terça-feira, 29 de maio de 2012

Qual o interesse do PT na eleição da UFPB?

Frei Anastácio: organizou "dossiê" contra Margareth por quê? 
Desde o início da campanha para reitor da UFPB é perceptível o esforço do grupo que dirige a UFPB há quase 20 anos de “partidarizar” a disputa, tornando-a uma mera extensão do que ocorre fora dos muros da universidade. 

Hoje, mais um triste capítulo dessa história aconteceu. Diretamente da tribuna da Assembleia Legislativa da Paraíba, o deputado estadual do PT, Frei Anastácio, disse que tem em mãos um “dossiê” que, segundo ele, “confirmam a interferência dos governos do Estado e de João Pessoa na eleição para reitor da Universidade Federal da Paraíba em favor da candidata de oposição, Margareth Diniz.” Provas? Os factóides lançados pela campanha de Lúcia Guerra, especialmente via WSCOM, sem nenhuma consistência ou verossimilhança.

Postagens de "Anisinho" comemoram o
adiamento da eleição na UFPB. Qual o
motivo de tanta alegria?
O problema é que Frei Anastácio não está sozinho no apoio à candidata apoiada pelo Reitor, Lúcia Guerra. Na semana passada, logo após o Consuni ter decidido adiar a eleição, o filho de deputado Anísio Maia, Anisio Maia Filho, comemorou o fato no Facebook nos seguintes termos: “Chora!!!! Acaba de ser aprovado pelo Conselho Universitário (CONSUNI) o adiamento da eleição para reitor na UFPB somente para depois da greve”.  

O estranho em tudo isso é o manifesto interesse das lideranças políticas do PT na eleição da UFPB, o que parece mais grave do que o que eles denunciam, que é um possível interesse do governador Ricardo Coutinho, já que a universidade em nada depende do governo estadual.

Diferentemente do governo federal, que é comandado pelo PT. Se a UFPB é mesmo autônoma, o reitor Rômulo Polari, e sua candidata, Lúcia Guerra, deveriam repelir o envolvimento de políticos com a sua campanha, estes comprovada e declaradamente seus apoiadores da candidata oficial na UFPB. 

Qual o interesse do PT na eleição da UFPB? Para um partido que tem na Presidência da República e no Ministério da Educação, a qual está ligada diretamente a UFPB, dois petistas (Dilma Rousseff e Aloísio Mercadante), não é um fato comum que deputados do partido que não tem qualquer vínculo com a universidade, não apenas manifestem abertamente  suas preferências eleitorais, como participem diretamente da campanha de uma das candidatas à reitora, não por acaso aquela que é apoiada pelo atual reitor.

Nesse caso, o dito popular de que quem disso usa, disso cuida não parece ser apenas adequado. É uma realidade palpável.

domingo, 20 de maio de 2012

"Ingerência externa" ou fim de um ciclo? O que derrotou Rômulo Polari e Lúcia Guerra na UFPB


Polari, ao lado da vice-reitora, e sua candidata Lúcia Guerra: fim de um ciclo ma UFPB
A realização do segundo turno na eleição de Reitor – desnecessária ,diga-se de passagem, já que basta dizer que ele acontece devido a anulação de duas urnas que funcionaram no interior da sala onde estava instalada  própria Comissão Eleitoral, – vai servir como uma espécie de tudo ou nada por parte dos apoiadores da candidata da situação, agora tendo a frente o próprio Reitor, Rômulo Polari.

Polari abandonou o aparente distanciamento do processo e anunciou engajamento total na campanha de Lúcia Guerra. Aparente porque o reitor teve uma intensa participação nos “bastidores” dessa eleição no primeiro turno, sendo ele o principal fiador, como não poderia deixar de ser, da candidatura situacionista.

E esse fato parece ser mesmo incompreensível para o atual Reitor da UFPB: como é possível uma candidata apoiada por uma administração que nos últimos anos recebeu do MEC, através do Reuni. quase 200 milhões de reais para investimentos e foi autorizada a contratar quase um terço do quadro atual de docentes e funcionários da universidade, teve apenas pouco mais de 1/3 dos eleitores, enquanto a principal candidata da oposição não venceu no primeiro turno por conta de 0,35% dos votos? 

O resultado foi uma surpresa? Claro que não, e a campanha, o discurso, os apoios conquistados por Margareth Diniz podem mostrar isso. Enquanto Polari, Lúcia Guerra e sua equipe imaginavam que o controle das ações administrativas da UFPB era suficiente para dar continuidade a um projeto de poder que já dura 20 anos, Margareth Diniz, Eduardo Rabenhorst e sua equipe produziram um profundo diagnóstico da situação administrativa e acadêmica que vive a UFPB hoje.

Foi esse diagnóstico que deu suporte a um ousado projeto para a UFPB e a um discurso aglutinador e catalizador do apoio de pessoas das mais variadas matizes, do PSTU, do PT, do PCdoB, PSB, PMDB, e, mais importante do que qualquer coisa, de uma infinidade de professores, funcionários e estudantes sem vinculação partidária. E foram essas pessoas que formaram e continuam formando a base real da campanha de Margareth Diniz. 

Por isso, soou tão artificial a cantilena incessante de Lúcia Guerra de que o “governo estadual” quer ter ingerência na UFPB através da candidatura de Margareth Diniz. Um discurso sem base real porque a UFPB não depende em nada do governo estadual. 

A lógica dessa homilia cansativa, recheada de factoides para tentar dar-lhe verossimilhança, é resultado de uma premissa: a de que, na UFPB, quem domina a administração sempre vence e, portanto, só pode ser derrotada por outra “máquina” mais poderosa. É como se a eleição fosse um detalhe incômodo e os eleitores carneirinhos domados. 

Não foi por acaso que um dos motes da campanha Lúcia Guerra foi um desfilar de apoios de Diretores de Centro, boa parte deles, diga-se de passagem, “biônicos”, ou seja, indicados pelo reitor, como a sugerir o poder irresistível da força da administração.

É por isso que o aprofundamento do discurso da ingerência do governador Ricardo Coutinho na UFPB no segundo turno não representa apenas o repisar de um erro grosseiro de avaliação, porque aposta na incapacidade de discernimento político da comunidade universitária, mas na dificuldade que tem o reitor e sua equipe de reconhecer que o desgaste e o esgotamento de um modelo político e administrativo é o principal responsável pelo fracasso eleitoral de sua candidata. 

Rômulo Polari, assim como Lúcia Guerra, completarão 16 anos à frente da administração da UFPB quando o atual reitorado se encerrar. Os dois são remanescentes do mesmo grupo que elegeu Neroaldo Pontes reitor no longínquo ano de 1992. 

Por outro lado, expressa um esforço artificial de desprezo e subestimação da liderança de Margareth Diniz na UFPB, para eles circunscrita à área de Saúde. Margareth Diniz, administradora, professora e pesquisadora, exibiu também uma habilidade política, uma capacidade de aglutinar forças e de gerar consensos, que lhe permitiu produzir alianças e obter apoios que transformaram sua candidatura num movimento avassalador de mudança na UFPB, cujo simplismo, rancor e, às vezes, inveja, querem atribuir à “forças externas”.

Simplismo que também pretende transformar a disputa da UFPB numa extensão do maniqueísmo que divide a política paraibana. Margareth Diniz, contra todas a manipulações e casuísmos, venceu a eleição para Reitor. E vencerá de novo porque esse é um sentimento irresistível que toma conta da comunidade da UFPB. 

Queira Polari ou não.

domingo, 13 de maio de 2012

O AZUL DA VERGONHA ou A UFPB TEM DONO?


Aproveito esse espaço para fazer um alerta à sociedade paraibana: a UFPB foi transformada numa terra de ninguém, onde as regras que regem as eleições para reitor são sistematicamente rasgadas. 

Acompanho eleições para reitor desde 1988, quando participei da Comissão Eleitoral daquela eleição como presidente do DCE, ainda como estudante, e reafirmo que nunca presenciei nada igual. Nenhuma Comissão Eleitoral foi tão parcial, permissiva com todo tipo de descumprimento das normas eleitorais por parte da candidata apoiada pelo atual reitor, e tão "rigorosa" quando se trata de qualquer ação da oposição.

É proibido distribuir camisas e brindes? Os apoiadores de Lúcia Guerra fazem isso e nada acontece. Vejam abaixo.

Camisas, ponpons, chapéus, bolas. Tudo que o regimento eleitoral proíbe, a candidata do reitor fez

Ônibus da própria UFPB podem ser usados para transportar apoiadores de candidaturas? Se forem da candidata apoiada apelo reitor, pode. Vejam abaixo:

Ônibus da UFPB transportando apoiadores da candidata do reitor. Tudo pode?

A página oficial do CCEN, centro que é dirigido pelo candidato a vice-reitor, é usada para divulgar a candidatura oficial, e nenhuma providencia é tomada. Vejam a prova abaixo:

Print da página oficial do CCEN: propaganda  para a candidata do reitor
Entretanto, quando se trata de Margareth Diniz o rigor aparece. Aqui se aplica muito bem aquele postulado: “Aos amigos tudo, aos inimigos a lei”.

Vejam o exemplo do último debate, que foi encerrado pelo presidente da referida comissão porque ele determinou a retirada de cartazes que estudantes levaram para protestar contra uma outra decisão casuística da mesma comissão: a de centralizar as urnas em um único espaço da UFPB.

Não custa nada lembrar que a Constituição Federal assegura a livre manifestação. Parecia mais uma provocação do referido professor para encerrar o debate e responsabilizar os apoiadores de Margareth Diniz de “baderna”, como aliás tentaram fazer durante todo o dia que se seguiu ao debate.

Por outro lado, no mesmo debate, a Comissão Eleitoral sequer fez menção à cor do tecido que cobria a mesa na qual seria realizado esse debate: um azul bem ao gosto da candidata apoiada pelo atual reitor. É como se dissessem: a UFPB tem dono! E o presidente da Comissão Eleitoral só teve olhos para os cartazes de protesto...

À esquerda, a cor neutra da mesa do primeiro debate; à direita, em azul, do último. A UFPB tem dono?


Não custa lembrar que o protesto dos estudantes era mais que legítimo, pois a decisão de concentrar todas as urnas da eleição de Reitor criará desnecessariamente OBSTÁCULOS À VOTAÇÃO porque exigirá um deslocamento massivo da Comunidade Universitária.

Além disso, essa decisão É ARBITRÁRIA porque foi tomada sem as necessárias consultas às representações da Comunidade Universitária e sem levar em consideração o que diz a própria Resolução Nº 01/2012, do Consuni, que regulamenta o atual processo eleitoral, que, no artigo 33, diz expressamente que o processo de Pesquisa Eleitoral será descentralizado, cabendo à Comissão Especial, por intermédio das Comissões Setoriais, determinar os locais onde serão instaladas as urnas eletrônicas”. Essas comissões setoriais foram consultadas? NÃO!

Na mesma Resolução, agora no artigo 35, é determinado expressamente que as urnas serão “distribuídas em função do respectivo número de votantes e da dispersão geográfica, em todos os campi da UFPB”, não cabendo, portanto, nenhum tipo de “interpretação” sobre a resolução, que é muito clara quando se refere à maneira como as urnas serão distribuídas. 

A HISTÓRIA E AS TRADIÇÕES DEMOCRÁTICAS das eleições na UFPB confirmam isso. Por fim, trata-se de um CASUÍSMO, um GOLPE, não na candidatura de Maragareth Diniz, mas nas tradições democráticas de nossa universidade, pois ela muda as regras previamente estabelecidas pelo CONSUNI, mudança que acontece às vésperas da eleição para que se efetive como um fato consumado. 

Peço respeito às normas eleitorais, que é um princípio fundamental da democracia e da equidade política e jurídica entre os cidadãos. Se a comunidade da UFPB e a sociedade paraibana permitirem que tudo fique ao sabor das conveniências de cada pessoa ou grupo toda a luta das gerações passadas por democracia estará perdida.

sábado, 5 de maio de 2012

Eleições na UFPB: a quem interessa concentrar as urnas para dificultar o voto?



A Universidade Federal da Paraíba realiza eleições diretas para Reitor desde 1984. Nesses 28 anos, foram sete eleições, todas realizadas de forma transparente e democrática, ocasiões em que a Comunidade Universitária expressou livre e majoritariamente sua escolha pelo candidato e pelo projeto que considerou o mais adequado para a UFPB.

Uma particularidade também marcou essas eleições: em todas elas, todas, as urnas para cada um dos três segmentos (estudantes, professores e técnico-administrativos) foram distribuídas por local de estudo e trabalho, ou seja, em cada centro ou órgão suplementar da UFPB três urnas foram instaladas para recolher o voto da Comunidade Universitária. 

O critério que prevaleceu nessas eleições foi o de facilitar o acesso ao voto para que a UFPB realizasse eleições cada vez mais participativas. 

Entretanto, nas eleições que se realizarão no próximo dia 16 de maio, inexplicavelmente, a Comissão Eleitoral que coordena o processo atual, pretende mudar essa sistemática e concentrar as urnas em um único local, na Central de Aulas da UFPB, o que exigirá que estudantes, professores e técnico-administrativos tenham de se deslocar, em alguns casos por longas distâncias, para exercerem seu direito ao voto. 

O eleitorado mais prejudicado, em especial, será o da comunidade do Centro de Ciências da Saúde (CCS) e do Hospital Universitário (um acaso?). Em relação a este último, a maioria dos servidores terá de abandonar seus plantões para votar, o que, obviamente, impedirá o voto desses eleitores. Algo injustificável e inaceitável. 

Essa foi uma decisão que nunca foi tratada com devida transparência pela Comissão Eleitoral e, até o momento do seu anúncio, foi marcada por flagrantes contradições nas suas justificativas.

A primeira informação sobre essa questão por parte dos representantes da Comissão Eleitoral dava conta de que, segundo o TRE, não haveria tempo hábil para disponibilizar as urnas eletrônicas, isso há dois meses da eleição.

Quando restava um mês para o pleito, as chapas foram informadas de um novo prazo determinado pelo TRE, agora de 45 dias, o que inviabilizava o uso das urnas eletrônicas e forçava a realização da eleição com urnas de lona.

Agora, no dia 4 de maio, portanto, a 12 dias da eleição, somos surpreendidos mais uma vez com uma nova informação: o TRE disponibilizaria as urnas, mas só se forem instaladas todas em um único local. 
Nunca é demais lembrar que todas as eleições realizadas na UFPB até hoje, seja para Reitor, seja para o DCE, ADUF e SINTESP, foram realizadas com urnas distribuídas pelos Centros. 

A última eleição, na qual foi eleito o atual reitor, foi realizada com urnas eletrônicas distribuídas da forma tradicional, e tudo funcionou perfeitamente – Rômulo Polari era considerado favorito – e sem contratempos e a falta de transparência por parte da Comissão Eleitoral que marcam a atual campanha.

Nesse ponto, uma pergunta se impõe: qual o motivo para justificar uma mudança tão abrupta, que não apenas quebrará uma tradição na forma de organizar eleições na UFPB, dificultará o voto, afastará eleitores e criará um caos num único espaço para o qual irá se dirigir uma comunidade de 30 mil pessoas?

 A função da Comissão Eleitoral é fazer cumprir o regimento da eleição, que diz expressamente que as urnas deverão ser distribuídas de maneira descentralizada, “em função do respectivo número de votantes e da dispersão geográfica” (veja abaixo os artigos do regimento eleitoral que tratam dessa questão).



Agindo de maneira distinta, ela não apenas estará prejudicando a comunidade universitária da UFPB quanto ao direito ao voto, mas poderá interferir no resultado eleitoral.