domingo, 29 de dezembro de 2013

UFC: onde foi parar nossa humanidade?

Olhem bem e enxerguem onde está nossa humanidade
Eu sempre me indaguei a respeito dos motivos de tanta audiência que tem o UFC. Uma luta que a realização plena da transformação da violência, da força bruta sem limites, em espetáculo.

Multidões se reúnem para admirar esse show pelo mundo afora. Aqui no Brasil, ficam acordadas madrugada adentro para assistir homens e mulheres destruindo-se mutuamente, como se estivessem num Coliseu eletrônico.

Do outro lado da tela, romanos contemporâneos entorpecidos pelo gosto da violência. Quanto mais hematomas, quanto mais sangue, melhor.

Eu lembro dos debates a respeito da violência do boxe de décadas atrás. Hoje, eu vejo que o boxe é uma luta entre cavalheiros, cheia de regras e de limites.

É possível até mesmo enxergar hoje alguma arte no boxe, alguma beleza nos movimentos dos lutadores, alguma ética que limita os ataques e lembra sempre que aquilo se trata de um esporte.

Eu lembro da ingenuidade do telequete, onde a violência era apenas simulada, mas já me causava essa sensação de desconforto.

Já o UFC, é a força bruta transformada em arte-marcial, onde lutadores já inconscientes continuam a receber sem misericórdia violentos golpes na cabeça, como se vencer justificasse tamanho ato de animalidade.

E é exatamente nesse momento que a massa entra em delírio, como se desejasse que o juiz jamais parasse a luta.

Quando eu vi hoje a foto da perna de Anderson Silva se partindo ao meio e os vídeos mostrando em câmera lenta como isso aconteceu, eu percebi que não era um membro de um lutador brasileiro e seu destino que estavam em jogo: era nossa humanidade, de quem nos distanciamos mais a cada dia.

Por isso, foi inevitável a lembrança da eterna frase de Chaplin e do quanto ainda vale que ela seja repetida hoje:

"Não sois máquina! Homens é que sois! E com o amor da humanidade em vossas almas! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar. Os que não se fazem amar e os inumanos!"

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Os trilhos da corrupção tucana


A decisão da Justiça Federal de encaminhar ao Supremo Tribunal Federal (STF) o Caso Siemens, coloca sob os holofotes um escândalo bilionário que envolve tucanos de alta plumagem do PSDB paulista, desde os ex-governadores de São Paulo, Mário Covas e José Serra, até o atual, Geraldo Alckmin.
Perto do “mensalão” (o do PT), esse escândalo é fichinha. No primeiro, os recursos envolvidos chegaram a R$ 74 milhões, incluídos aí serviços de comunicação efetivamente realizados. No caso Siemens, até a semana passada, calculava-se que não menos que R$ 500 milhões de reais haviam sido desviados dos cofres públicos paulistas.
Entretanto, de acordo com reportagem publicada pela Revista IstoÉ desta semana, os números desse esquema podem superar 1,5 bilhão de reais em desvios. Segundo a publicação, um único contrato para reforma de trens e vagões, todos com mais de 40 anos de uso, custaram aos cofres do governo de São Paulo quase R$ 2,9 bilhões de reais (em valores não atualizados). O problema é que, ainda segundo a IstoÉ, por esse preço o Metrô de Nova York adquiriu uma frota de trens novos, comprados exatamente das empresas que reformaram as sucatas paulistas. O prejuízo, considerando apenas esse caso, chega a quase R$ 1 bilhão de reais!
Dormiu no ponto?
Esse esquema bilionário passou despercebido pelos órgãos de controle e fiscalização brasileiros até começar a ser desvendado por investigações realizadas pelo Ministério Público da Suíça sobre a multinacional francesa Alston. Só depois é que a Polícia Federal e o Ministério Publico Federal entraram no caso. Dessas investigações, emergiu outro um bem elaborado esquema de pagamentos a partidos, políticos tucanos, funcionários públicos e até mesmo a membros do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo.
Tudo para viabilizar que contratos milionários fossem entregues a um conluio de megaempresas estrangeiras interessadas nas obras do metrô paulistano. A descoberta desse “cartel”, como apelidou a grande mídia esse esquema de corrupção, justificou a entrada nas investigações do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), cuja missão é preservar a livre-concorrência. Considerando ser o PSDB o partido mais neoliberal do Brasil, não deixa de ser um paradoxo que esse partido tenha montado um esquema tão “oligopolizado”.
Teste ao “moralismo”
Estranho é que até agora não recebi uma única mensagem-eletrônica detalhando sse mega-esquema de corrupção, daquelas que enchiam minha caixa-postal nos tempos em que o “mensalão” (o do PT) estava na moda. Nem postagens no Facebook da gente indignada com a corrupção (a do PT), que celebravam o “maior escândalo de corrupção da história”, eu vi até agora. As atrizes globais vão se vestir de preto, mostrando aquele olhar distante de desilusão com o destino dado ao dinheiro do povo de São Paulo? Gilmar Mendes, Joaquim Barbosa, Celso de Mello e Luiz Fux vão continuar usando as vestes de “justiceiros” ou voltarão a se lembrar que a equidade jurídica é um princípio não apenas constitucional, mas civilizacional.   
Pois bem. O “trensalão tucano”, como está sendo apelidado por setores minoritários da imprensa, vai ser julgado pelo STF. Resta saber se ele terá a mesma audiência que teve o “mensalão” (o do PT) ou se naufragará nas águas turvas do “segredo de justiça”.
Charlinton começa a deixar sua marca no PT
Nem bem assumiu a Presidência Estadual do PT, o professor da UFPB, Charlinton Machado, já estabeleceu uma nova dinâmica na direção do partido. Começou por estabelecer prazo para que os filiados que prestam serviço ao Governo do Estado entreguem seus cargos, sob pena de serem expulsos do partido, o que revela que o oba-oba de desrespeito às resoluções partidárias que ainda predomina no PT da Paraíba tem data para acabar.
E o lançamento da candidatura de Nadja Palitot ao governo é mais um capítulo dessa nova fase que o PT começa a viver, mais adequada ao novo status que o partido adquiriu depois da conquista da PMJP. Mesmo com os questionamentos de dirigentes petistas, que consideraram precipitado o movimento anunciado ontem. O deputado Frei Anastácio, a Giucélia Figueiredo e a Josenilton Feitosa receberam tratamento VIP de alguns meios de comunicação. Antes eram tão enfáticos na defesa da candidatura própria do PT ao governo, agora emprestaram suas vozes àqueles que desejam mostrar o PT como um partido dividido.
Nelson Lira, o dono do Botafogo 
Nelson Lira age não como Presidente do Botafogo, mas como seu dono. Acostumado a assumir a direção do Botafogo em tempos de fartos apoios públicos, como aconteceu em 1998, quando um programa do Governo do Estado de troca de notas-fiscais por ingressos enchia de torcedores os estádios paraibanos até quase tranbordar, e agora, em 2013, quando o apoio financeiro da Prefeitura de João Pessoa viabilizou recursos estáveis para contratações, Nelson Lira está novamente na crista da onda. A tal ponto que impede, à força, que jornalistas tenham acesso aos espaços botafoguenses. Se ele age assim num clube, imagine se um dia assumisse um cargo público? 

Nadja vem aí

O anúncio da candidatura ao governo da advogada pessoense Nadja Palitot provocou ontem um imenso rebuliço na já agitada política paraibana. Não apenas pela surpreendente indicação, já que Palitot não figurava em nenhuma lista de candidatáveis e, se passou a figurar em alguma, isso só veio a acontecer nos últimos dias.
A indicação da combativa advogada obedece a uma estratégia do PT que tem alcances temporais variados. No curto prazo, ela evita a fragmentação do chamado “blocão”, o agrupamento de partidos que reúne o PT, o PP e PSC. Com um bom poder de fogo, até então o “blocão” se mantinha incapaz de apresentar à Paraíba um nome que desse impulso ao seu projeto eleitoral.
Enredado pelos vai-e-vem do Ministro Aguinaldo Ribeiro e do Deputado Federal Leonardo Gadelha, cuja dúvida impedia todo o agrupamento de avançar para não ser engolfado pela tradicional polarização entre grupos e partidos tradicionais que divide a Paraíba desde sempre, o PT cansou de esperar pela definição dos seus aliados e colocou seu time em campo.
Ousadia
Trata-se, sem dúvida, de uma ação ousada, mas são lances de ousadia que tem marcado grandes e surpreendentes vitórias na política paraibana nos últimos anos. Vejam o caso de Veneziano Vital, que derrotou quase sozinho o império dos Cunha Lima na cidade de Campina Grande, em 2004. Ou de Ricardo Coutinho, cujas chances de vitória sobre e então governador José Maranhão eram tidas como muito improváveis quando ele lançou sua candidatura em 2010. Ou do próprio Luciano Cartaxo, que, apesar de desacreditado no início, acabou derrotando duas grandes lideranças políticas paraibanas e a máquina do governo estadual em João Pessoa, naquela cidade que fora, até então, o principal e único reduto do atual governador, que amargou um constrangedor terceiro lugar. O eleitor paraibano está cada vez mais imprevisível.
Enfim, essas experiências mostram que nenhuma vitória eleitoral pode ser decretada até que as urnas sejam abertas e mostrem a vontade popular da maneira que só uma eleição pode mostrar.
Candidata mulher
Nadja Palitot tem alguns atributos como candidata que podem render votos e dor de cabeça para os adversários. Dona de uma verve ácida – que precisa ser dosada – Palitot, que é advogada, jornalista e professora, demonstra dispor de uma didática clareza quando fala. Bem trabalhada, essa característica pode ser de grande utilidade no guia eleitoral e nos debates que acontecerão durante a campanha.
Acrescida do fato de ser mulher, a candidatura de Nadja Palitot pode agregar um charme que nenhum governador até hoje teve na história da Paraíba. Numa campanha estadual que estará integrada à campanha nacional, que tem outra mulher como protagonista principal, Dilma Rousseff, candidata à reeleição, essa particularidade paraibana tem potencial, e certamente será muito bem explorada pelos marqueteiros petistas.
Agregue-se a tudo isso a condição de ser Nadja Palitot a candidata do atual prefeito de João Pessoa, cuja administração ostenta ótimos índices de avaliação, diferente do que ocorre com o atual governador, além do estilo negociador e apaziguador que é torna Cartaxo o oposto de RC. Todas essas qualidades podem ou não ser transformadas em voto. Se isso vai acontecer é outra história. Mas, o potencial da candidata está claro que existe.
Avançar a partir de João Pessoa
Mesmo sem combinar com o PMDB, a estratégia petista permite atacar pelos flancos o atual governador nos dois principais colégios eleitorais da Paraíba. Com uma candidata pessoense, o PT pretende ser o contraponto competitivo a Ricardo Coutinho em vários campos, seja no político, eleitoral ou administrativo.
O mesmo acontecerá em Campina Grande, desta vez com Veneziano Vital, do PMDB, nesse caso, com o agravante para RC de que este, além de não ser campinense, enfrentar um campinense, o que é algo que o eleitor da Rainha da Borborema sempre considera como um critério de grande relevância para decidir seu voto. Além disso, RC tem altos índices de rejeição na cidade.
Ou seja, RC pode ter grandes dores de cabeça em João Pessoa e Campina Grande, que concentram sozinhas quase 30% do eleitorado paraibano e que foram decisivas para dar-lhe a vitória em 2010. A estratégia petista pretende, num primeiro momento, ocupar o espaço vazio existente em meio ao eleitorado paraibano, especialmente na Capital, para depois avançar interior adentro.
Numa eleição com apenas dois candidatos, persistiriam as dúvidas sobre se Veneziano Vital, do PMDB, até então o único candidato da oposição, teria condições hoje de conquistar esse eleitor, o que seria um risco para o projeto oposicionista no estado.

Com Nadja Palitot, João Pessoa estará coberta pela oposição.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Cenários de 2014: o PT entra no jogo e indicará nome do "Blocão" para o governo

O PT da Paraíba pensa grande e, como dizia antes, vai à luta

A semana que passou foi de muitas definições dentro do Partido dos Trabalhadores da Paraíba.

Depois de intensas e variadas conversas, que envolveram até mesmo a participação de Lula, as principais lideranças petistas chegaram a conclusão de que o chamado “Blocão” precisa urgentemente definir um nome para ser lançado ao governo.

O agrupamento de partidos que, por enquanto, inclui o PT, o PP e o PSC, corre o risco de se esvaziar na medida em que permanece a indefinição sobre se terá ou não um candidato a governador.

Por isso, o PT resolveu não mais esperar pela definição do Ministro e Deputado Federal Aguinaldo Ribeiro, que a cada aceno de uma possível candidatura ao governo é desmentido pelo próprio pai, Enivaldo Ribeiro, que reafirma a intenção do filho de se reeleger deputado federal no próximo ano.

Nem de Leonardo Gadelha, também Deputado Federal, cujo potencial como candidato a governador é indiscutível, mas que também está limitado pela decisão familiar de manter a cadeira que detém na Câmara dos Deputados.

A rigor, todos defendem que o “blocão” lance candidato, mas ninguém se dispõe a disponibilizar seu nome para enfrentar a batalha. Com isso, a depender da estratégia, perdem – ou ganham – tempo.

Por isso, cansado de esperar pela definição dos aliados, o PT resolveu se mover para tornar esse objetivo possível.

Espaços vazio a ocupar: João Pessoa

Há inquestionáveis espaços vazios a serem ocupados e que, seja em razão do discurso, da contrapropaganda da mídia governista, ou da distância temporal da campanha, o candidato do PMDB, Veneziano Vital, ainda não conseguiu ocupar.

Primeiro, o espaço vazio deixado pela liderança de Ricardo Coutinho em João Pessoa.

Os passos dados por RC desde 2009, quando anunciou a disposição de aliar-se ao PSDB de Cássio Cunha Lima a ao Dem de Efraim Moraes, deixaram órfãos um percentual expressivo do eleitorado pessoense que via no atual governador um novo modelo de político e de fazer política.

Eleito governador mobilizando em grande medida o largo sentimento antimaranhista, RC promoveu um fratura com seu passado e com o eleitor que foi o principal responsável por sua ascensão política.

RC se mostrou incapaz de dialogar, seja com os servidores, seja com a Assembleia, seja com os movimentos sociais de quem era, até chegar ao governo, um aliado inconteste.

Tanto que na eleição seguinte, Coutinho enfrentou uma pesada rejeição, associada à implementação de práticas administrativas de seu governo que o afastaram ainda mais de sua trajetória pregressa, e viu sua candidata naufragar na onda anti-ricardista tão bem mobilizada por Luciano Cartaxo e Luciano Agra em 2012.

"Protagonismo" em ação: eleições de Luciano, Charlinton e Lucélio deram asas ao PT 
Ou seja, o PT e Luciano Agra conseguiram ocupar na Capital o espaço que era monopólio de RC desde a morte de Antônio Mariz, em 1995. Esses dois têm perfis e histórias semelhantes a de RC, falam e representam um certo tipo de eleitorado que cresce a cada eleição, e não apenas em João Pessoa, e que quer se ver representado nas disputas eleitorais paraibanas.

O receio no embate que se avizinha é se, sem um candidato pessoense e que não tenha o perfil adequado, RC possa recuperar o terreno perdido e, sem opção à altura, o eleitor pessoense seja compelido a reeleger o atual governador.

O anti-ricardismo

Uma outra faixa do eleitorado que anda órfã é a do eleitor antiricardista, aquele que vota em qualquer um candidato menos no atual governador.

Esse eleitor é o que atualmente engorda, por mais paradoxal que pareça, os altos índices de intenção de voto do tucano Cássio Cunha Lima, tanto em João Pessoa quanto em Campina Grande.  

Esse eleitor tem origem, principalmente, no funcionalismo público estadual.

Não é maioria, mas na eleição de 2014 tende a assumir a condição de militante da causa anti-RC, e deve representar um expressivo exército não remunerado que atuará em cada espaço do debate eleitoral, seja no trabalho, seja no cotidiano.

Uma “militância” que impulsionou RC em 2010 em cada roda de conversa que se criava.

O problema, por exemplo, do PMDB é que ele não tem encontrado meios, ou criado fatos políticos, para falar a esse eleitor, que hoje vê em Cássio Cunha Lima o instrumento mais eficaz para derrotar RC.

O PT tem meios tanto para polarizar com o atual governador – coisa que o Prefeito Luciano Cartaxo, por exemplo e ao seu estilo, tem protagonizado – quanto para aglutinar forças em torno de si.

Ajudado, claro, tanto pelo espaço que detém em João Pessoa como pela força de uma candidatura nacional empurrada pela força do governo federal. E o “blocão”, com boas possibilidades de ainda ser engordado pelo PPS, PTB e PCdoB, é o exemplo mais cabal disso.

Um programa de desenvolvimento para a Paraíba

O PT vai tentar um movimento para ocupar o espaço de principal força de oposição no estado o que deve implicar, por mais que muitos desprezem esse debate, uma contraposição consistente e inovadora em termos programáticos.

O governo Ricardo Coutinho se esvai sem que ele tenha deixado claro qual sua estratégia de desenvolvimento, se é que algum dia ele tenha elaborado uma. RC é o exemplo cabal do desprezo pelo debate de ideias e pelo pragmatismo mais desedeologizado.

Mais ainda: em muitos aspectos, RC regrediu, a exemplo do plano de terceirizar os hospitais públicos do estado, o que representou para muitos uma surpresa, especialmente se considerarmos a origem de sindicalista da área da Saúde Pública do atual governador. Para quem sempre defendeu o SUS...

Vejam os conflitos com o MST, cujas raízes vão além das dificuldades de diálogo com o movimento, e se relaciona com uma opção conservadora de desenvolvimento rural.

Para o semiárido, o governo RC se encerrará sem ter contribuído em nada para o avanço de políticas de convivência com a seca.

Enfim, esses exemplos mostram a falta de consistência programática do atual governador e representam um flanco aberto para uma candidatura que seja capaz de protagonizar um debate que vá além da velha dicotomia política e eleitoral do estado.

O povo quer novidade e está aberto a ela. E o PT é, inquestionavelmente, um partido que tem legitimidade para propor e liderar esse debate.

De olho em 2018

Observada a partir da conjuntura desse final de ano, a estratégia do PT de lançar candidato para a eleição do próximo ano leva em conta três movimentos:

1) a eleição presidencial, prioridade máxima em 2014;

2) derrotar Ricardo Coutinho, principalmente depois do lançamento da candidatura de Eduardo Campos;

3) projetar o partido para 2016 e 2018, eleições irremediavelmente interligadas num projeto de poder que tem como horizonte final a conquista do governo paraibano.

Quem não levar em conta esses três movimentos para o PT não será capaz de vislumbrar o que orienta o partido hoje e o que estará em jogo em 2014.

Por isso, Veneziano Vital não deve contar com o apoio do PT. Não até que seja testada a viabilidade política e eleitoral da estratégia atual.

O PMDB deve, por isso, construir sua própria estratégia sem levar em conta o apoio e a participação do PT em uma chapa comum no primeiro turno, o que deve aumentar a pressão no interior do partido de Veneziano Vital.

Só depois da indicação de Vital do Rego Filho para o Ministério da Integração Nacional, se isso vier acontecer mesmo, ficará mais claro o nível da relação política entre o PT e o PMDB.

Mas, o lançamento de uma candidatura do PT pode não ser de todo ruim para Veneziano Vital, caso ele consiga ir para o segundo turno contra RC. Nesse caso, uma estará formada uma “frente única” contra Coutinho e isso pode ser um pesadelo para quem disputa uma reeleição.

Por isso, RC também estará de olho. O lançamento de uma candidatura do PT, mesmo que não logre êxito, aumenta muito as chances de a eleição ir para o segundo turno, especialmente com as perdas que o atual governador sofrerá em João Pessoa.


Mas, a candidatura de RC será objeto de análise em futuro breve. Por ora, a grande novidade é a entrada do PT no jogo eleitoral, que está apenas começando. 

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Cenários de 2014: a candidatura de Veneziano Vital


Na eleição de 2010, Veneziano Vital já era quase uma unanimidade entre os nomes lembrados para disputar o Governo da Paraíba, e não apenas entre peemedebistas. 

E não são poucos hoje os que consideram que, caso tivesse sido ele o candidato, ao invés do ex-governador José Maranhão, o resultado daquela eleição poderia ter sido diferente.

Conjecturas à parte, quatro anos e uma derrota em Campina Grande depois, Veneziano continua com o prestígio em alta e como nome de consenso do maior e mais enraizado partido paraibano, o PMDB, que, em meio a vitórias e derrotas, constitui desde o início dos anos 1980, um dos polos políticos da Paraíba.

A ascensão de Veneziano

Veneziano Vital faz parte dessa safra de políticos que emergiram como grandes lideranças nos primeiros anos do milênio no Nordeste, da qual também fazem parte o atual Governador, Ricardo Coutinho, e o Prefeito da maior cidade paraibana, Luciano Cartaxo.

Carrega em seu currículo duas épicas vitórias (em 2004 e 2008) sobre o grupo Cunha Lima em sua até então invencível fortaleza, a Prefeitura de Campina Grande, vitórias que o projetaram como umas das principais lideranças políticas paraibanas. 

E, não fosse a ascensão de José Maranhão ao governo em 2010, o principal embate que se projeta para 2014 entre Veneziano e RC (também eleito prefeito de João Pessoa em 2004) talvez tivesse sido antecipado em quatro anos.

Apesar da derrota sofrida em 2012 na mesma Campina Grande, Veneziano mostrou força, ao levar uma candidata desconhecida ao segundo turno com uma votação que superou os 40%. E numa condição de isolamento político, em razão dos erros cometidos antes e durante a campanha eleitoral na cidade.

Entretanto, a derrota de 2012 e os subsequentes esforços feitos pela imprensa governista para desconstruir a gestão de Veneziano Vital na PMCG não tiveram o condão de eliminá-lo da disputa.

E mostram o quanto a candidatura de Veneziano Vital preocupam o atual governador, que perdeu quase todo o apelo de renovação que sua candidatura representou em 2010.

No governo, RC envelheceu.

O potencial de Veneziano

As razões para a manutenção da força da candidatura do "Cabeludo" são duas.

A primeira, é o PMDB, uma máquina partidária que elegeu, sozinha, em 56 prefeituras na eleição de 2012 – ¼ do total, – entre elas Patos e Sousa, e lançou à disputa candidatos em todas as grandes cidades do estado (João Pessoa, Campina e Cajazeiras), sem dúvida, um grande feito, se considerarmos ser o PMDB um partido de oposição.

Esse é um suporte indispensável para qualquer candidatura, que precisa de enraizamento e bases em todo o estado. 

E esse suporte é expressão da larga tradição política que tem o PMDB na Paraíba, partido que foi capaz de agregar em torno de si um contingente de lideranças que deram ao partido sempre projeto e expectativa de poder.

A segunda razão para a manutenção da candidatura de Veneziano Vital é ele próprio. Veneziano carrega, em primeiro lugar, o atributo da juventude, fortemente valorizada na última eleição. 

Com 43 anos de idade, Veneziano Vital, entretanto, já carrega uma experiência política e administrativa própria de quem entrou cedo para a política. 

Prefeito da segunda maior cidade do estado, Veneziano tem um portfólio de ações administrativas que não deve ser subestimado, nem suas duas administrações devem ser avaliadas pelo esforço de "colar" nelas os problemas dos últimos dias, superdimensionados pela mídia governista. 

Desempenho na TV

A juventude por si só não tem tanta importância se não for acompanhada de um candidato que seja capaz de seduzir o eleitorado, e esse atributo Veneziano parece ter de sobra.

E o desafio maior para ele será expressar, na forma de um discurso, esse desejo de mudança que, ao que parece, continua latente em meio ao eleitorado, especialmente entre os mais jovens.

E é nesse encontro entre um candidato e um discurso de mudança que estará a chave de uma campanha que mobilize o interesse e o voto de um eleitor, que é hoje cotidianamente desestimulado a despreza a política. 

Além disso, dos candidatos apresentados até agora, o mais capaz de se apresentar como o herdeiro legítimo do voto anti-ricardista, uma porção expressiva do eleitorado, que João Pessoa e Campina demonstraram ter em 2012.

Esse eleitorado é um suporte expressivo, cuja dimensão real ainda é um mistério, e sua adesão a uma das candidaturas só se dará quando a campanha estiver a pleno vapor, com as candidaturas postas.

E, da mesma maneira que Ricardo Coutinho se mostrou capaz de fazer com o voto antimaranhista em 2010, Veneziano deverá ser capaz de falar para esse eleitorado, mas nós só para ele. 

Mais do que derrotar, Veneziano Vital deve encarnar esse amplo espírito de mudança que o eleitorado deseja ver expresso em um candidato.

Uma ou duas candidaturas de oposição?

Resta para a candidatura de Veneziano atualmente o desafio de construir uma política de alianças que seja capaz, no mínimo, de leva-lo ao segundo turno e à vitória.

Considerando que será mantida a aliança RC-Cássio, a grande dúvida é se com uma ou duas chapas de oposição. Se ele aposta ou não numa eleição plebiscitária já no primeiro turno.

O problema de três chapas é que a oposição expressara alguma fragilidade ao eleitor ao se mostrar incapaz de se unir já no primeiro turno. E três chapas não garantem que a eleição não caminhe para uma polarização, esvaziando uma delas.

Isso, obviamente, dependerá de uma série de fatores, entre eles o discurso, o perfil e o desempenho do terceiro candidato.  

Mais ainda. Duas chapas não impedem um segundo turno, como, aliás, aconteceu em 2006 e 2010, quando a polarização extremada levou a uma diferença tão pequena entre os dois principais candidatos que foi coberta pela votação do PSOL, do PSTU e PCO.

A questão, nesse caso, é avaliar se esse quadro eleitoral tende a se manter ou se ele foi alterado. Dessa avaliação parte qualquer estratégia para o oposição paraibana.

Isso será assunto para uma futura postagem. Por ora, basta dizer sobre a candidatura de Veneziano Vital que ela está no jogo. E para ganhar.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Pesquisa Data-folha: o povo quer continuidade


A pesquisa para presidente divulgada na última sexta (29) confirma que, a exemplo do que aconteceu nas eleições de 2006, quando o “escândalo do mensalão” estava fresquinho, nas de 2010 e nas de 2012, as condenações e prisões de José Dirceu e José Genuíno realizadas sob grande estardalhaço da grande mídia, não tira voto dos candidatos petistas.

Existem várias hipóteses para explicar o fenômeno, mas a principal delas deve estar relacionada, de um lado, ao esgotamento desse fato, largamente utilizado para atacar Lula, Dilma e todo o PT há oito anos.

De outro, aos possíveis beneficiários dos votos, ou seja, uma oposição que, nem de longe – muito pelo contrário – é tida como insuspeita pelo eleitor brasileiro e, portanto, em condições morais de receber seus votos.

Portanto, uma coisa é a consolidação da ideia de que houve corrupção no chamado “mensalão”, outra é converter isso em fator decisivo para orientar o eleitor na hora de decidir o seu voto.

Essa relação automática entre a campanha para desmoralizar o PT e a campanha presidencial, como muitos pretendiam que acontecesse, não leva em conta a cultura política do povo brasileiro, avessa ao moralismo de classe média com o qual ele se defronta desde os anos 1920, mas em especial durante os anos 1950-1960.

O TENENTISMO, o movimento militar nascido no seio das forças armadas a partir de 1922, é a melhor expressão desse sentimento de contestação, ao mesmo tempo moralista e autoritária, de uma classe média urbana nascente, com desejos de ampliar sua participação na política nacional, largamente dominada pelas oligarquias rurais.

Na ausência de partidos que representassem esses setores urbanos, os militares oriundos do tenentismo se colocaram, dali em diante, como expressão política e moral de uma burguesia e uma classe média que desejavam a hegemonia política, mas não eram fortes o suficiente para liderar sozinhas esse projeto.

Por isso, o autoritarismo tenentista ganhou fôlego e deu às forças armadas, ao Exército em particular, a condição de uma espécie de “poder moderador” da República, intervindo no Estado e na política sempre que as circunstâncias exigiam, normalmente em situações de crise.

O corolário, o auge da força tenentista aconteceu em 1964, quando finalmente assumiram o poder contra a corrupção do “poder civil” e ali permaneceram controlando o Estado por longos 21 anos, ao lado de não-militares influentes.

Desse período nasceu, entre outras coisas, a moderna corrupção brasileira.

ESSE PERÍODO QUE VIVEMOS HOJE, com todas as suas limitações – duas delas são as forças descomunais de dois poderes: o financeiro e o da grande mídia, – é o mais longo da democracia brasileira e o único plenamente livre da influência do militarismo.

Os super-heróis da classe média
Os militares voltaram para os quartéis e lá permaneceram nesses 28 anos após o fim da Ditadura Militar, que acabou em 1985.

Talvez porque o militarismo brasileiro, defensor convicto de um nacionalismo de direita, não combine bem com o “globalismo” desses tempos atuais, que exige a desnacionalização das economias.

Enfim, os heróis de setores da classe média não estão, por enquanto, disponíveis para intervir em seu favor no que se apresenta cada nais como um conflito de hegemonia, nessa transição para um novo modelo de desenvolvimento que o PT conduz hoje no Brasil.

Sem os militares, resta o aliado de sempre, a grande mídia, que se acostumou a ditar as regras da democracia e a definir quem comandava o país.

Isso deixou de existir depois da eleição de Lula, mesmo que o PT no poder tenha mantido incólume o tratamento diferenciado que ela sempre defendeu, apesar da clara adesão desta ao oposicionismo partidário.

Essa democracia de quase 30 anos tem permitido o aperfeiçoamento da experiência eleitoral popular, que se consolida a cada eleição.

Quem reclama hoje que o povo não sabe votar reclama porque o povo já não segue suas orientações, reclama da relativa autonomia política conquistada, reclama porque já não conseguem decidir por ele.

Hoje, como faz qualquer eleitor que vive em democracias consolidadas, antes de responder sobre o seu futuro voto, o brasileiro pobre olha antes de qualquer coisa para suas condições de vida, se elas pioraram ou estão melhores nos últimos anos de governo petista.

Ora, se o Brasil vive uma situação de quase pleno-emprego, seja do trabalho seja do capital, se a participação dos salários aumenta a cada ano na formação da renda nacional em função dos ganhos reais obtidos nos últimos anos, se presenciamos uma mudança social que, com a amplitude e a profundidade verificadas hoje, nunca aconteceu no Brasil, se a pobreza diminui rápida e consistentemente e se as famílias consomem cada vez mais, a inevitável pergunta desse eleitor é: mudar para quê e com quem?

A única “novidade” trazida pela pesquisa Datafolha é a candidatura do novo Collor, do novo caçador de marajás, do novo herói da classe média, Joaquim Barbosa.

Diante da superexposição dos últimos meses, especialmente dos últimos dias, Barbosa parece não ter despertado o interesse do eleitor mais pobre, que continua a preferir Lula e Dilma, nessa ordem. 15% é, sem dúvida, um bom começo, mas é preciso confrontar a “unanimidade” construída a ferro e fogo pela mídia em torno de Barbosa com o seu imenso telhado de vidro. Isso só acontecerá na campanha.


De qualquer modo, o recado dessa pesquisa é um só: o jogo continua e está apenas no começo. Muitas emoções virão pela frente.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Uma homenagem a Jayme de Almeida e a todos os técnicos negros (e interinos) do país

Jayme de Almeida, o técnico que revolucionou o futebol do mengão e fez dele um campeão
A vitória de ontem do Flamengo tem vários responsáveis, mas o principal deles ficou sentado no banco de reservas: o técnico Jayme de Almeida.

A conquista da Copa do Brasil mostrou que o Flamengo não precisa de "medalhões", que passaram aos montes pela Gávea, para dirigir os destinos de um time que é o coração e o grito de metade de uma nação inteira.

O Flamengo precisa de técnicos que, além de competência, saibam transformar paixão em futebol, raça em vitória.

Vejam quem foram os técnicos responsáveis pelas maiores conquistas do Flamengo nos últimos 25 anos: Carlinhos, campeão brasileiro de 1987 e 1992, Andrade, campeão brasileiro de 2009, e Jayme de Almeida, campeão da Copa do Brasil de 2013.

O que eles tem em comum? Todos vestiram o manto sagrado como jogadores, depois trabalharam nas divisões de base e assumiram interinamente os destinos do time para depois serem campeões.

Desprezados pelos dirigentes, foram eles que souberam transformar o Flamengo em campo e fazê-lo campeão.

Carlinhos e Andrade: de interinos à campeões
Tem também um toque de racismo nesse desprezo. Vejam o caso de Andrade.

Andrade atuou como interino por 9 (nove) vezes, e nessa condição assumiu o Flamengo no  Brasileirão de 2009 para, depois de 17 anos sem um título brasileiro, se tornar o primeiro técnico negro a ser campeão  brasileiro.

Isso mesmo. Num país onde a maioria dos jogadores é negra, não é surpreendente que tão poucos negros consigam seguir carreira como treinador? Não quando se trata do Brasil.

E os poucos negros que resistem, assumem sempre na condição de interino, de reservas que sentam no banco para enquanto esperam os treinadores brancos não chegarão.

Vejam o grande técnico Cristóvão Borges, hoje no Bahia. Cristóvão levou o Vasco ao vice-campeonato brasileiro em 2011, e à Libertadores, no ano seguinte, e não foi campeão por conta daquele gol incrível que Diego Souza perdeu contra o Corinthians!

Qual foi o grande clube que apostou em Borges depois de sua demissão no Vasco?

Quanto a Jayme de Almeida, vamos ver o que acontece com ele. De interino à técnico campeão, forma com Cristóvão Borges os técnicos negros no Brasileirão.

Ex-jogador do mengão, técnico das divisões de base como Andrade e Carlinhos, Jayme promoveu uma revolução no futebol do Flamengo esse ano, e ofereceu uma aula ao "medalhão" Mano Menezes, ex-técnico da Seleção Brasileira.

Foi bonito ver como o Flamengo foi capaz de atropelar, um a um, seus adversários na Copa do Brasil - todos eles figuram hoje entre os cinco melhores times do Brasileirão (Botafogo, Goiás e Atlético Paranaense.

Jayme deu consistência à defesa do Flamengo e, principalmente, não fez do time de maior torcida do país um time covarde.

Quem assistiu aos últimos jogos do mengão viu isso, um time que não entrou em momento algum para empatar ou preservar resultados.

O Atlético simplesmente não jogou nos dois jogos da final, principalmente no de ontem - qual foi mesmo a oportunidade de gol que o provável vice-campeão brasileiro criou, principalmente no último jogo?

Enquanto isso, o Flamengo quase promove um massacre, uma goleada, seja em contra-ataques mortais, quando vários jogadores apareciam em condições de marcar, seja em jogadas criadas com rapidez e competência.

Jayme Almeida fez de um time considerado medíocre um time difícil de ser batido. Fez de Hernane "brocador" um artilheiro de brilho, de Amaral um dos grandes volantes em atuação hoje no Brasil, fez renascer e potencializar o futebol de Luiz Antônio, fez de Paulinho uma arma mortal, fez o time jogar ofensivamente pelas laterais e uma zaga protetora e eficiente.

Mas, Jayme de Almeida fez o mais importante: tornou o Brasil um país mais feliz.


Obrigado, Jayme de Almeida!


quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Cenários de 2014: "Blocão" precisa de candidato para se viabilizar

Há muito se escuta falar na Paraíba numa alternativa à tradicional polarização eleitoral entre grupos políticos que, a rigor, é tão velha quanto a própria República – alguns dirão que isso remonta ao Império – no estado, mas pouco se efetivou em termo práticos, a não ser pelas iniciativas fracassadas do PT que, do início da década de 1980 até o início do ano 2000, lançou candidatos que não se viabilizaram eleitoralmente.

Na eleição de 1990, o então governador Tarcísio Burity rompeu com o PMDB e lançou um candidato, João Agripino Maia Filho, que sucumbiu diante da polarização real que dominou as disputas daquele ano entre Ronaldo Cunha Lima e Wilson Braga.

Desde então, nenhuma candidatura fora dos blocos que tradicionalmente aglutinaram os principais grupos políticos do estado se viabilizou.

Em 2010, quando se imaginava que, finalmente, havia amadurecido a oportunidade da construção de um bloco alternativo de forças políticas e sociais no estado, articulado durante as administrações de Ricardo Coutinho na Prefeitura de João Pessoa, eis que o ex-petista abandona a ideia de uma terceira via e resolve manter a velha polarização aliando-se ao cassismo para disputar as eleições e tornar-se Governador da Paraíba. 

Espaços vazios

A vitória em 2010, entretanto, custou a RC a perda da liderança desse bloco de forças alternativas.

E, como em política não há espaço vazio, não custou muito que para ele fosse ocupado pelo PT, em aliança com o PP e PSC, que disputou e venceu com Luciano Cartaxo as eleições para a Prefeitura de João Pessoa.

Ao lado do ex-prefeito Luciano Agra, Luciano Cartaxo encarnou com competência não apenas o sentimento antiricardista, mas soube falar a esse eleitorado desejoso da prometida mudança política que, um dia, ele enxergou em RC.

Foi assim que Cartaxo se viabilizou com alternativa às forças tradicionais, inclusive o PSB do governador, e se elegeu Prefeito da maior cidade do estado. 

Fato que demonstrou que existe um imenso espaço a ser ocupado de um eleitorado que continua órfão de lideranças que saibam cativá-lo.

Por isso, engana-se quem acha que foi apenas o apoio de Cássio Cunha Lima quem “deu” a vitória a Ricardo Coutinho em 2010.

Essa vitória foi resultado de uma combinação de fatores, mas talvez o mais relevante deles tenha sido o desgaste da liderança de José Maranhão, num fenômeno que também se verificou em outros estados no Nordeste, e voltou a se repetir em 2012 na capital.

Quem tiver o cuidado de olhar não apenas para a imagem, mas para a origem social da maioria dos governadores nordestinos, hoje, terá uma ideia aproximada de um fenômeno eleitoral cujas bases se assentam nas mudanças sociais que o Nordeste, em especial, viveu nas últimas décadas, fenômeno que foi acelerado depois da ascensão do “lulismo”.

Os resultados de 2010 e 2012 podem ser lidos de várias maneiras, mas eu prefiro achar que se tratou de uma reação do eleitorado paraibano, especialmente em João Pessoa, mas não só nela, a essa enfadonha disputa, que se repetia a cada eleição, entre grupos políticos que teimaram em não se renovar.

Falta ainda ao “blocão” um candidato


Por isso, se o PT e os partidos aliados conseguiram com êxito ocupar esse espaço vazio deixado em João Pessoa pelo esvaziamento da liderança de RC, ainda não é possível vislumbrar um movimento semelhante para as eleições do próximo ano.

Mesmo mantendo a unidade, os partidos que se aglutinam no chamado “blocão” (PT, PP e PSC) carecem ainda do cimento que dá liga a qualquer projeto eleitoral, que é ter um candidato.

Sem contar com a possibilidade da candidatura de sua maior estrela, o prefeito Luciano Cartaxo, que apenas inicia sua gestão à frente da PMJP, o “blocão” patina sem oferecer um nome sequer para a montagem da chapa majoritária, e vê a velha polarização se consolidar a cada dia.

O que não aconteceu, diga-se de passagem, única e exclusivamente por conta da dúvida a respeito da candidatura de Cássio Cunha Lima.

Os outros possíveis nomes do bloco (o Ministro Aguinaldo Ribeiro e o Deputado Federal Leonardo Gadelha) parecem já ter feito a opção por suas reeleições, restando o nome da Deputada Estadual Daniela Ribeiro, que não se mostrou ainda capaz de despertar interesse no eleitorado.

Ou seja, ou o “blocão” oferece um nome com peso eleitoral suficiente para disputar o governo ou não será levado a sério em 2014, justificando o lançamento de uma candidatura apenas para facilitar que a eleição vá para o segundo turno, o que, convenhamos, é muito pouco para um bloco de partidos que conta hoje com um Ministro e o Prefeito da maior cidade da Paraíba.

A sombra do PMDB


A indefinição é tanta que até mesmo o PT, o maior entusiasta dessa articulação, parece já observar com desconfiança sua viabilidade.

Tendo como prioridades a reeleição de Dilma Rousseff e a de um dos seus quadros para a vaga do Senado, passou o tempo em que o PT entrava nessas disputas apenas para marcar posição.

Especialmente depois da conquista da PMJP, que projetou o partido para voos mais altos no estado. Por isso, tende a desestimular disputas de ordem paroquial, como a que opõe hoje Aguinaldo Ribeiro e Veneziano Vital.

Exatamente porque, sendo o PMDB um aliado nacional e único partido que até agora declarou apoio à reeleição de Rousseff, ou o “blocão” se viabiliza eleitoralmente ou não haverá justificativa para evitar o apoio a Veneziano Vital no primeiro turno.

Enfim, o “blocão” precisa de uma definição urgente, oferecendo a candidatura de Aguinaldo Ribeiro ou a de Leonardo Gadelha.


Sem isso, o “blocão” tende a não se viabilizar como alternativa real em 2014. Esperar por 2018 talvez acabe sendo mesmo a melhor opção.

Em seguida, trataremos da candidatura de Veneziano Vital.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Cenários de 2014: a candidatura de Cassio

Cássio acena para a oposição. Ou será para o governo?
A opinião “geral” da política paraibana atualmente é considerar a aliança entre Ricardo Coutinho e Cássio Cunha Lima como um fato consumado, desde que o senador tucano ofereceu sua presença “simbólica” na festa de aniversário do Governador.

Alguns – os de sempre – suspiraram aliviados e soltaram foguetões, temendo um racha que os obrigaria a optar antes do tempo por um dos lados; outros começaram a perder a ilusão, que cultivam há quase três anos, de ver o racha Cássio-RC finalmente anunciado.

A verdade é que tudo continua como dantes no quartel de Abrantes. Cássio Cunha Lima continua senhor do seu próprio tempo e todos os interessados em ver finalmente um desfecho para essa novela, movida a boatos e interpretações diversas sobre qualquer detalhe no comportamento do tucano em relação ao governador, vão ter de esperar mais um pouco.

Quem tem o poder de decidir o destino de uma eleição – e de um governador – não pode ter pressa.

Com essa postagem, inauguramos uma série de artigos com os quais pretendemos analisar os cenários possíveis para as próximas eleições na Paraíba. Comecemos com a candidatura de Cássio Cunha Lima

Um candidato nas mãos da Justiça

Em recente participação no programa comandado pelo jornalista Luiz Torres, o Conexão Direta, da TV Arapuã, fui impelido a responder com um sim ou não se acreditava que Cássio seria candidato. Fui obrigado a responder “depende”, para em seguida completar:  “se ela (a candidatura cassista) for viável juridicamente, Cássio será candidato”.

Como eu expliquei ao empresário João Gregório assim que o programa terminou, que riu de minha posição murista, não se tratava de me colocar entre uma as duas torcidas paraibanas – porque não seria nada mais do que isso, – mas de saber se o senador pode ou não ser candidato.

Porque, se puder, amigo – como diria o governador, – nada impedirá de Cássio entrar nessa disputa, e ele não seria inteligente se não o fizesse.

O governismo-oposicionista de Cássio

Cássio-RC: eles brigam,mas...

Por vários motivos. Um deles, é que Cássio pode arriscar porque é Senador e não perderia o mandato em caso de derrota. 

Um outro, é que ele atenderia à necessidade da direção nacional do PSDB de lançar candidatos a governador fortes nos estados para fortalecer o palanque do presidenciável do partido, Aécio Neves, de quem Cunha Lima é amigo do peito.

Poderosos argumentos  políticos não faltam para justificar a candidatura cassista. Talvez o principal deles seja essa posição de “queridinho” da Paraíba que o ex-governador tem hoje, namorado até pela oposição, que quase o paparica na esperança de um rompimento que se anuncia desde a posse do atual governador.

Desde o início, Cássio demostrou saber como ninguém manusear a dubiedade de suas palavras e de suas ações quando o assunto era RC. Ele nunca foi por inteiro nem governo nem oposição, mas foi tratado como tal por ambos os lados.

E, paradoxalmente, Cássio acabou se tornando uma espécie de tábua de salvação tanto para o eleitor anti-ricardista quanto para os governistas, dentro e fora do governo. Com Cássio, RC aumenta muito suas expectativas de vitória, o que é fator decisivo para a conquista de apoios.

Sem Cássio, RC corre o risco de ser abandonado e minguar no isolamento político diante da possibilidade da derrota iminente, o que é reforçado a cada dia por conta da capacidade desagregadora que demonstrou o governador ao longo dos três últimos anos, que imaginava que a receita com a qual ele governou João Pessoa era a mesma com que ele governa a Paraíba hoje. Eu tenho dúvidas se ele já descobriu que o buraco é mais embaixo.

Sem o apoio de Cássio, seria imprevisível o destino de RC no governo e provavelmente a ajuda de Cássio foi decisiva em vários momentos, não apenas na Assembleia – a mudança repentina dos votos de conselheiros familiares nomeados por Cássio, durante o julgamento das contas de RC no TCE, por exemplo, deve ser um dos capítulos mais eletrizantes dessa história, que certamente nada tem de republicana.

Mesmo assim, e apesar dos nomes que nomeou nos primeiro, segundo e terceiro escalões, Cássio, como bom tucano que é, nunca foi um defensor enfático das ações do atual governador, nem tampouco as criticou publicamente. Fez oposição através de interlocutores, mandando recados que a imprensa julgou sempre autorizados a falar em seu nome.  

Quando lhe interessava, e o momento provavelmente exigia, Cunha Lima fez criticas veladas através do Twitter ou em entrevistas, que sempre causaram rebuliços na seara governista, mas nunca tiveram desdobramentos políticos mais concretos, a não ser os que não podem ser revelados. E, nesse caso, nada mais concreto que a manutenção dos cargos no governo por parte dos aliados cassistas para demonstrar de que lado Cássio permanecia.

Enfim, o que se pode dizer com um certo grau de certeza, é que a relação Cássio-RC foi e continua sendo uma relação tensa, entre duas figuras de estilos – para o bem e para o mau – muito diferentes, mas que continuam a guardar em comum pelo menos duas coisas: os adversários e o compartilhamento do poder.

A aventura cassista?

E é com essa tensão, devidamente alimentada por todos esses anos, que Cássio pretende tanto legitimar uma possível candidatura, quanto valorizar-se pesadamente, numa conta que se revelará altíssima, se e quando o senador decidir pela manutenção da aliança.

Na primeira hipótese, a indefinição jurídica pode se transformar numa aventura a decisão de ser candidato, o que pode deixar seu destino nas mãos da justiça eleitoral, agonia que o senador viveu em 2010.

Ali, ele jogou todas as fichas e foi salvo quando Dilma Rousseff nomeou  Luiz Fux para o STF. Uma derrota jurídica em 2014 pode ter um custo político muito alto, já que Cássio é o único nome competitivo que tem o PSDB na Paraíba. Excluído da disputa depois de lançada a candidatura (de oposição), qual o alcance do prejuízo pessoal, familiar e de grupo?

Por isso, como Cássio nunca se prestou a aventuras, mais do que uma certeza política (coisa que acho que ele já tem), ele precisa de um certeza jurídica, o que ele só terá depois que iniciar o julgamento do registro de sua candidatura, isso depois das convenções partidárias, em meados do próximo ano.

E se ela acontecer, terá o condão de mudar os rumos da sucessão estadual, quando Cássio deve assumir a condição de favorito, não de imbatível, como ficou demonstrado em 2002 e 2006, quando o atual Senador em pessoa quase perde para Roberto Paulino e José Maranhão. 

Além disso, Cássio candidato terá o inconveniente de responder durante a campanha porque apoiou o atual governador e seu governo por três anos e só no final decidiu romper para se lançar candidato de oposição. Uma aposta na frivolidade do eleitor, sem dúvida.

Mas, antes o ex-governador deve resolver o que quer da vida. E todos continuarão a especular sobre uma decisão que se dará considerando apenas um critério: a conveniência de Cássio Cunha Lima.

Por isso, se alguém ainda espera uma resposta para a pergunta sobre se ele é ou não candidato, eu continuo respondendo: depende.


Depois eu volto para tratar do “Blocão”.