quarta-feira, 26 de junho de 2013

ESTOU COM JOAQUIM BARBOSA: ÀS RUAS, PELA CONSTITUINTE!

“O que nós temos que ter é uma consciência muito clara de que há uma necessidade no Brasil de incluir o povo nas discussões sobre reformas. O Brasil está cansado de reformas de cúpula. Examinem a história do Brasil, examinem a história da nossa vida independente como nação que vocês vão descobrir uma coisa: todos os momentos cruciais da nossa história tiveram soluções de cúpula. A Independência foi um conchavo de elites portuguesas e elites brasileiras; a República foi um movimento em que o povo esteve completamente excluído. O povo acordou no dia 15 de novembro sem saber que tinha havido uma mudança de regime. Além disso, nós tivemos alguns espasmos, crises constitucionais que também foram resolvidos em cúpula. Então, o que se quer hoje no Brasil é isso: é o povo participando das decisões.”






Ontem, enquanto Joaquim Barbosa, presidente do STF, dava uma entrevista coletiva 
e fazia uma defesa política da convocação da Constituinte, ideia lançada pela Presidenta Dilma Rousseff no dia anterior, a grande imprensa e o conservadorismo parlamentar se movimentavam cuidadosamente para sepultar a proposta, o que, enfim, aconteceu no fim do dia, quando o governo anunciou um acordo (feito com quem?) abandonando a proposta antes que ela completasse um dia de vida.

Este acordo desdenha do povo brasileiro e daqueles que foram às ruas nos últimos dias por mudanças na política nacional. E é a expressão mais legítima do que Joaquim Barbosa havia criticado na história de exclusão do povo dos momentos de grandes decisões do país. Observando retrospectivamente, Barbosa profetizava o que iria acontecer dali a algumas horas:

Tentem escutar:

“O que nós temos que ter é uma consciência muito clara de que há uma necessidade no Brasil de incluir o povo nas discussões sobre reformas. O Brasil está cansado de reformas de cúpula. Examinem a história do Brasil, examinem a história da nossa vida independente como nação que vocês vão descobrir uma coisa: todos os momentos cruciais da nossa história tiveram soluções de cúpula. A Independência foi um conchavo de elites portuguesas e elites brasileiras; a República foi um movimento em que o povo esteve completamente excluído. O povo acordou no dia 15 de novembro sem saber que tinha havido uma mudança de regime. Além disso, nós tivemos alguns espasmos, crises constitucionais que também foram resolvidos em cúpula.”

Depois desse resumo primoroso do que determinou o nosso destino histórico como nação e como povo, Joaquim Barbosa resume bem o significado profundo, inaudito, talvez inconsciente, do sentimento que ocupa as ruas do país hoje:

“Então, o que se quer hoje no Brasil é isso: é o povo participando das decisões.”

Se quiser assistir a entrevista completa, clique aqui.

E ontem, o que se verificou foi exatamente isso. Um acordo de cúpula entre Dilma e o PMDB para abandonar a ideia da Constituinte e alijar o povo em mais um momento crucial da nossa história. O que se fez, mais uma vez, foi o início de uma transição controlada pelo conservadorismo para que as elites continuem a decidir na “cúpula” as grandes questões do país, novamente sem a pressão popular. 

Esse é mais um capítulo da mais larga tradição histórica brasileira desde a Independência: a da modernização conservadora. Além dos eventos citados acima por Joaquim Barbosa, a “revolução” de 1930, a ““revolução”” de 1964, a derrota da emenda das Diretas, Já e a subsequente eleição de Tancredo Neves, candidato da oposição, de maneira indireta, em 1984, e, por fim, o “Fora Collor”, um movimento de massas novamente capturado pelas elites que resultou na consolidação do neoliberalismo no poder com a eleição do PSDB, em 1994. Em todos esses acontecimentos, sempre antecedidos por mobilizações populares, as decisões foram tomadas na cúpula da grande elite econômica e política brasileira.

Em diversas ocasiões, eu já afirmei aos meus alunos da UFPB que ninguém compreendeu melhor a natureza do processo histórico brasileiro do Lula. É dele essa estratégia de, durante o seu governo, “mudar conservando”. Foi assim que Lula conseguiu não apenas governar, como introduzir algumas mudanças, mas sempre de limitado alcance, que acabou por ser um modelo econômico e social incompleto e de limitado alcance estratégico por conta de sua lenta aplicação. E um dos motivos reside na aliança conservadora que se impôs no Congresso pela governabilidade

A estratégia de propor a Constituinte deve ter saído da cabeça de Lula. Ele sabia o terror que provocaria na elite e no PMDB. Com o seu anúncio, como afirmei antes, Dilma Rousseff colocara o conservadorismo nas cordas ao lançar a ideia de um plebiscito e de uma Constituinte para decidir sobre a Reforma Política, além de lembrar propostas que dormitam nas prateleiras do Congresso, como a da destinação de 100% dos royalties do petróleo para educação.

A ideia da Constituinte foi sepultada antes que completasse um dia de vida pela pressão da grande imprensa, via opiniões encomendadas de juristas, e pela movimentação das lideranças do PMDB, que ocupam cargos-chave da República (as presidências da Câmara e do Senado). Não foi por outro motivo que a proposta de mais verbas para educação foi aprovada sem muito esforço – depois de anunciada a desistência do governo de propor a Constituinte, - com acordo prévio das lideranças partidárias e sem um pio dos governadores, que faziam grande oposição à proposta.

Por isso, os estudantes nas ruas não podem aceitar esse acordão. E eles tem dois grandes aliado: sua própria força e desejo de mudança política e Joaquim Barbosa, Presidente do Supremo Tribunal Federal.

terça-feira, 25 de junho de 2013

O POVO NA RUA: ALIANÇA ENTRE PT E PMDB PODE ESTAR COM OS DIAS CONTADOS

Sob pressão das ruas, esse casamento continua?
A presidenta Dilma Rousseff deixou a defensiva política, onde a grande imprensa e a oposição desejavam que ela permanecesse, acuada pelas grandes manifestações de rua que estouraram no Brasil nos últimos quinze dias, e procura retomar a iniciativa, promovendo talvez uma importante guinada em seu governo.

Dilma anunciou ontem que vai propor uma Constituinte, exclusiva para produzir uma reforma política, bem como outros pontos que falam diretamente aos manifestantes nas ruas: nova legislação contra a corrupção, que a considere “crime hediondo", mais rapidez na implantação da Lei de Acesso à Informação, pacto de responsabilidade fiscal, mais de R$ 50 bilhões para investimento em mobilidade urbana, criação do Conselho Nacional de Transporte Público e, por fim, a defesa enfática da aplicação de 100% dos royalties do petróleo em educação.

Com essas ações, Rousseff pretende usar a força desse movimento para forçar sua base de apoio no Congresso a promover as mudanças que há muito se buscam no Brasil, e que muitos esperam ver concretizadas desde que Lula assumiu o governo, em 2003, mas que, em grande medida, continuam a ser obstadas pelos partidos conservadores, que não apenas aceitam as benesses provenientes do apoio político, mas tentam estabelecer a dinâmica e a direção da agenda política do Congresso.

Mais do que à oposição, amplamente minoritária no Congresso, Dilma dirige-se diretamente ao PMDB, ao PP, ao PRB, ao PR, ao PSD, partidos que sempre resistiram em dar suporte para que o Brasil promovesse mudanças que, mesmo limitadas, já representam um grande avanço para o país.

Portanto, talvez o estejamos a ver nascer é o começo de um rearranjo de forças no congresso e na política nacional. Dilma, Lula e o PT já devem ter percebido que o que foi ferido de morte no curso dessas manifestações foi a aliança com parte do conservadorismo político brasileiro, que tem cobrado um alto preço à história e à trajetória do PT nesses últimos dez anos e meio de governo. Mantida essa aliança conservadora, o abismo entre o governo e as ruas, cuja ponte só pode ser erguida com acenos concretos de mudança, o PT continuará sitiado. E esse é o primeiro passo para um golpe, como já vimos acontecer em anos recentes na América Latina.

E especialmente o casamento de conveniências entre PT e PMDB deve começar a entrar em crise, exatamente porque esse é um dos motivos para a imobilidade e acomodação do petismo no governo. O PT, incapaz de dar respostas às demandas históricas da população e ao seu próprio projeto de país por conta de uma aliança conservadora, preferiu afastar-se das ruas. Quebrado esse vínculo com as ruas, o partido se viu desorientado, incapaz de dar uma resposta ao seu próprio imobilismo diante das centenas de milhares de jovens que acorrem às mobilizações.

Foi um reencontro forçado e doloroso, mas, ao que parece, necessário. Havia um latente esgotamento do projeto que uniu PT e PMDB, esgotamento que se aprofundava na medida em que as demandas históricas, que explicaram e deram sentido à própria existência do PT, se acumulavam sem uma resposta à altura durante os governos de Lula e Dilma Rousseff. É essa resposta que a presidenta tenta dar com as iniciativas de ontem. A importância estratégica dada à reforma política se explica como um golpe que se destina a quebrar a espinha dorsal dos partidos conservadores, mantida pelo financiamento privado das grandes empresas e bancos.

Talvez seja essa a segunda consequência que as manifestações produziram num curto espaço de tempo. A primeira foi o recuo quase que simultâneos dos prefeitos nos aumentos dados no preço dos transportes públicos. A segunda é o fim do imobilismo e da acomodação a que estava submetido o governo petista em sua aliança com o conservadorismo.


Resta saber se o PMDB vai romper essa aliança ou finalmente vai se render às necessidades históricas das mudanças. 

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Quem é contra a política é a favor de quê? O movimento dos estudantes tem partido, só que eles não sabem

Os protestos que começaram na semana passada e se alastraram por todo o país finalmente ganham uma cara, mesmo com todo o esforço de suas lideranças para mostrar feições “apartidárias” e “apolíticas”: as feições de um direitismo de membros que se mostram capazes de dirigir a massa e não se envergonham de se afirmarem contra a política e, em alguns casos, a defender mesmo um golpe contra as instituições democráticas do país.

Nas manifestações de ontem, o que se viu foram demonstrações de puro autoritarismo que lembraram os fascistas dos anos 1920 e 1930, que atacavam nas ruas qualquer grupo que tivesse qualquer ligação com a esquerda, especialmente comunistas. Antes da grande manifestação de ontem em João Pessoa, eu presenciei in loco o momento em que genuínas lideranças do movimento estudantil e popular, como as do PSTU, foram acossadas e obrigadas a arriar suas bandeiras simplesmente porque desejavam expressar o apoio do partido à luta dos estudantes.

Em São Paulo, como mostraram diversos relatos de jornalistas, como o de Luiz Carlos Azenha (clique aqui), militantes da CUT e do PT sofreram violentos ataques até que foram obrigados a se dispersarem no meio da multidão.

Na minha participação de ontem no Correio Debate, cujo programa foi todo dedicado às manifestações estudantis, tive a oportunidade de tratar dessa questão e ressaltar que, qualquer solução fora da política para a situação como a que estamos vivenciando hoje, não pode ser outra que não o autoritarismo, como aconteceu em 1964. Quando a política é festejada como uma mal a ser combatido, só nos restam a desesperança e a solução autoritária. Não adianta bradar contra os partidos, é preciso compromissá-los com proposta, projetos, ideias. Ou seja, a política não é o problema, é a solução.

E se o PT, ao contrário do PSTU, abandonou as lutas históricas que marcaram sua trajetória como partido, lutas que lhe conferiram legitimidade para que finalmente conquistasse o direito de governar todos os brasileiros, o esforço de retorno a essas lutas deve ser saudado como uma autocrítica – talvez forçada pelas circunstâncias, é verdade. O que se deve cobrar do PT – e de sua base social, incluída a Central dirigida por ele, a CUT – é o compromisso com as bandeiras das mudanças estruturais no Brasil. E que esse compromisso se expresse nas ações do governo federal.

Mantido, mesmo assim, esse preconceito, é legítimo que a CUT, a UNE – e eu recomendo o mesmo ao PSTU – e todas as forças compromissadas com as bandeiras difusas que não são defendidas com muita clareza nas manifestações estudantis, comecem a construir suas próprias manifestações para dar algum sentido POLÍTICO a esse movimento, antes que ele se esgote em si mesmo ou seja apreendido pelo conservadorismo para legitimar suas ideias de sociedade e de política.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Falta foco para a luta dos estudantes? Que tal 10% do PIB e 100% dos recursos do Pré-Sal aplicados em EDUCAÇÃO?


O povo, os estudantes, os trabalhadores ocupam aos milhares às ruas do Brasil, mas parecem não ter um foco. A luta pela redução no valor das tarifas mostrou-se um desafio fácil demais quando a população adere massivamente a uma bandeira política. É preciso um salto de qualidade para não por a perder esse formidável renascimento das lutas sociais no Brasil.

E esse salto pode estar logo ali: a aplicação de 10% do PIB na educação, começando pela aprovação do Projeto de Lei nº 5.500, que determina a aplicação de 100% royalties do petróleo exclusivamente em educação.

Para evitar, inclusive, que a previsão de arrecadação de quase dois trilhões de dólares com as jazidas do Pré-Sal, em 70 anos, não vá para ralo do mau uso do dinheiro público, em que cidade ricas em petróleo, como  Macaé e Campos, as duas maiores produtoras de petróleo do Brasil, mas que tem índices vergonhosos de Desenvolvimento Humano: Macaé é apenas o 806º, enquanto Campos, que é a ser a maior produtora de petróleo do Brasil, ocupa o 1812º entre todos os municípios brasileiros.

Por isso, não podemos perder essa oportunidade histórica de finalmente começarmos a transformar a educação brasileira. Com os investimentos do Pré-Sal, o Brasil pode dobrar os investimentos no setor e nos tornarmos a nação que mais investe em educação no mundo. Para superar o atraso acumulado, é necessário que o Brasil mantenha por um bom período os 10% de investimentos do PIB para reestruturar nosso sistema educacional público.


Eis uma bandeira para aqueles que desejam mudar o Brasil de verdade. E no melhor estilo: com o povo na rua.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

SOBRE PROTESTOS ESTUDANTIS E VAIAS PRESIDENCIAIS



Os protestos que ocorreram em São Paulo na semana passada contra o aumento de R$ 0,20 no preço das passagens de ônibus e pelo direito ao passe-livre, e que prometem prosseguir durante esta semana, na capital paulista e em outras cidades do país, podem ter várias motivações que não podem ser reduzidas a explicações simplistas.

Tenho escutado e lido muito sobre esses protestos e o que se apreende, dependendo do interlocutor, é a valorização da motivação política, quando se trata de um simpatizante lulo-petista – ou, de outro lado, da superestimação da insatisfação popular contra o governo Dilma, especialmente por conta da inflação – motivação econômica – quando se trata de um opositor, normalmente de classe média. O fato é que as duas alternativas não são excludentes, mas são insatisfatórias para elucidar o que leva jovens às ruas nesse momento para manifestar publicamente suas insatisfações. 

Muitos dos que enxergam apenas motivações políticas nesses movimentos esquecem suas próprias origens, seja no sindicalismo ou no movimento estudantil. A vitória de Lula em 2002 deixou órfã a organização de movimentos de protesto com essas características. A CUT e a UNE, a não ser quando se trata da defesa de questões corporativas, abandonaram as ruas como via de defesa e expressão de suas reivindicações históricas.

É esse o vácuo que se identifica quando diz-se que esses movimentos não tem direção. As forças de esquerda de menor expressão, como o PSTU e o PSOL, que participam dessas manifestações, não são suficientemente fortes e organizadas para dar direção a esses movimentos, que são tragados por grupos anarquistas ou neoanarqusitas, ou de movimentos sociais e lideranças refratárias a presença de partidos políticos.

E movimentos massivos como o que se constrói em São Paulo, com capacidade de se irradiar por todo o país, tem sua dinâmica cíclica. Eles começam como manifestação de segmentos e, por suas bandeiras mais amplas, conseguem incorporar e a agregar apoios de parcelas expressivas da sociedade.

E eles não são, por assim dizer, como uma gripe, que nos acomete várias e várias vezes no decorrer da vida, nem sarampo, que só dá uma vez. Por isso, eles parecem ter essa característica cíclica. Eles explodiram em 1968, voltaram a se repetir dez anos depois, na segunda metade da década de 1970, voltaram com força em 1984, na campanha da Diretas já, e, por fim, no Fora Collor, em 1992.

Onde estão as bandeiras vermelhas?
O que havia de comum em todos eles? A direção da esquerda e a presença majoritária da participação estudantil. São os estudantes que, ao mesmo tempo, conferem maior amplitude e apelo às reivindicações e o apoio dos setores médios da sociedade, normalmente desconfiados com manifestações de rua.

Talvez estejamos a vivenciar um desses movimentos cíclicos, que ainda podem crescer muito. O de hoje, em São Paulo, vai levar mais gente do que levou na quinta última; o de João Pessoa, pelo interesse que já desperta, também. Eles crescerão, e o melhor para os prefeitos emparedados é atender agora a ter de recuar sob uma pressão inadministrável.

E recuar, no caso de São Paulo, é fazer a passagem voltar ao preço anterior (R$ 0,20 a menos) e iniciar uma ampla discussão nacional sobre a miséria que é o transporte público no Brasil, mas também sobre o aumento de gastos com a saúde e a educação – eis um bom momento para, por exemplo, forçar o Congresso e os governadores a aprovarem a aplicação de 100% dos royalties do Pré-Sal na educação.

Por outro lado, achar que esses movimentos são organizados pela “oposição” é o mesmo que acreditar que aquela turma que vaiou a presidenta tem disposição, interesse ou mesmo capacidade para liderar quem quer que seja em protestos. A não ser que seja em aeroportos – brasileiros – por conta de atraso nos voos. No máximo eles se dispõem a participar das eternas correntes de e-mails que espalham mentiras (sempre contra Lula) internet adentro.

O que não quer dizer que a oposição à Dilma Rousseff não tente capitalizar com esses movimentos, buscando desgastar a presidenta, como se os protestos fossem contra o seu governo. A grande imprensa busca no momento estabelecer essa conexão, mas ela é artificial. 

Ora, como um governo com a aprovação que tem o de Rousseff pode mobilizar e levar tanta gente contra si para a rua? Mas, é preciso prestar atenção no que as ruas estão a gritar. Em política, tapar os ouvidos nessas horas é a pior das atitudes, pois quem sai às ruas são jovens e trabalhadores que já estão ou começam a ficar cansados (ops!). 

Quase 11 anos depois do PT conquistar o poder eles esperam por mudanças mais profundas e não aguentam tanta lentidão. Eles querem mais bem estar social. Eles querem uma melhor, muito melhor educação. Eles querem ser bem atendidos nos hospitais e postos de saúde. Eles querem andar na rapidez do metrô e não padecer por horar em ônibus lentos e desconfortáveis, apenas porque os donos das empresas de transporte público desejam continuar lucrando com o desconforto do trabalhador e do estudante pobres.

Eles gritam isso. E é melhor apurar bem os ouvidos para escutá-los.


Esse movimento ainda vai crescer mais

sexta-feira, 14 de junho de 2013

AGRA NO PEN (II)

Agra estará na chapa da oposição. Resta saber em que lugar
Na última vez em que abordei a decisão do ex-prefeito Luciano Agra de se filiar ao PEN e as consequências desse ato, finalizei o texto com uma constatação: “Agra entrou definitivamente no jogo”. O jogo a que me refiro, claro, são as eleições de 2014, quando os paraibanos irão às urnas, entre outras coisas, para eleger um novo governador e um novo senador.

Portanto, Luciano Agra tem três alternativas à sua disposição, já que, pela estatura política que adquiriu depois de derrotar o governador Ricardo Coutinho em João Pessoa, pode escolher entre uma das vagas disponíveis na formação da chapa da oposição que ora se constrói: governador, vice-governador ou senador.

Para governador,  Agra, que era um dos possíveis candidatos quando o ano começou, não demonstrou fôlego para levar à frente esse projeto, e um dos motivos foi a ausência de uma base partidária que desse lhe desse suporte.

O PT perdeu um forte candidato ao governo

O PT paraibano, no seu costumeiro hegemonismo e na recente e risível mania de grandeza, associado a uma forte dose de autismo político de suas lideranças, fez questão de não oferecer a necessária segurança para o ex-prefeito de João Pessoa levar à frente esse projeto.

O argumento – também risível – de que essa pretensão não pode ser assegurada a ninguém num partido como o PT, se desmoraliza por cima, logo no mais alto escalão da República. A Presidenta Dilma Rousseff pertenceu, até 2001, ao PDT. Nesse ano, ainda durante o governo Olívio Dutra, a quem serviu como Secretária Estadual de Minas e Energia, filiou-se ao PT e mante-se como uma desconhecida filiada até torna-se Ministra da Casa Civil.

E foi Lula, com sua perspicácia política, que enxergou em Dilma as qualidades de candidata com consistência capaz de levar seu projeto à frente. Consistência que pode ser lida como fidelidade a um modelo desenvolvimentista, iniciado por Lula, e que Dilma procurar aprofundar em seu governo.

Pois bem. Dilma foi a carta retirada do colete de Lula em 2009 que o PT, com ou sem sal, teve de engolir. E Dilma não tinha nem de longe a liderança interna de José Dirceu, nem a notoriedade de Marta Suplicy, ou mesmo a trajetória de Tarso Genro. Dilma tinha o que ela precisava: o apoio do presidente Lula, que trabalhou para quebrar resistência e unir o PT em torno de si. E foi assim que uma desconhecida não apenas foi a candidata petista como elegeu-se a primeira mulher presidenta do Brasil.

Foi esse apoio das lideranças petistas paraibanas que faltou a Luciano Agra que não lhe deu a segurança de que o PT era uma alternativa partidária confiável. Sem isso, e com a experiência traumática recente de traição, Agra partiu para o PEN, e o PT perdeu não apenas um grande quadro, mas uma boa – e talvez a única – liderança capaz de disputar em condições de vitória o Governo da Paraíba em 2014.

Candidato a vice de Veneziano: é bom para o cabeludo, mas, é bom também para Agra?

Veneziano e Agra: o que será bom para os dois?
A pergunta acima é um ótimo critério para definir-se uma aliança. Tem que ser bom para os dois lados que pretendem se aliar. No caso de Veneziano Vital do Rego, que depende fortemente de um candidato que neutralize o peso da força do pessoense Ricardo Coutinho na capital, Luciano Agra é o candidato a embalar os sonhos mais reluzentes do cabeludo peemedebista quando ele sonha com o Palácio da Redenção.

Agra foi um prefeito bem avaliado de João Pessoa e vítima do algoz – alguns adoram chama-lo de “ditador” – Ricardo Coutinho, que o impediu de pelo menos tentar o apoio do povo pessoense para seguir administrando a capital. Ou seja, Agra carrega em uma só candidatura, duas qualidades que provavelmente serão muito bem apreciadas pelo eleitorado pessoense em 2014: além de bom administrador, ele é o mais bem acabado produto do sentimento antiricardista, algo que a sagacidade de Nonato Bandeira foi capaz de construir – sagacidade que o PT, “se achando”, dispensa sem cerimônia.

Enfim, a candidatura de Luciano Agra é perfeita para o projeto de Vital do Rego. A questão é saber se Agra tem tanto a ganhar quanto Veneziano. Ser vice-governador tem lá sua relevância, mas o problema é o futuro. Eleito, Veneziano terá um horizonte de oito anos para trabalhar, e Agra, que já não é nenhum menino, não tem tanto tempo disponível para esperar nem manter seu prestígio.

Agra precisa aproveitar a onda que se formou quando ele provocou o tsunami que levou o castelo de areia que RC construía em João Pessoa. Mas, como toda onda, o tsunami pode ir perdendo força e desaparecer quando chega à praia. Exemplos disso não faltam na política paraibana. RC é um desses que aproveitou bem a onda depois de 2008. Já o ex-governador Roberto Paulino, que quase derrotou Cássio Cunha Lima, em 2002, viu aquela onda desfigurar-se até quase desaparecer.

Será no equilíbrio entre o que é bom para o projeto de Veneziano Vital do Rego é bom para Agra que a composição dos sonhos do PMDB se realizará. Por que, como eu disse, Agra tem alternativas.

Senado: o cavalo selado

Para candidatos com o perfil de Luciano Agra, nenhum quadro tão favorável se apresentou até hoje nas eleições para o Senado como o que começa a se desenhar para 2014. Não teremos na disputa, por exemplo, nenhuma grande liderança estadual de prestígio inquestionável, a exemplo do próprio Veneziano e Cássio Cunha Lima, nomes com estatura capaz de mobilizar pelo seu prestígio a paixão do eleitorado.

Além disso, não temos um governador candidato à reeleição que se apresente com uma força eleitoral capaz de impulsionar qualquer candidatura do bloco governista – e se for o ex anti-ricardista Cícero Lucena, então... – como aconteceu em 1998, quando José Maranhão praticamente deu a vitória a Ney Suassuna.

Some-se a isso o fato de que a oposição tem se mostrado capaz de agregar lideranças e importantes partidos, o que traz consigo o charme irresistível da expectativa de vitória e poder. Um quadro assim deve despertar uma atração também irresistível em políticos capazes de “ler” a realidade para saberem ousar.
Cássio não tem nada contra Agra;
muito pelo contrário

E um candidato como Agra tem outros predicados, além dos já citados, que lhe acrescentam força eleitoral: além de ser pessoense e campinense ao mesmo tempo, Agra tem livre transito entre os cassistas, e com o próprio Cássio – o que ficou patente com a ida de Ruy Carneiro, presidente do PSDB, ao ato de filiação do ex-prefeito de João Pessoa ao PEN, que fez questão de registrar que estava lá a pedido do senador tucano. RC deve ter estremecido quando soube da notícia. Isso no mínimo assegura que ninguém, à exceção do governador, trabalhará com afinco para derrota-lo.

Enfim, como eu disse, Agra tem diante de si as alternativas que são oferecidas a um candidato a governador com prestígio, e que desistiu da disputa e, por isso, pode escolher qual lugar na chapa vai ficar.


A questão é saber o que ele pretende para além de 2014. 

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Agra no PEN (I)

Para Governador, Vice ou Senador, Agra é um poderoso nome
da oposição. RC que se cuide
A filiação do ex-prefeito de João Pessoa, Luciano Agra, ao Partido Ecológico Nacional (PEN), que na Paraíba é dirigido pelo Presidente da Assembleia Legislativa, Ricardo Marcelo, compõe o segundo passo da trajetória de Agra rumo à disputa de 2014 como grande protagonista.

O primeiro passo ele já deu, quando, impedido no PSB de disputar sua reeleição, rompeu com o governador Ricardo Coutinho, apoiou a candidatura de Luciano Cartaxo, do PT, a Prefeitura de João Pessoa, no ano passado, e foi o grande vitorioso daquelas eleições. Uma surpresa para quem, até bem pouco tempo, era um desconhecido técnico em planejamento urbano e, por essas qualidades, foi indicado na chapa de reeleição do então prefeito da capital paraibana, Ricardo Coutinho.

Ao assumir a prefeitura com a renúncia de RC, em 2010, Agra não apenas se tornou conhecido, como viu seu crescer seu prestígio político, de tal maneira que a percepção de que o aprendiz havia superado o mestre ganhou notoriedade, e o então prefeito adquiriu asas para voar voos próprios. A provável conjunção de ciúmes, egocentrismo e o medo que Agra deixasse a sombra de RC e gestasse a sua própria para abrigar, no PSB, os muitos carentes de uma convivência mais afetuosa e menos subalterna, fez o atual governador cometer o desatino de pedir, e ver exibida numa bandeja de prata, a cabeça do até então fiel escudeiro.

Daí em diante, Agra foi outro Agra. Rebelou-se contra quem parecia oprimi-lo psicologicamente – ele chegou a declarar depois do racha com RC que estava, antes de tudo, aliviado por não ter mais que conviver com Coutinho – e foi para a luta com a principal e mais eficaz arma política: a de ser um administrador bem avaliado e um político confiável. Talvez porque Agra não encarne o modelo do que o povo entende como político.

Agra mostra uma aparente ingenuidade e fala lenta e compassadamente, usa roupas brancas, informais, com seu indefectível chapéu panamá, que faz parece-lo uma figura fora do lugar, mas o povo parece adorar. Não foi por outro motivo que, quem ousou combate-lo, tomou de volta uma rebordosa em 2012. Foi o que Ricardo Coutinho fez, crente na sua infalibilidade política e descrente nos dados de sua impopularidade.

E os dois rivalizaram pela imprensa em papéis opostos: Agra era o Cristo pregado na cruz pelas ordens de Ricardo Coutinho, que cumpriu com perfeição o papel de Pilatos. E quanto mais eles se atracavam verbalmente, mais Agra e seu candidato, Luciano Cartaxo, tomavam conta da oposição a RC. No final, a candidata do governador abocanhou 20% do eleitorado pessoense, enquanto os candidatos da oposição juntos somaram 80%, com Cartaxo na liderança folgada. Agra não apenas havia vencido, como esmagara seu antigo líder no fora o seu único e mais importante reduto.

Por isso, Agra será o grande nome da eleição em João Pessoa. Para governador, para vice ou para o Senado, a eleição passa por ele na Capital e a oposição ganha um nome tanto com prestígio eleitoral como com capacidade de agregar os insatisfeitos com o governador e sua gestão. 

Luciano Agra entrou no jogo definitivamente. RC que se cuide.

Ausência do PT


A ausência de representantes do PT no ato de filiação de Luciano Agra ao PEN, não pode ser lido apenas como uma demonstração de incômodo, mas uma absoluta falta de respeito e generosidade política com quem foi o principal responsável e artífice da vitória de Luciano Cartaxo, vitória que deu ao partido a condição de protagonista que suas lideranças diziam tanto perseguir.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

A candidatura de Rômulo Gouveia para o Senado: a Paraíba é só Campina?

Vital do Rego Filho e Cássio são dois dos três senadores da Paraíba.
E Rômulo Gouveia quer ser o terceiro
O Vice-Governador, Rômulo Gouveia, anunciou essa semana sua candidatura ao Senado. Se a aliança Cássio-Ricardo Coutinho se confirmar, como tudo indica, Gouveia deve compor a única vaga para o Senado na chapa majoritária governista. A vaga de vice deve ser indicação do ex-governador Cássio Cunha Lima.

A candidatura de Rômulo Gouveia ao Senado trás evidentes implicações políticas e eleitorais, tanto no arranjo interno do bloco cassista quanto na disputa eleitoral em si.

A primeira e mais direta implicação é o alijamento da possibilidade do atual Senador, Cícero Lucena, concorrer à reeleição. Mas, essa é uma questão que merece um tratamento especial e não cabe debate-la agora.

Concentremo-nos na segunda implicação, que tem a ver com a geopolítica da Paraíba. Como todos sabem, Rômulo Gouveia é de Campina Grande que, além de eleger 1/3 da bancada de Deputados Federais da Paraíba (Aguinaldo Ribeiro, Romero Rodrigues, Damião Feliciano, Nilda Gondim), tem entre os seus cidadãos dois dos três senadores paraibanos (Vital do Rego Filho e Cássio Cunha Lima), ou 2/3 da representação do estado no Senado.

Pois bem. Caso Rômulo Gouveia dispute essa vaga e logre êxito, a consequência mais direta da escolha da maioria dos paraibanos será dar a Campina o controle absoluto de todas as vagas que a Paraíba detém no Senado a uma única cidade.

Em termos práticos, essa situação pode ter como consequência eleitoral para Gouveia uma grande facilidade para pedir votos na bairrista Campina, mas isso pode lhe render claros constrangimentos no resto do estado.

Não se trata aqui de combater bairrismo com bairrismo. Isso, além de ser um atraso político, não surte muito efeito, especialmente em cidades como João Pessoa. A questão diz respeito a representatividade do eleitorado no poder.

Afinal, nós vivemos numa democracia representativa, e a eleição de Rômulo Gouveia criaria uma situação de completo desequilíbrio representacional com outras cidades e regiões da Paraíba.

Isso terá relevância no meio do eleitorado paraibano no próximo ano? O mais provável é que sim, pois a Paraíba jamais viveu algo semelhante em toda sua história.

Campina sempre produziu grandes quadros e lideranças políticas, mas sua hegemonia nunca chegou ao ponto de ocupar todas as vagas no Senado. O resto da Paraíba, e mesmo parte de Campina, pode optar para que essa situação não se efetive.

Especialmente para a oposição, esse é mais um elemento a reforçar o seu discurso, não contra Campina, pois, em qualquer situação, ela manterá sua representação no Senado, que já é ampla, mas em favor de uma representação politica e espacialmente mais equilibrada e mais democrática, e que expresse de maneira mais clara o que é a Paraíba. Nós também somos Campina, mas não somos Campina.

Outro consequência do anúncio da decisão do vice-governador é que ela começa a acelerar as definições e o quadro político começa a se afunilar e ganhar contornos mais nítidos para 2014. 

Além de Gouveia, Luciano Agra já fez sua opção e tudo leva a crer que o ex-prefeito de João Pessoa deve ser peça-chave no projeto de unir a oposição já no primeiro turno.

Caso isso aconteça mesmo, restará compor a chapa para enfrentar uma catalizadora polarização com os candidatos da situação, polarização que tem marcado as eleições na Paraíba, à exceção de 1998, desde 1982.

Uma das grandes dúvidas que ainda persistem tem relação com o PT. Até quando o partido de Lula vai manter-se imobilizado. Vai esperar que todos os espaços sejam ocupados ou rumará para ocupar o espaço que lhe é devido.

No caso do Senado, tem um cavalo selado que começa a se preparar para a corrida. Resta saber quem será mais hábil e mais rápido para ocupar sua sela.