for excluída, Maranhão venceria nessas 10 maiores cidades por quase 50 mil votos!

Ou seja, Lucélio Cartaxo perdeu as eleições onde um candidato com suas características no Nordeste normalmente ganharia, enfrentando adversários que o eleitorado rejeitou nessas eleições. Especialmente se contasse com o apoio do PMDB e de José Maranhão.

Venceu em João Pessoa com o apoio das duas poderosas máquinas administrativas juntas, com uma estrutura de campanha que chamou a atenção pela visibilidade apresentada, enquanto quase não se via campanha do seu principal adversário nas ruas.

As famosas jovens que seguram bandeiras nas ruas para candidatos foram novamente substituídas por escassos baldes de cimento como apoio para as de Maranhão.

E mesmo na capital Lucélio não conseguiu repetir o desempenho que RC obteve para o governo no primeiro turno: 50,3%, enquanto Coutinho chegou a 56%, o que significam 51 mil votos de diferença entre um e outro.

Só em Campina Grande Maranhão obteve 54.061 mil votos, quase 29 mil de frente. E em Patos, 18 mil só de diferença!

Considerando apenas os resultados eleitorais, vê-se que a aliança do PT com o governador reeleito Ricardo Coutinho, como eu já analisei anteriormente, foi fundamental e decisiva para a vitória do “socialista”, mas para o PT representou uma regressão em relação aos resultados obtidos pelo partido até 2010.

Dilma teve seu oitavo pior desempenho no Nordeste em João Pessoa

Acima, o mapa eleitoral para presidente das capitais nordestinas 
Para completar o quadro que mostra uma regressão em termos eleitorais do PT no estado, é só observarmos o desempenho de Dilma Rousseff em João Pessoa, a única capital administrada pelo partido no Nordeste.

Das nove capitais, Dilma só teve um desempenho pior em Maceió. Em João Pessoa, Dilma perdeu em toda orla, ou seja, nos bairros mais ricos da cidade, fato que também se reproduziu em Maceió. Nos bairros do centro e nas regiões mais periféricas da capital, Dilma se aproxima do desempenho obtido no restante do estado (64%).

O mesmo não aconteceu com o governador Ricardo Coutinho, que teve um desempenho mais homogêneo em todas as regiões da Capital, superior a 55%.

O futuro do PT na Paraíba

O resultado eleitoral de 2014 do PT no estado deve acender o sinal de alerta para a direção partidária, especialmente para o grupo mais próximo do Prefeito Luciano Cartaxo.

Avaliação de resultados eleitoral é voto em urna. É ele quem separa um desempenho vitorioso de um desempenho frágil. E é preciso analisar a evolução de cada força política.

Em 2014, diferente de todas as eleições anteriores, o PT tinha sob seu controle a Prefeitura da João Pessoa, a maior cidade do estado. No mínimo, se esperava um crescimento eleitoral do partido, mas o que se viu foi uma regressão.

Ou seja, parece haver equívocos tanto quanto no projeto político do partido quanto no perfil da administração pessoense.

Esse vai-e-vem em relação aos aliados, por exemplo, parece demonstrar essa confusão. De aliado preferencial até 2010, o PMDB passou a ser tratado como adversário; Luciano Agra, que recebia pesadas críticas do PT, tornou-se um aliado decisivo em 2012; e Ricardo Coutinho, a quem o PT fez oposição tenazmente por mais de três anos e meio, de repente se torna aliado na eleição seguinte.

Tudo isso não deixa claro qual é mesmo a do PT. Alterações tão abruptas de rumo podem ser perigosas, especialmente em um quadro claramente de mudança no perfil do eleitorado.

Quanto à administração petista em João Pessoa, a confusão é geral e reflete a confusão que acontece na política de alianças do PT no estado. Aqui, até mesmo o PSDB participa de cargos estratégicos da administração municipal, numa acomodação cujo custo político põe em risco o tal “modo petista de governar”, marca que o PT implementou em suas administrações e que o distingue dos outros partidos.

O campo está aberto, entretanto, para a reeleição de Luciano Cartaxo, cujo favoritismo só pode ser colocado em risco pelos erros na condução política do PT e da administração pessoense.

Com o rol de obras e ações que já existem e que começarão a aparecer no próximo ano não me parece que haja, por enquanto, qualquer candidatura a ameaçar o projeto de reeleição do atual prefeito.

E a “administração da política” cartaxista parece ser o maior gargalo que ele enfrenta. Caso ele resolva esses entraves, o caminho estará livre para a conquista de mais um mandato em João Pessoa sem que sejam necessárias alianças que comprometam ou restrinjam projetos futuros.

Se é que o PT os tem.

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Cássio, a derrota de uma maneira de fazer política e o fim de um"mito"

Certamente, os maiores derrotados das eleições de 2014 na Paraíba são Cássio Cunha Lima e o PSDB.

Uma derrota eleitoral e política cujo alcance ainda não pode ser medido em toda sua extensão, mas que terá impactos nas futuras disputas na Paraíba.

Os erros de Cássio

Antes de tudo, seria miopia política achar que a derrota eleitoral de Cássio Cunha Lima trata-se apenas de um resultado única e exclusivamente determinados pelas especificidades próprias da política paraibana.

Certamente, elas foram decisivas e preponderantes, como são em todos os embates. Mas, eu acredito que o eleitorado nordestino rejeita cada vez mais liderança cujas práticas políticas e administrativas lembrem práticas oligárquicas ou não “republicanas”, como o governador eleito gosta de chamá-las. (Voltaremos a essa questão na parte final desse texto)

E Cássio, assim como fez José Maranhão, em 2010, vestiu com perfeição esse figurino.

A começar pela postura dúbia que adotou durante o governo, do qual participou aquinhoado por incontáveis cargos em todos os escalões, deixando sempre em aberto se manteria ou não o apoio ao governador.

Depois, por deixar para a última hora (abril de 2014, a três meses das convenções) para anunciar o rompimento e a candidatura. Quer atitude mais execrável do que essa?

Além disso, depois veio o debate na Assembleia sobre a reprovação das contas de 2011 do atual governo, um golpe, concordando com RC à época – algo raro – segundo eu mesmo me referi a essa manobra em comentário na Rádio CBN.

Um erro da oposição, já então engordada e liderada pelo cassismo, que vitimizou o governador, dando argumento para que este continuasse a desancar deputados oposicionistas chamando-os de chantagistas.

Esse foi o capítulo final de um embate que o governador, calculadamente, levou à frente contra a Assembleia no decorrer dos mais de três anos de governo, já se preparando para o embate que teria na eleição.

Mais do que um embate entre poderes, esse foi um embate entre imagens: a do governador austero, que se recusa a negociar com deputados em termos obscuros, e deputados, a maioria conhecida pelas barganhas pouco republicanas que fazem em troca de apoio parlamentar.

A montagem da chapa

Um movimento de Cássio que deixou claro o quanto ele subestimou o adversário, erro que também cometeu José Maranhão, em 2010, foi na montagem da chapa.

Provavelmente considerando-se já eleito, Cássio superestimou sua situação em João Pessoa e subestimou a de RC ao privilegiar as acomodações de aliados e o peso econômico, ao optar por Ruy Carneiro como seu companheiro de chapa, também do PSDB, e Wilson Santiago, cuja liderança ainda carece ainda ser confirmada nesses embates.

Com a escolha de Rui Carneiro, Cássio optou por ampliar seu palanque ao distribuir seu espólio entre deputados aliados, sem esquecer o próprio filho, projetando para torna-lo o deputado mais votado da eleição.

Mesmo Carneiro sendo de João Pessoa, o tucano pouco agregou aos votos que já detinha na Capital. Talvez se tivesse optado por um nome como Luciano Agra, Cássio não apenas teria condições de ampliar com um nome que agregava um outro perfil à chapa, como teria escolhido alguém cujo recall de embates com RC ainda era muito nítido.

Mesmo Cícero Lucena teria cumprido, para a estratégia eleitoral, um papel mais decisivo, especialmente em João Pessoa, e teria sido mais competitivo na disputa para o Senado.

A campanha colada na de Aécio

Que Cássio é “amigo do peito” e “irmão camarada” de Aécio Neves todo mundo já sabia, mas que isso justificaria colar uma campanha na outra, aí já são outros quinhentos.

Cássio parece ver a Paraíba como vê Campina Grande. Isso pode até ter rendido alguns votos em meio ao eleitor da classe média das praias pessoenses, mas para aqueles que votaram majoritariamente em Dilma, que obteve quase 65% dos votos dos paraibanos, não em parece ser essa uma boa estratégia, especialmente no segundo turno quando a eleição ratificou a velha polarização PT-PSDB.

O Nordeste em mudança

O que a Paraíba viu ser derrotada no último dia 26 de outubro pode não ter sido apenas a primeira derrota de um político cuja invencibilidade era cultuada como um atestado de derrota antecipada para seus adversários.

Pode ter sido a derrota de um estilo, de uma maneira de fazer política, e, mais do que tudo, de uma forma social chamada “oligárquica”.

Talvez Cássio tenha experimentado os últimos espasmos de um prestígio que o projetou como grande liderança estadual, quando este, já de maneira sofrível, conseguiu derrotar em 2002 o ex-governador Roberto Paulino, e repetir a dose, também aos trancos e barrancos, agora em 2006, num duelo de gigantes do tradicionalismo político.

O que nós vimos foi a expressão personalizada nessas lideranças políticas de movimentos mais profundos, mais estruturais que estão em andamento no Nordeste.

Por mais “modernoso” que o PSDB tente se apresentar ao país, o que restou de apoio no Nordeste são os carcomidos grupos oligárquicos da direita nordestina, mesmo que figuras como Sarney – também derrotado no Maranhão pelos ventos anti-oligárquicos que chegaram pra ficar nesse Nordeste que se avermelhou de vez em 2014 – Collor de Mello e Renan Calheiros, em Alagoas, ainda que mantenham-se na base de apoio petista mais por razões políticas do que ideológicas.

E o tempo dirá se, especialmente Sarney e Renan, permanecerão onde estão.  

O certo é que 2014 confirmou e consolidou a força do lulismo no Nordeste, fenômeno que é observado eleição a eleição com maior visibilidade desde 2002.

Vejam o que aconteceu na Bahia e no Ceará, os dois mais importantes estados do Nordeste ao lado de Pernambuco. Na Bahia, até 2006 o bastião da direita carlista, o PT elegeu pela terceira vez o governador do estado, consolidando de vez a liderança do ex-sindicalista Jaques Wagner.

No Ceará, o PT venceu, depois de “bater na trave” em 2002. Em 2006 e 2010, apoiou Cid Gomes e em 2014 finalmente elegeu o governador do estado, Camilo Santana.

Mesmo o que aconteceu em Pernambuco não pode ser visto como um ponto fora da curva.

Paulo Câmara, o sucessor de Eduardo Campos, construiu sua vitória depois dos governos vitoriosos do PSB no estado, em aliança com o PT e Lula até 2013.

E a esmagadora vitória de Dilma no segundo turno deixou claro que o eleitor pernambucano sabe muito bem diferenciar as coisas. Deu uma expressiva vitória ao PSB para o governo, mas no segundo turno para presidente colocou as coisas em seu devido lugar, um alerta para a família Campos de que Pernambuco não tem dono. Assim como o Nordeste.

Dos nove governadores, com exceção de Robinson Faria, do PSD do Rio Grande do Norte, Renan Filho e Jackson Barreto, do PMDB de Alagoas e Sergipe, respectivamente, todos os outros pertencem a partidos cujos vínculos são inegavelmente com a esquerda no país.

E todos, à exceção de Paulo Câmara, foram apoiados por Lula e Dilma.

Depois eu volto para analisar o desempenho eleitoral do PT em 2014.



quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Quem venceu, quem perdeu na Paraíba em 2014: os vitoriosos

Na política assim como na guerra há derrotas na vitória. E vice-versa. 

Quem nunca ouviu falar na expressão “vitória de Pirro”, que serve para designar vitórias que foram, na realidade, grandes derrotas pelo alto custo que exigiram para serem conquistadas, fragilizando o “vitorioso” para embates futuros?

Pois bem. É hora de avaliar os resultados eleitorais da Paraíba, em 2014. 

Quem foram os grandes vencedores? Quem foram os grandes derrotados? Quem venceu e não pode comemorar como merecia? Quem perdeu e, mesmo assim, sai fortalecido do pleito?

Vamos tentar responder a essas indagações, lembrando sempre que, especialmente as derrotas, não devem ser entendidas como definitivas, e o derrotado de hoje pode vir a ser o grande vitorioso na eleição seguinte.

Vejam o caso de RC. Vitorioso em 2010 na Capital paraibana, dois anos depois foi o grande derrotado, para voltar a ser novamente vitorioso, em 2014.

Cássio Cunha Lima obteve duas grandes vitórias seguidas (2002 e 2006) para o governo, em Campina Grande, e nas eleições seguintes (2004 e 2008), para a Prefeitura, foi derrotado por Veneziano Vital do Rego. 

Recuperou todo o seu prestígio e liderança em 2010, saindo do pleito considerado quase como imbatível para a eleição seguinte e acabou enfrentando a primeira derrota eleitoral da vida.

Enfim, as vitória e derrotas de 2014 não devem servir de parâmetro para vislumbrarmos os resultados dos futuros embates, porque eles ocorrerão daqui a dois anos, e até lá muita água correrá por baixo da ponte.

Mas, certamente, elas servirão de referência e ponto de partida para a construção das alianças futuras. E das vitórias.

O desafio da análise política

Vejam como em eleição o quadro político é capaz de mudar com a rapidez suficiente para deixar incrédulos, especialmente aqueles que acreditam no congelamento de uma determinada correlação de forças, erros comuns que, entretanto, se repetem com regularidade surpreendente, se pensarmos na experiência de quem os comete.

As derrotas de Maranhão, em 2010, e Cássio, agora em 2014, para ficarmos apenas nos casos mais recentes, são exemplo de quem superestimou sua própria força e subestimou a dos adversários.

O mesmo aconteceu com RC, em 2012, cuja autossuficiência e superestimação de seu próprio prestígio em João Pessoa levou-o a uma derrota inesperada. 

Certamente, o erro de 2012 fez o governador corrigir os rumos políticos, colocar os pés no chão e se mover para evitar ser derrotado agora.

Por isso, por lidar com o curto prazo e as contingências próprias do mundo da política, o grande desafio da análise – não da ciência política, registre-se – não é prever resultados, mas estabelecer com clareza a correlação de forças das disputas e projetar o seu desenvolvimento tendo como principal finalidade demarcar as ações que se empreendidas no futuro pelos contendores.

Os vitoriosos de 2014

Há cinco meses projetava-se como os grandes derrotados dessa eleição o governador Ricardo Coutinho e o PMDB.

O primeiro, acossado pelo lançamento da candidatura de Cássio Cunha Lima, ex-aliado e então favorito nas pesquisas.

O segundo, o PMDB, a caminho do isolamento, vivia na indefinição sobre seu candidato ao governo, Veneziano Vital, numa aliança com o PT que não prosperava e sem grandes perspectivas para eleger expressivas bancadas de parlamentares.

Um movimento foi o responsável para alterar o destino desses dois sujeitos políticos: a conversa do governador Ricardo Coutinho com o prefeito pessoense Luciano Cartaxo, que aconteceu na primeira quinzena de junho, e que selou uma aliança inesperada, para dizer o mínimo.

O anúncio posterior e unilateral do abandono por parte do PT da aliança com o PMDB teve consequências tão profundas no resultado do pleito de 2014 que só o tempo foi capaz de estabelecê-las com razoável precisão.

Ricardo Coutinho 

Primeiro, tirou o Ricardo Coutinho do isolamento político.

Segundo, agregou o precioso tempo de TV petista, o que acabou sendo decisivo durante a campanha para que a campanha socialista pudesse mostrar tanto as realizações do atual governo como “desconstruir” ou “reconstituir” a imagem de Cássio Cunha Lima no estado, por mais de três anos preservados dos ataques dos adversários.

Terceiro, a aliança com o PT juntou as duas principais máquinas administrativas e políticas na estratégica João Pessoa, que abriu caminho para RC recuperar a hegemonia eleitoral perdida  sem a qual seria impensável qualquer recuperação e perspectiva de vitória no resto do estado.

Quarto, a decisão do PT de abandonar os peemedebistas foi a pá-de-cal na candidatura de Veneziano Vital, que já vinha dando sinais de que não seria mantida.

E a inevitável retirada de Veneziano abriu caminho para a efetivação da temerária estratégia de RC de resolver, se possível, a disputa em primeiro turno. 

Estabelecidas as bases em João Pessoa, RC passou a atuar na consolidação e construção de alianças locais – com os Moraes, no Vale do Sabugi, com Cralos Antônio, em Cajazeiras, com os ex-prefeito Tayrone e seu o grupo, em Sousa, e em Campina, com o Feliciano. 

Além disso, RC buscou conquistar o eleitor peemedebista que nas últimas três eleições votou contra o cassismo, inclusive em 2010, quando o candidato do grupo tinha sido o próprio RC.

Coutinho apostou que Cássio tinha um teto eleitoral na Paraíba, o que nunca o tornou imbatível e, como consequência disso, na capacidade do governador, ajudado pela força do cargo, de mobilizar essa outra banda do eleitorado.

A competente campanha na TV, que desnudou Cássio Cunha Lima relembrando fatos pretéritos de sua vida pública, bem como seu desastroso governo, teve como sempre papel decisivo.

A confrontação calculada ao longo dos quatro anos de governo com a Assembleia fortaleceu o discurso de RC e, agora no confronto com Cássio, um quadro tradicional da tradicional política paraibana, caiu como uma luva na estratégia discursiva ricardista. Era RC contra a política tradicional.

Ponto a ponto, RC foi superando todas as dificuldades, inclusive quando mudou de marqueteiro pouco antes do início do embate, e fez a campanha entrar nos eixos da tradicional polarização que marca a política no estado há tempos.

O PMDB

A estratégia deu certo, no que RC foi ajudado pelas contingências nacionais, com a ida de Dilma e Aécio Neves para o segundo turno.

O que teria acontecido caso fosse Marina e não Aécio a disputar com Dilma? Esse o único fato que eu apontava no final do primeiro turno que poderia interromper as expectativas de vitória de RC.

Fato que certamente foi muito ajudado pelas possíveis acomodações nacionais dos peemedebistas no futuro governo de Dilma, e também pela possível aliança em apoio a Veneziano Vital, em 2016, em Campina Grande.

O apoio do PMDB, de Vital e Veneziano e de José Maranhão, dos Paulino, em Guarabira, dos Motta, em Patos, dos Maia, em Catolé, que foram fundamentais para a criação da frente anticassista no segundo turno.

Especialmente pela vitória eleitoral do PMDB, que saiu fortalecido pelas vitórias obtidas para a Câmara dos Deputados, onde ocupará três vagas, e para a Assembleia Legislativa, onde ocupará quatro vagas.

Além da eleição do Senador José Maranhão, lançado às pressas e em função daquele movimento que fez Ricardo Coutinho de atrair o PT, fato que, temporariamente, fragilizou o PMDB, mas que, no desenrolar dos acontecimentos, foi a salvação da lavoura para o partido.

Se observarmos bem, a manutenção da aliança PSB-PMDB-PT é a reconfiguração, da antiga e poderosa frente de partidos que atuou unida nas eleições paraibanas do segundo turno de 2002 até as eleições municipais de 2008.

Sob a liderança do PMDB, agora ela passa à liderança de RC. Coisa de profissional.

Depois eu volto para falar dos derrotados.