sábado, 31 de julho de 2010

Celso Furtado, o mais universal dos paraibanos: uma homenagem aos seus 90 anos

Nenhum paraibano foi mais universal e internacional do que foi Celso Furtado, cuja extensa obra ainda serve de referência tanto para acadêmicos quanto para planejadores no âmbito do Estado. Celso Furtado nasceu há 90 anos em Pombal no dia em que seria assassinado João Pessoa dez anos depois, quando o futuro economista já morava na antiga cidade da Parahyba e estudava no Lyceu Paraibano. Foi a ousadia intelectual desse paraibano que tornou-o um clássico, um intérprete imprescindível do Brasil e de sua história. Furtado figura no panteão do pensamento brasileiro ao lado de nomes como Gilberto Freyre, Sergio Buarque de Holanda e Caio Prado Jr., pensadores que produziram um conjunto de obras que nos ajudaram a pensar e entender o Brasil a partir de modelos originais, e que tem todos eles como ponto comum a aproximá-los o uso da história como suporte de suas interpretações.

Com Formação Econômica do Brasil, publicada em 1958, depois que Celso Furtado voltou de Cambridge, onde ele havia concluído seus estudos pós-doutorais – isso depois de alguns anos de trabalho na CEPAL, instituição que ele ajudou a formar ao lado de Raul Prébish, – o economista paraibano promoveu uma importante guinada nos estudos sobre a história econômica do Brasil. Foi com Formação e as obras posteriores que Furtado ajudou a criar uma escola em que grandes economistas se formaram, a exemplo de Maria da Conceição Tavares, Carlos Lessa, José Luiz Fiori e tantos outros: o esturturalismo. E a profundidade e a perenidade da obra de Celso Furtado residem especialmente neste ponto: a economia brasileira e suas estruturas são historicamente determinadas e, sendo assim, são superáveis.

A problemática regional está expressa, na sua origem, como um problema do século XX, na oposição entre o setor agrário e o setor urbano-industrial, e nos conflitos resultantes dessas desigualdades. E o Estado joga um papel fundamental na sua resolução, palco privilegiado que é desses conflitos. A questão regional, em seu primeiro momento, expressou o reconhecimento de que as desigualdades regionais representavam entraves para o desenvolvimento capitalista, especialmente nos países de capitalismo tardio como o Brasil.

Apesar da obra intelectual de Celso Furtado ser muito mais ampla, darei destaque a que ele produziu tendo a região Nordeste como objeto de estudo. E ela parte de um pressuposto, que pode ser melhor visualizado quando nos defrontamos com a questão levantada pelo historiador inglês David Landes, que vem a ser o subtítulo de um grande livro chamado A riqueza e a pobreza das Nações: "porque algumas nações são tão ricas e outras tão pobres".

Como eu afirmei na última quarta-feira (28) para uma platéia que participava do Encontro Nacional de Estudantes de Economia durante uma mesa redonda em homenagem ao pensamento do maior economista brasileiro, Celso Furtado, promovida pelo Conselho Regional de Economia: a questão levantada por Landes continua teimosamente a nos cobrar respostas de todos nós, e o Brasil não poderá avançar, a não ser reproduzindo as mazelas do velho modelo de desenvolvimento concentrador da renda, se não lograr superar as suas desigualdades sociais e regionais. Por isso, Celso Furtado continua tão atual.

Nos anos 1950, Furtado ousou perguntar ao país: por que algumas regiões brasileiras eram tão ricas e outras tão pobres? E por que, no interior dessas regiões, existem tantos pobres e tão poucos ricos? O que explica essas desigualdades e quais os meios para superá-las?

Sem dúvida, é dessa problemática que emerge a chamada "questão regional", e a questão regional nordestina em particular, que nasceu nos anos 1950, quando o Brasil iniciava um novo ciclo de desenvolvimento com forte presença do capital estrangeiro. E os conflitos resultantes da implementação desse novo modelo se exprimem de maneira clara quando olhamos para as desigualdades regionais. Ainda na última quarta, o economista, presidente da Academia Paraibana de Letras e que foi amigo pessoal de Celso Furtado, Juarez Farias, lembrou um dado contundente levantado por ele próprio quando trabalhava no BNDE (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico) e que exprime muito bem o desprezo pela problemática regional: dos investimentos previstos para o Plano de Metas do governo JK, apenas 6% eram destinados ao Nordeste. Os outros 94% eram voltados para o Centro-Sul.

Nos anos JK, a política econômica era dirigida para o objetivo de consolidar o Brasil como país industrial, buscando completar o ciclo de substituição de importações. Entretanto, com a indústria concentrada no Sudeste e com inexistência de planos para desconcentrá-la, fica claro que as desigualdades regionais não eram vistas como um problema. E elas se acentuaram e se tornaram visíveis nos anos 1950 decorrentes, em parte, dessa reconfiguração do modelo de desenvolvimento brasileiro.

Foi nessa conjuntura que entraram em cena as idéias de Celso Furtado. Um ano depois de publicar o clássico Formação Econômica do Brasil, Furtado, então economista do BNDE e trabalhando no GTDN (Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste) é convidado por JK para expor suas idéias sobre os problemas da região. Dessa exposição e do convencimento de JK das dimensões do problema, nasce a chamada Operação Nordeste, que foi o primeiro passo para a criação da Sudene. Celso Furtado foi convidado por JK a colocar no papel o que disse durante aquela reunião e do esboço dessas idéias nasce o mais impressionante e fundamentado documento oficial produzido sobre a região, que foi Uma política de desenvolvimento para o Nordeste, um clássico insuperável do diagnóstico social e econômico da região.

Ali, mais do que em qualquer outra oportunidade, o pensamento de Celso Furtado teve oportunidade de se tornar ação e suas interpretações sobre o Brasil, especialmente em Formação Econômica do Brasil, puderam ganhar um sentido prático. Celso Furtado começou a desenvolver uma visão crítica a respeito das políticas de açudagem elaboradas e colocadas em prática pelo DNOCS, e que sintetizavam as políticas voltadas para o Nordeste, à época hegemonizado por grupos oligárquicos rurais, e que ficaram conhecidas como "solução hidráulica", que priorizava a construção de açudes e barragens para armazenamento d'água, numa região que ostenta altos índices de evaporação.

A partir dos estudos de Guimarães Duque, Celso Furtado passou a ter uma compreensão mais dinâmica dos problemas ecológicos e hidrológicos da região. Entretanto, o mais importante, e que faltava a esses estudos, era relacionar a ecologia às estruturas econômicas e sociais da região, pois isso permitiria perceber que os problemas ocasionados pela seca não eram provenientes desse fenômeno climático, mas daquelas estruturas sociais e econômicas reproduzidas por séculos no Nordeste. O atraso do Nordeste estava portanto, ligado à sua formação histórica e às estruturas arcaicas que perduravam.

Não foi por outro motivo que, num paradoxo aparente, foram exatamente os grupos oligárquicos nordestinos os que mais tenazmente se opuseram à criação da Sudene. Primeiro, porque ela seria vinculada diretamente à Presidência da República, fugindo ao controle desses grupos que dominaram por décadas os órgãos federais no Nordeste; segundo, porque Celso Furtado propunha uma completa reestruturação econômica da região, propondo que a política de desenvolvimento tivesse na indústria, através da industrialização, o vetor mais importante da modernização do Nordeste objetivando a diversificação da produção regional.

No documento do GTDN de autoria de Celso Furtado foi elaborada a primeira política global de desenvolvimento regional, cuja análise levava em consideração 4 aspectos importantes:

  1. Disparidades entre os níveis de renda do Nordeste e do Centro-Sul e o ritmo de crescimento diferenciado, favorável à região mais industrializada, ao lado de uma inadequada concepção a respeito do desenvolvimento do país, que prejudicava fortemente a economia nordestina, o que era agravado pela manutenção de uma estrutura econômica arcaica e pelas dificuldades ocasionadas pela ecologia da região;
  2. Predominância da pecuária extensiva e pela combinação do algodão com a produção de subsistência, o que gerava dificuldades sociais para a população rural que habitava o semi-árido nordestino. A ação do Estado se resumia, até então, às chamadas políticas de combate às secas, que tanto contribuíam para manter na região um "excedente demográfico" vivendo da agricultura de subsistência, como para reproduzir essa estrutura arcaica;
  3. Diretrizes para mudar a estrutura da economia nordestina através a) do aumento de investimentos industriais b) transformação da ''faixa úmida" em zona produtora de alimentos para os centros urbanos que iriam se industrializar e c) transformação da zona semi-árida, objetivando o aumento da sua produtividade para torná-la mais resistente às secas.
  4. Promoção da diversificação da produção interna, através da industrialização, que objetivava a) oferecer emprego a uma massa, estimada (final dos anos 50) em pelo menos meio milhão de pessoas sub-empregadas; b) promover a ascensão de uma nova classe dirigente, comprometida com o "espírito de desenvolvimento", ou seja, uma burguesia urbana e rural para se contrapor as velhas oligarquias que dominavam a política e o Estado na região desde o Império.

Como chama a atenção o sociólogo Francisco de Oliveira, poucos textos perecem tão exitosos e derrotados ao mesmo tempo como esse produzido por Celso Furtado em nome do GTDN: de um lado, o Nordeste alcançou a tão sonhada e distante – no final dos anos 50 – industrialização, que possibilitou a metamorfose de parte das velhas oligarquias sem, no entanto, possibilitar às massas nordestinas a visão da prometida "terra de Canaã." A pobreza se acentuou ganhando novos contornos. A riqueza cresceu e uma moderna burguesia emergiu, dando um tom lustroso à velha face da oligarquia, que apenas persiste como um zumbi nas práticas de controle do Estado no Nordeste e cuja hegemonia esmigalhou-se na subordinação a esse novo bloco de poder "moderno".

Em 1964, os militares tomaram o poder, sendo Celso Furtado uma das suas primeiras vítimas, quando foi afastado da Superintendêcia da Sudene. Depois do golpe de Estado, os militares deram continuidade a essa mudança no Nordeste se apropriando das idéias de Furtado, retirando-lhes, entretanto, aquilo que seria o fator mais importante para impulsionar essas mudanças: o desenvolvimento e a modernização do Nordeste através da ampliação do investimento industrial e agrícola e do pleno emprego do capital e do trabalho. Tudo isso tendo como suporte a distribuição da renda e da terra.

51 anos depois da criação da Sudene esse objetivo finalmente começou a ser atingido quando os dados atuais sobre crescimento econômico e ascensão social começam a mostrar isso. Mas é preciso aprofundar esse movimento e dar-lhe mais rapidez, especialmente tocando naquilo que ainda permanece intocado: a concentração fundiária, especialmente na Zona da Mata, e uma reestruturação econômica e social do semi-árido através da adaptação de práticas econômicas è ecologia da região, além estímulo à desconcentração do investimento produtivo nas grandes cidades, redirecionando parte das atividades econômicas para zonas urbanas interioranas, onde já reside a maior parte de nossa população.

Sem isso, os avanços no Nordeste terão sempre um limite. Um limite que Celso Furtado ousou tentar superar, mostrando como poderia ser feito. Esse continua sendo o nosso desafio.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Diante da vantagem de Maranhão, só resta agora o guia eleitoral para Ricardo Coutinho. Mas, ele tem discurso para reverte o quadro?‏

Na pesquisa Consult divulgada ontem pelo Jornal Correio, José Maranhão ampliou a vantagem que tinha sobre Ricardo Coutinho de 10 para 17 pontos percentuais. Trata-se de uma vantagem que, há pouco mais de 15 dias para o início do guia eleitoral, será difícil ser revertida.

Agora, só resta a Coutinho esperar pelo seu início do guia, especialmente o da TV, para tentar iniciar uma reação, porque as ações até agora empreendidas, em parte pela desvantagem que leva um candidato de oposição pela escassez midiática, não surtiram o efeito esperado sobre o eleitorado.

Especialmente aquele que antes poderia ser considerado o potencial eleitor de Ricardo Coutinho, que vive nas grandes cidades e que anda com uma pulga atrás da orelha por conta das novas e aparentemente contraditórias companhias do ex-prefeito de João Pessoa: Cássio Cunha Lima e Efraim Moraes.

Entretanto, a grande questão é se o candidato do PSB tem discurso para reverte o quadro e não apenas voltar a seduzir seu antigo eleitorado, mas ampliá-lo. Ricardo Coutinho, ao que parece, já abandonou o discurso do "novo" como carro-chefe de sua campanha, e por razões óbvias: ele fará campanha ao lado de dois dos mais tradicionais grupos políticos da Paraíba, herdeiros do pior estilo de governar – patrimonialista e de quase nenhuma sensibilidade social, - e, por isso mesmo, expressão mais legítima do que há de mais conservador na Paraíba.

Entretanto, o slogan do candidato, Um grande salto, fundamenta-se numa realidade palpável da Paraíba, e as estatísticas, especialmente se observadas comparativamente, estão aí para reforçar o discurso do candidato oposicionista. E Coutinho vai tentar demonizar os governos Maranhão, culpabilizando-os por todas as mazelas econômicas e sociais que ostenta hoje a Paraíba.

É nesse ponto onde reside a grande interrogação quando começar o debate eleitoral na TV: como José Maranhão enfrentará esse debate e que o impacto ele terá sobre o eleitorado? Como eu já disse por aqui, se minhas expectativas estiverem corretas, pela primeira vez numa campanha eleitoral a Paraíba se defrontará com ela mesma.

O colorido exuberante do marketing eleitoral poderá ser confrontado no contra-ponto em preto e branco de uma realidade triste e desoladora para a maior parte da população, manuseada por um craque em "construir realidades", que é Duda Mendonça.

E preparem-se. A imagem carrancuda que Ricardo Coutinho aparenta ter na foto oficial de campanha é para combinar não apenas com seu estilo pessoal, mas para dar credibilidade ao que ele tem a dizer sobre a Paraíba, que será dito sem sorrisos, com imagens e uma sonoridade de cortar o coração.

Quem teve a pachorra de ler o programa (alguém liga para isso?) do candidato do PSB na internet (clique aqui para baixá-lo) pode chegar a mesma conclusão que eu: Coutinho se prepara para trilhar esse caminho, o que, acredito, será bom para o debate político porque livra-o da superficialidade, como diria um antagonista meu no campo da história regional, imagético-discursiva em que o marketing prendeu a política nos últimos anos.

Primeiro, porque se trata de um poderoso discurso; segundo, porque é o único que resta ao candidato dos demo-tucanos. E sendo o único, é mais do que provável que ela vá fundo nesse discurso. Pode ser que a incoerência das alianças que fez Ricardo Coutinho seja suficiente para "desconstruí-lo", já que suas alianças o desautorizam em parte a creditar na conta do adversário a responsabilidade única por ela. Pode ser que não lhe renda os votos que Coutinho espera ter.

Mas pode ser também que tenhamos um confronto baseado num intenso debate programático e que não haja outra alternativa ao PMDB a não ser entrar nele. Se isso acontecer, a grande dúvida passa a ser: José Maranhão tem um programa à altura para enfrentar esse debate?

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Cássio Cunha Lima, a justiça e os benefícios da lei: podendo ser candidato, o ex-governador continuará provando que o crime compensa

Não gosto do termo judicialização da política. Ele parece indicar da parte de quem o utiliza a preferência pelo seu oposto: a politização da justiça. É óbvio que não acredito numa justiça completamente alheia à política e ao poder. Feita por homens e mulheres providos de valores e interesses, a justiça não está acima da sociedade, por mais que se esforcem os magistrados em demonstrar o contrário, seja para reforçarem a imagem de imparcialidade da justiça, seja para reforçarem o poder da instituição e de suas próprias posições.

Entretanto, para fugir de suas idiossincrasias a justiça precisa de critérios para levar à efeito suas decisões sem que seja questionada ou atingida naquilo que deve ser o fundamento de sua existência: a independência e a neutralidade, especialmente em relação aos outros poderes. E especialmente quando o objeto de sua ingerência é a política e a resolução de conflitos eleitorais.

Pois bem. Estamos vivendo uma importante transição no âmbito da relação entre poder, eleições e justiça, com o aumento da capacidade desta última de arbitrar possíveis conflitos gerados por desigualdades durante as disputas eleitorais pelo uso do poder político e econômico, o que tornou-se necessário principalmente após o advento da reeleição. O resultado tem sido inevitavelmente a redução do poder pessoal de muitos políticos, antes intocados pela inexistência de meios de controle sobre eles, considerando que a fonte principal desse poder pessoal era o poder do Estado, que se misturavam para tornarem-se uma coisa só.

Governadores e prefeitos foram cassados por utilizarem de forma escancarada o poder político e econômico, como foi o caso da disputa eleitoral de 2006 aqui na Paraíba. Quando eu digo "escancarada" é que existem formas, digamos, mais sutis de uso da máquina do governo no interior do poder que lhe é intrínseco, formas que, por isso, tornam-se cobertas de legalidade. Isso todos os presidentes, governadores e prefeitos fazem, e fazem porque exercem a prerrogativa política de "governar", de tomar decisões.

Não foi esse o caso da cassação do ex-governador Cássio Cunha Lima. Foram tantas as provas deixadas que só quem contava com a impunidade podia com desfaçatez produzi-las, como se ele se julgasse intocado por uma justiça que não ousaria se imiscuir na política, seja porque os juízes não teriam coragem de enfrentar o poder de um governador, seja porque "eleito" por "1 milhão" de eleitores não haveria legitimidade política para apeá-lo do poder. Isso seria contar com a "politização da justiça", o que equivale a contar com o julgamento eminentemente "político" dos processos de cassação.

E foi porque o TRE da Paraíba e o TSE não se renderam a esse poder e prestaram atenção nas provas apresentadas de uso da máquina pública que o ex-governador foi cassado, mesmo que ele continuasse afirmando a legitimidade de sua eleição – conquistada de maneira ilegítima – e o envolvimento da justiça paraibana com projetos de poder. Quando ele dizia isso – quantas e quantas vezes eu ouvi isso repetido na boca do ex-governador? – estava apenas lamentando não ter o controle que ele atribuía ao seu adversário, argumento que se esvaiu quando o Ministério Público Eleitoral e o TSE confirmaram a sentença aqui prolatada.

Cunha Lima julgava-se acima da lei. E pelo jeito continua a pensar assim. Quando ele cunha o slogan "deixe o povo votar" e mobiliza eleitores nessa campanha, o que o atual candidato a senador tenta? Pressionar a justiça na intenção de mais uma vez buscar politizá-la, ou seja, que os juízes do TRE se sintam pressionados para que, mesmo fora da lei, ele possa ser candidatato.

"Deixe o povo votar" soa também retrospectivamente, lembrando os mais de 1 milhão de eleitores que tiveram seus votos "cassados" por uma possível arbitrariedade da justiça eleitoral que substituiu esses eleitores no papel de decidir quem governaria a Paraíba. O ex-governador Cássio Cunha Lima age como um menino tirânico que de repente descobre, fora de casa, que seu poder tem limites, e que ele, ao contrário do que antes pensava, não pode tudo. E, diante do fato, esperneia, grita, xinga, chora.

E veja que, ao invés de injustiçado, Cunha Lima foi na verdade beneficiário de uma legislação ainda permissiva com maus políticos. Por exemplo. Para fugir da lei do Ficha Limpa, o ex-governador argüi o cumprimento de sua pena. E que pena! Enquanto ele a cumpria (virtualmente), governou a Paraíba durante mais de dois anos, no "bem bom" do Palácio da Redenção. Ora, como é que alguém sem direitos políticos pode governar um estado? Sem direitos políticos, todos os atos do ex-governador no exercício do cargo não estariam nulos? Se não, como esse tempo pode ser incluído na pena? Isso é o que se pode chamar de pena virtual e, mais do que isso, um convite ao descumprimento da lei: ao invés de cumprir pena, o transgressor se beneficia governando um estado por mais de dois anos e ainda pode candidatar-se na eleição seguinte, favorecendo-se dos dois anos de governo ilegítimo.

Se os dois anos de governo não podem se abolidos por conta do limbo jurídico que isso geraria, prejuízo causado pela lentidão da própria justiça em julgar o caso, que julgue hoje o processo que pede a cassação do registro de candidato do ex-governador pela acusação de ter realizado gastos excessivos com publicidade ainda durante o ano de 2006 (só nos 6 primeiros meses daquele ano eleitoral foram gastos mais de 22 milhões de Reais, enquanto que em todo o ano de 2003, os gastos chegaram a "apenas" 6,4 milhões!).

Esse processo é a oportunidade que tem a corte eleitoral da Paraíba de julgar Cássio Cunha Lima pelo "conjunto da obra", já que ainda restam mais dois outros processos cabeludos contra o ex-governador: o dos envelopes amarelos e o do Caso Concorde – lembrando que ele também já foi cassado pelo TRE pelo uso eleitoral do jornal A União. E que obra magnífica nos deixou o ex-governador! Ela provaria ser ele um ficha suja?

Dar a Cássio Cunha Lima o direito de se candidatar é dizer para paraibanos e brasileiros: "continue assim, ex-governador. O seu exemplo é inspirador!"

sábado, 24 de julho de 2010

Vox Populi X Datafolha: quem briga com a realidade?

Na pesquisa Vox Populi divulgada ontem, Dilma Rousseff abre uma vantagem de 8% sobre seu principal adversário, José Serra; na do Datafolha, divulgada hoje, Serra e Dilma estão "empatados tecnicamente", com o demotucano à frente com 1 ponto percentual. As diferenças são tão estapafúrdias entre uma e outra que é impossível não concluir que uma delas está errada. Uma diferença de 9% entre uma e outra representa, em termos do universo de todos os eleitores brasileiro (135 milhões de eleitores), algo em torno de 12 milhões de votos. Não é pouca coisa.

O que me leva a "desconfiar" que é o Datafolha que manipula suas pesquisas é a interrupção da tendência anterior de ascensão de Dilma Rousseff, verificada inclusive pelo próprio instituto cuja propriedade pertence ao grupo Folha de São Paulo, que faz campanha aberta para o candidato do PSDB. O que impulsionava – e continua a impulsionar – o crescimento de Dilma?

1º. Ser ela a candidata de Lula, que tem o governo aprovado por mais de 80% da população. Como já apontamos aqui há mais de 1 ano, seria impossível que essa aprovação não se convertesse em votos quanto mais o eleitorado conhecesse Dilma e quanto soubesse ser ela a candidata de Lula, o que aconteceria na medida em que a eleição se aproximasse.

2º. Dilma pontuava atrás de Serra entre os eleitores beneficiários do Bolsa Família, que podem ser hoje considerados os eleitores – excluídos os próprios petistas – mais fiéis a Lula.

3º Dilma pontuava atrás de Serra entre as mulheres. Não que acredito que "mulher vota em mulher", mas esse deverá ser um fator que tende a render votos para Dilma. Além de ser ela candidata de um governo popular e ser apontada com uma das favoritas, o fato do Brasil nunca ter tido uma "presidenta" fará uma diferença importante para que as mulheres optem por outra mulher. Por isso, a candidatura de Marina Silva é divisionista e serve à direita: ela tanto tem origem do campo de Dilma quanto é mulher. Por isso, a grande imprensa estimulou tanto para que ela saísse candidata.

E Dilma continuou avançando nesses 3 âmbitos, o que justifica não só seu crescimento como sua dianteira. Por outro lado, José Serra sofre o efeito inverso. Tende a perder a vantagem que tinha por ter sido o candidato mais conhecido de um eleitorado que ainda não prestava atenção na disputa eleitoral, e cujo espólio era formado de parte do eleitorado citado acima.

Tanto que ele tende a se estabilizar acima – não muito – dos 30%. É esse o eleitorado tucano no Brasil, que é um importante suporte para qualquer candidato. O problema é conquistar o voto dos outros 70% que aprovam Lula, especialmente numa conjuntura de crescimento econômico.

Como só ar urnas definirão qual das pesquisas está certa, o Datafolha se beneficia por enquanto do fato de não ser possível aferir quem tem os números mais próximos da realidade, o que permite que o instituto continue manipulando as suas. Ou seja, o Datafolha continuará brigando com a realidade para beneficiar seu candidato. E usará – anotem aí – o velho estratagema de quanto mais se aproximam as eleições mais seus números se aproximam da "realidade".

E a Folha vai ter a grande oportunidade. Vem aí o horário eleitoral na TV. A comparação entre Lula e FHC vai destruir Serra de vez. Restará o apelo ao desespero conservador. É bom nos prepararmos para a guerra. Dilma será pintada como o demônio, de atéia para baixo. Espero que não façam o mesmo aqui na Paraíba...

EM TEMPO: (inserido dia 24/07, às 21h31m)

Para ler mais sobre as pesquisas: Conversa Afiada (clique aqui e aqui), Blog da Cidadania (clique aqui) e Tjolaço (aqui).

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Vox Populi: Dilma abre 8% sobre Serra

Do Tijolaço.com

Melhor que a encomenda: Dilma 41%, Serra 33%

A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, lidera a disputa presidencial deste ano e aparece com 8 pontos de vantagem sobre o rival José Serra (PSDB) tanto no primeiro como no segundo turno, aponta pesquisa Vox Populi/Band/iG divulgada nesta sexta-feira. Dilma tem 41% das intenções de voto, enquanto Serra tem 33% e Marina Silva (PV) 8%. Segundo o Vox Populi, José Maria Eymael (PSDC) tem 1%.

Os outros cinco candidatos não pontuaram. Os votos brancos e nulos somam 4% e 13% dos entrevistados estão indecisos. A margem de erro é de 1,8 ponto percentual para mais ou para menos. Esta é a primeira pesquisa nacional divulgada depois da oficialização das nove candidaturas à Presidência.

Na sondagem anterior, divulgada no dia 29 de junho e que incluía 11 nomes, Dilma tinha 40% contra 35% de Serra e 8% de Marina. Os brancos e nulos eram 5% e os indecisos 11%. A diferença entre a petista e o tucano subiu de cinco para oito pontos. Segundo o Vox Populi, Dilma venceria Serra em um possível segundo turno por 46% a 38%. Na pesquisa espontânea, a petista tem 28%, Serra 21% e Marina 4%.

Embora não seja candidato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aparece com 4% e o candidato indicado por ele com 1%. A ex-ministra da Casa Civil tem seu melhor desempenho na região Nordeste, onde chega a 54% contra 24% de Serra e 5% de Marina. O ex-governador de São Paulo vai melhor na região Sul, onde tem 39% contra 35% da petista e 7% de Marina. Ele também está na frente na região Sudeste, com 36% contra 34% de Dilma e 10% de Marina.

Vai ser difícil o Datafolha fazer alguma manobra nos números para arrancar mais um empate técnico depois que o Vox Populi apontou hoje Dilma com oito pontos de vantagem sobre Serra. Além de abrir distância, Dilma derrota Serra em praticamente todos os quesitos, e mesmo onde o tucano está à frente a diferença é mínima.

Mesmo na região Sul, onde o Datafolha já fez o milagre de fazer Serra subir dez pontos de uma pesquisa para a outra, Dilma encostou e tem 35% das intenções de voto, contra 39% de Serra. Considerando a margem de erro de 1,8 ponto, a situação é praticamente de empate técnico. No

Sudeste já não existe mais diferença, e no Nordeste a vantagem pró-Dilma é de 30 pontos percentuais (54% a 24%).

Dilma lidera entre os homens, entre as mulheres, em todos os níveis de ensino e faixas salariais, à exceção dos que ganham mais de cinco salários mínimos, onde se registra empate técnico (Serra tem 37% e Dilma, 36%).

Dilma tem rejeição bem menor (17%) do que Serra (24%) e mais eleitorado a conquistar, já que Lula recebeu 4% dos votos e o candidato indicado por ele, 1%. Segundo a pesquisa, Dilma não é identificada como candidata de Lula por 18% dos entrevistados.

Ficou impossível esconder a escalada de Dilma rumo à vitória no primeiro turno e os institutos de pesquisa que ainda tentavam ocultar isso terão que se render, a não ser que se exponham ao ridículo e percam definitivamente o pouco que ainda lhes resta de credibilidade.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

As fábulas sobre Dilma, e o erro de menosprezar Serra e a velha mídia

Abaixo, postagem publicada no blog O escrevinhador, do jornalista Rodrigo Viana. Ele ressalta o erro de subestimar o poder da grande imprensa e do próprio José Serra.

por
Rodrigo Vianna

Os políticos tucanos e parte de seu eleitorado - especialmente os leitores mais desavisados de "Veja", "O Globo" e outros que tais – aparentemente acreditaram em algumas fábulas sobre Dilma, espalhadas por "colunistas" e "analistas" durante a primeira fase de campanha (que se encerrou pouco antes da Copa do Mundo):

- ela não tem brilho próprio;

- ela não saberá se portar durante uma campanha, longe das asas de Lula.

- ela não conseguirá colar no prestígio de Lula e terá enorme dificuldade para passar de 15% nas pesquisas.

Tudo isso se mostrou falso. Os tucanos menosprezaram Dilma. E agora engrossam as o discurso terrorista de campanha, para tentar recuperar o terreno perdido.

Entre os petistas, de outro lado, há quem ameace embarcar na mesma trilha. Espalham-se em alguns setores, digamos, mais "militantes",  fábulas sobre a candidatura Serra e seus aliados:

- Serra é um néscio, que não sabe o que faz;

- a campanha terrorista de Serra e seus aliados midiáticos não terá nenhum efeito;

- a mídia tradicional deixou de ter importância, e não terá força para impedir a vitória inexorável de Dilma.

Trata-se de um erro grave menosprezar os adversários. Ainda mais, adversários que não tem alternativa. Serra, derrotado, encerra a carreira (mesmo que o PSDB ganhe em São Paulo, o serrismo será varrido do mapa num possível governo estadual de Alckmin). Portanto, para o candidato tucano, trata-se de ganhar ou ganhar.

Alguns enxergam na tática serrista do terrorismo (FARC, narcotráfico etc) um puro sinal de desespero. É bem mais do que isso. Nos últimos meses, todos nós fomos bombardeados por emails lembrando o "passado terrorista de Dilma". Foi algo disseminado de forma profissional, deliberada. Antes disso, a "Folha" já se havia prestado ao serviço de estampar a ficha falsa da candidata, em primeira página. Portanto, a atual fase de campanha (associar PT e Dilma às FARC) é apenas o desdobramento lógico das fases anteriores. Não é algo improvisado…

Isso basta pra ganhar eleição? Não. Ainda mais num cenário em que o PT conta com um presidente aprovado por quase 80% do eleitorado. Mas o terrorismo eleitoral pode ser importante para consolidar o voto anti-petista. Com isso, Serra pode garantir de 25% a 30% do eleitorado. O risco é que esses ataques façam aumentar a rejeição a Serra. Boa parte do eleitorado brasileiro não gosta disso.

No horário gratuito na TV, provavelmente, Serra vai evitar a tática de partir pra cima de Dilma com essa ferocidade. A experiência recente mostra que ataques diretos a um adversário acabam gerando rejeição – ainda mais na TV. Mas há o rádio, a internet e a imprensa amiga pra seguir fazendo  serviço…

Serra precisa manter-se competitivo, com alguma chance, até a reta final da eleição. E aí chego ao terceiro dos três pontos que ressaltei acima: engana-se quem acha que a mídia anti-Lula não terá papel a exercer na campanha contra Dilma. A mídia perdeu, sim, parte de sua força. Mas não toda a força. Em 2006, foi a campanha mdiática que levou a eleição para segundo turno – Marcos Coimbra, do Vox Populi, já mostrou isso de forma límpida.

Nessa eleição, a mídia impressa seguirá o roteiro de ataques implacáveis contra Dilma. Assim como Serra, essa gente não tem escolha: enveredou por um caminho sem volta.  

Essa mídia, talvez, não consiga garantir a vitória de Serra. Ainda mais porque a TV Globo (ao contrário do jornal, que é explícito) tende a manter-se na moita. A Globo não pode se dar ao luxo de voltar a ser carimbada como "anti-povo", "golpista"…  Seria um risco enorme jogar a image da Globo numa campanha anti-lulista. Mas, se na reta final, a Globo sentir que há espaço para empurrar Sera ao segundo turno, não tenham dúvidas: vão repetir 2006! O método Ratzinger vai se revelar de novo implacável.

Por isso, os lulistas devem evitar o erro de menosprezar adversários que lutam pela sobrevivência - política, ou econômica – e que vão usar todas as armas numa guerra suja.

Essa não será uma eleição para quem tem estômago frágil.

terça-feira, 20 de julho de 2010

A esquerda e o Brasil

A esquerda e o Brasil

Do blog de Emir Sader

Atribui-se a um importante ex-ministro da ditadura militar a afirmação de que "melhor que um dia o PT ganhe, fracasse e aí vamos ter tranquilidade para dirigir o país". Independentemente de que ele continue a pensar isso hoje ou não, o certo é que fez muito bem para o Brasil o PT ter chegado ao governo através de Lula. Não fracassou, ao contrário, mostrou extraordinária capacidade para governar e reverter a tendência estrutural mais grave que o Brasil arrastava ao longo dos séculos - a injustiça, a desigualdade, a exclusão social, marca profunda da forma que nossa história havia assumido desde a colonização, passando pela escravidão, pelos governos oligárquicos, pela ditadura militar e pelo neoliberalismo.


Ao contrário dos maus augúrios, foi construído o governo de maior credibilidade e apoio popular, de maior credibilidade internacional, de maior capacidade de dirigir o Estado brasileiro, protegendo a economia dos ataques especulativos, retomando o desenvolvimento econômico, no marco de um processo de distribuição de renda e de afirmação de direitos sociais, que nunca o Brasil havia conhecido, fortalecendo e não enfraquecendo a democracia.

Para a esquerda, governar significa, antes de tudo, desnaturalizar as injustiças, sobrepor os direitos ao mercado, fazer do Estado instrumento das grandes maiorias tradicionalmente postergadas, afirmar nossa soberania no plano externo e fazer dela alavanca para a soberania no plano interno. É não aceitar a redução do Estado a instrumento do mercado, é não aceitar a subordinação do país aos interesses das grandes potências que sempre nos submeteram ao atraso e a marginalidade, é buscar dar voz aos setores populares e não aceitar que a "opinião pública" seja formada pelas elites econômicas.

Ao governar, a esquerda não apenas não levou o Brasil à crise e a situações de insegurança e de instabilidade, como, ao contrário, soube conduzir o país frente a pior crise econômica internacional - que ainda afeta profundamente países do centro do capitalismo e os que, na periferia, seguiram subordinados ao comando das potências que geraram a crise.

Soube acumular reservas que servem como colchão externo e interno frente a situações de crise. Soube combinar desenvolvimento com aumento de salários, sem colocar em risco a estabilidade monetária. Soube fortalecer o Estado, para consolidar sua presença democrática, conquistando mais legitimidade para o Estado brasileiro que qualquer outro governo anterior.

O governo também faz bem à esquerda, recorda que seus objetivos dependem da construção de alternativas de governo da sociedade como um todo, da sua capacidade de construir blocos de forças com capacidade hegemônica na sociedade. Que as alianças tem que ser feitas para fortalecer os temas estratégicos do governo. Que tem que se governar para o conjunto do pais, com prioridade para os que representam as maiorias e sempre foram relegados. Que todo projeto vencedor, triunfa porque unifica a grande maioria, porque se transforma em projeto nacional, para ser hegemônico.

Um país que parecia ser destinado a ser governado pelas elites minoritárias, que o produziram e reproduziram como o país mais injusto, mais desigual, do continente mais inujusto e desigual, de repente vê criar-se em seu seio uma sensibilidade majoritariamente progressista, que privilegia as políticas sociais e não o ajuste fiscal, um país justo e solidário e não egoísta e mercantil. Bom para a esquerda e bom para o Brasil.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

A grande imprensa em desespero

Reproduzo abaixo editorial do portal de esquerda Carta Maior. Ele resume as ações da grande imprensa contra a candidata de Lula a presidente, Dilma Rousseff, e contra o próprio Lula. Destaque-se a relação que se apresenta cada vez mais óbvia entre a Procuradora Eleitoral Sandra Cureau, cuja parcialidade não esconde nem nas palavras que usa (clique aqui), com a candidatura de José Serra através dessa mesma imprensa.

SERÁ O PICCOLO BALILLA DE SERRA UM PONTO FORA DA CURVA?
Breve apanhado do rufar dos tambores dos últimos 10 dias: a) o candidato Serra acusa o governo Lula de implantar uma república sindicalista no Brasil;b) o mesmo Serra classifica como pelegas as centrais sindicais que apoiam Dilma e, como se fora um ectoplasma de Carlos Lacerda nos idos de março de 1964, fuzila: são mais pelegas do que os pelegos do Jango; b) os jornais Folha e Estadão se esfalfam para enxertar um escândalo na campanha eleitoral, agora investindo na suposta quebra do sigilo fiscal do probo vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas; c) a indefectível VEJA assinala uma capa cujo título condensa a sofisticação intelectual contida num tanquinho de areia do maternal 1: '“O monstro do radicalismo“ --A fera petista que Lula domou agora desafia a candidata Dilma'; d) a procuradora eleitoral Sandra Cureau --nova heroína da mídia demotucana-- alardeia ameaças contra o Presidente Lula por ter mencionado o nome de Dilma Rousseff em cerimonia de licitação do trem-bala; e) no dia 16 de julho, conforme registro de Paulo Henrique Amprim, o jornal o Globo estampou na capa seis manchetes contra o Presidente Lula; f) das seis manchetes principais veiculadas pela Folha no período de 12 a 17 de julho, quatro foram contra o governo Lula; g) é nesse aluvião que devem ser avaliadas as pepitas democráticas regurgitadas pelo vice de Serra, Indio da Costa, em entrevista ao site tucano 'Mobiliza PSDB', ecoada pela Folha. Uma coisa é certa: um piccolo balilla não brota por geração espontânea; não há infância fascista sem fascismo adulto.
(Carta Maior;19-07)

Abaixo, as provas.

Vice de Serra, o desconhecido Índio da Costa, acusando o PT de relação com as FARCs, organização guerrilheira da Colômbia, e com o narcotráfico. É bom lembrar que essa não é um novidade e essa "suspeita" foi bastante alimentada no início do governo Lula, especialmente pela Veja.



Capa da Veja de 2002 insunuando relações do PT com as FARCs.


As capas da revista Veja, que tentam a cada eleição reeditar o velho medo das classe médias contra a esquerda. Uma de 2002, outra de 2010. Como é velho esse papo da direita.



Veja abaixo capa de O Globo com 6 (seis) manchetes contra o governo Lula, como bem notou Paulo Henrique Amorim.


Para ler postagem de Brizola Neto sobre as tentativas de Serra de reeditar o discurso golpista que fez a UDN antes do golpe de 1964, clique aqui.

E isso é só o começo...

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Por que voto em Dilma para presidente

Em todas as eleições presidenciais que votei desde a redemocratização do país votei em Luiz Inácio Lula da Silva. A primeira em 1989. Por insistência dele, minha e de milhões de brasileiros que não perderam a esperança, lutamos, sofremos, nos emocionamos e choramos juntos por três eleições seguidas.

Mas, nos mantivemos firmes, nós e Lula. Era como se soubéssemos que o futuro nos esperava e a vitória apenas uma questão de tempo. E assim continuamos marchando de mãos dadas com o mais legítimo Filho do Brasil, um nordestino que conheceu como milhões de outros nordestinhos as agruras da seca, um brasileiro que como milhões de outros brasileiros viveu as aflições da miséria, e como tantos outros sobreviveu com o suor do próprio rosto, no trabalho duro, no salário pouco, e como poucos soube lutar, organizar, conhecer o Brasil e seus dilemas, e falar sobre eles, e nos transmitir esperança, confiança.

Como caminhantes de uma jornada comum fizemos nosso próprio caminho, lado a lado, em trincheiras cujas armas a serem apontadas para o inimigo provinha da verve e da imaginação.

Nos 13 anos que separam a primeira derrota da primeira vitória – quem acredita que há algum sentido nessas coincidências numerológicas eis uma que pode indicar ser o 13 o número de sorte de Lula – vimos o mundo e o Brasil mudarem com uma rapidez desconcertante.

Mas, continuamos sonhando, mesmo que sonhos menos ousados; continuamos plantando a semente que faria germinar um Brasil melhor, mais independente, mais soberano, mais justo, um Brasil que começasse a ter, finalmente, a cara mestiça do seu povo, dessa massa vista como mal cheirosa – como mal disse uma jornalista anti-Lula, em tom jocoso – pela elite econômica e que nunca coube na festa do desenvolvimento, a não ser para servi-la.

Queríamos um Brasil dos trabalhadores, mas nos contentamos com um Brasil de Todos. E esses sonhos amadureceram, timidamente, e foram eles que alimentaram nossas esperanças, e foram eles que, em meio a tantas dificuldades, tornaram a vitória de Lula – e do Brasil – possível.

Como poucos, e isso inclui a maior parte dos nossos intelectuais, Lula soube compreender como sempre aconteceram as mudanças no Brasil. Lentamente, gradualmente, pacientemente, Lula começou a colocar em prática o que muitos se acostumaram a chamar de novo modelo de desenvolvimento.

Eis o limite atual de nossa ousadia que espera por dias melhores. O desenvolvimento no Brasil sempre foi para os ricos, tanto que estamos entre as primeiras economia nacionais que mais cresceram no século XX. E, no entanto, temos tantos miseráveis, tantos analfabetos, tantos desdentados, tantos favelados, tantos sem-terra, tantos sem-nada...

Em meio a tantos avanços promovidos durante o governo Lula, o mais expressivo deles, pela urgência dos que tem fome e não podem esperar, foi o combate à miséria. E foi por aí por onde Lula começou: pela necessidade mais básica do ser humano, que é a comida. Com Lula, milhões de brasileiros tiveram pela primeira vez a oportunidade de se alimentar mais dignamente, de tomar café, almoçar e jantar e, por fim, dormir sem fome. O combate à fome é o símbolo inicial, germinal, seminal de uma nova idéia de desenvolvimento, que vê no povo e em sua participação um dos componentes essenciais, como trabalhadores e como consumidores.

Lula, em 8 anos, soube nos mostrar as grandezas que desconhecíamos de um país que era nosso, sem ser de verdade. Muitos dizem que Lula colocou o Brasil no mapa-múndi, indicando sua exata localização às nações desenvolvidas. Lula fez mais: ele nos ajudou a ver a nós mesmos como povo. Mostrou que temos interesses e objetivos como nação, mostrou que é possível termos um projeto de país. Mostrou o complexo de vira-latas da nossa elite, ainda impregnada pela colonial mentality que a faz enxergar o povo ainda como escravo e não desassocia sue destino do estrangeiro.

De todas as realizações de Lula, e elas foram muitas como veremos durante essa campanha, a que tem o poder de sintetizá-las é a menos palpável, pois não tem realização que possa torná-la visível, mas é e será cada vez mais o combustível que continuará a nos dar força para continuar acreditando no Brasil e no seu povo: somos um país, uma nação, um povo, sem que isso implique em esquecermos nossa diferenças internas, sociais, regionais, econômicas, políticas e culturais. Pelo contrário. É o reconhecimento de suas existências que justificará nossa caminhada.

E o mais relevante de tudo isso é ter a clareza e a consciência de que Lula não fez tudo isso sozinho, não sendo ele nem um super-homem nem um messias. Teve a contribuição decisiva de ministros, assessores, servidores, de pessoas comuns que continuam a acreditar que um outro mundo é possível, nos termos da estratégia lulista. E de todos esses, Dilma Rousseff ocupou lugar de destaque.

Tenho pouco a dizer de Dilma Rousseff. Não é a "experiência administrativa" ou a "competência" que a define como uma boa ou má candidata, nem muito menos o que define minhas opções eleitorais. E isso ela já mostrou que tem, por mais irrelevante que isso seja hoje, porque Lula demoliu esses mitos "técnicos" e privatistas criados pela visão liberal de que o administrador público é um "gerente". Lula faz o governo que faz sem nunca ter ocupado cargo executivo público algum. Não precisamos de gerentes frios, que não pestanejam em demitir para manter os lucros dos patrões. Precisamos de políticos que enxerguem o seu povo, que tenha sensibilidade para os seus problemas. Que olhe para o Brasil como um todo, não apenas para os banqueiros e grandes empresários.

Voto em Dilma por que me sinto parte de um projeto que eu ajudei a construir e cuja experiência não pode ser interrompida para dar lugar a volta do estilo elitista que sempre governou o Brasil. Pois é disso que se trata: dois modos de governar o pais que estarão em jogo em 2010.

Em 2010, não voto apenas em Dilma. Voto no Brasil.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Serra pede 'desculpas' à Globo

José Serra, candidato do PSDB à presidência esteve nesta quarta-feira (14) na UGT (União Geral dos Trabalhadores). A única central que não esteve no encontro dos trabalhadores no início de junho.

Serra foi vaiado uma única vez, quando falou sobre o Corinthians, arquirrival de seu time do coração, o Palmeiras. Mas tampouco arrancou suspiros. A cada frase do candidato, manifestações espalhadas pelo auditório tentavam "dialogar" com o candidato.

No tema educação, os burburinhos lembravam os problemas da área em São Paulo. Se a questão era concessão de aeroportos ou rodovias, lembravam que o termo é, na verdade, sinônimo de privatização, palavra da qual Serra foge a todo custo. Se eram críticas ao custo de transporte, a queixa era em relação aos pedágios.

Mas nem isso causou mais estranheza do que o pedido de desculpas do candidato a um jornalista da Rede Globo que cobria o evento. O repórter havia feito uma pergunta sobre juros que desagradou o candidato.

Serra emendou: "De onde você é?"

Repórter: "Da Rede Globo."

Serra: "Ah, então desculpas."

Um repórter ao lado não aguentou: "Você ouviu essa? Ele pediu desculpas porque o cara é da Globo".

Fica a pergunta, o que Paulo Henrique Amorim diria?

Do Rede Brasil Atual


Realmente, a Globo pode tudo com José Serra. Mas, também pudera: fora de São Paulo, Minas, Paraná e Santa Catarina, a Globo é o único palanque forte que o candidato de FHC tem.

Veja abaixo, matéria da Record denunciando ocupação de terreno do Governo de São Paulo pela Globo, ocupação que durou 12 anos (o PSDB está no poder em São Paulo há 15). Esse, entre outros casos, demonstra que existe mais do que um compromisso político e ideológico entre a Globo e os tucanos.


segunda-feira, 12 de julho de 2010

2010: a copa em que a grande imprensa torceu contra o Brasil

A Copa de 2010 vai entrar para a história como a copa em que a grande imprensa brasileira, capitaneada pela Rede Globo, torceu contra a seleção do seu próprio país. Isso por que Dunga não se rendeu, como fizera Parreira em 2006, aos interesses do jornalismo da emissora.

Em 2006, a Rede Globo e seus jornalistas entravam a hora que queriam nas "concentrações" brasileiras para colher entrevistas com jogadores e membros da comissão técnica, algumas vezes até de madrugada para participações ao vivo no Jornal Nacional - quando o jornal vai ao ar já é madrugada na Europa e na África. Os treinos tornaram-se verdadeiros espetáculos que misturavam jogadores, jornalistas e torcedores, ocasião em que os dois últimos se comportavam como uma horda que tratava os primeiros como se fossem as "celebridades" televisivas brasileiras.

Quando fomos desclassificados pela França, a Globo e toda essa imprensa que fez todo esse carnaval exibicionista antes e durante a copa cuidaram logo de encontrar culpados e, claro, os principais responsáveis foram os membros da Comissão Técnica que permitiram que a "excessiva" exposição dos jogadores atrapalhasse o desempenho deles na copa, como a própria imprensa nada tivessem a ver com aquilo.

Até Roberto Carlos, o baixinho lateral, foi ridicularizado por que não marcou Thierry Henry, preferindo ajeitar o meião durante a cobrança de falta que resultou no gol da França que desclassificou o Brasil. É claro que aquela não era a hora mais adequada de tratar do visual, mas Roberto Carlos nunca teve a função de marcar, especialmente em jogadas aéreas, e mais ainda um "gigante" como Henry.

Acredito que o Brasil perdeu em 2006 por que jogou mal e por que não era do interesse da FIFA, assim como também não era da CBF, que o Brasil se tornasse hexacampeão. Isso diminuiria o interesse pelas copas. Imagine um país que, sozinho, abocanhasse 6 títulos, enquanto os mais próximos (Itália e Alemanha) haviam obtido até então "apenas" 3, sendo que esse mesmo país sediaria a copa 8 anos depois.

Não estou adotando aqui uma visão conspiratória, apenas indicando que a copa, sendo o maior negócio esportivo do planeta, só continuará despertando as atenções de sempre, especialmente na Europa, se for mantido o tradicional equilíbrio entre os participantes. Vitórias sucessivas de um único país quebrariam esse frágil equilíbrio. Vejam bem: em 3 copas consecutivas (94, 98 e 2002) o Brasil fora a 3 finais e ganhara duas. Eu mesmo nunca esperei tanto.

Em 2006, o Brasil tinha de longe a melhor seleção, com Ronaldinho Gaúcho e Kaká no melhor momento de suas carreiras, e um ataque com Ronaldo (ainda jovem e em forma) e Adriano, ainda o "Imperador" da grane área. Como provavelmente é impossível combinar resultados em uma copa, porque envolveria uma imensa quantidade de pessoas, a melhor saída pare dificultar a vitória brasileira foi a festa, a descon(cen)tração, tudo, é claro, movido a muito dinheiro. Por quanto a CBF vendeu o tempo de preparação da seleção na Suíça antes da copa, com os treinos espetaculosos abertos ao público, desde que ele pagasse para entrar?

E certamente isso se refletiu no desempenho durante a copa. Em 2006, o Brasil foi derrotado pela França, nas quartas-de-final, seleção que tivera um fraco desempenho na primeira fase, classificando-se em segundo lugar depois de dois empates (Suíça e Coréia do Sul) e de uma vitória contra a fraca seleção do Togo na última rodada.

Diferentemente de 2010, quando a Holanda jogou um futebol à altura do da nossa seleção, dava sono ver a França jogar, o que reforça ainda mais o quanto 2006 foi uma copa fácil de se ganhar. A Itália, a campeã, foi outra fraca seleção. Já em 2010, o Brasil manteve o padrão e a mesma qualidade do futebol que o levou à copa, ao passo que o futebol que jogou o Brasil em 2006 foi apenas uma sombra do futebol de antes da copa, o que reforça a idéia de que perdemos por conta da preparação.

Pois bem. Da mesma maneira que o presidente da CBF anunciou logo após a derrota para a Holanda que o nosso problema – vejam só! – foi um time com uma alta média de idade (28 anos!), em 2006 a CBF culpou a falta de controle da disciplina por parte da Comissão Técnica.

Ricardo Teixeira disse para Galvão Bueno – com "exclusividade" – que o bom desempenho da Alemanha em 2010 se devia a um time com uma média de idade de 23 anos, o que corroborava a tese da Globo de que Dunga fora o principal culpado pela derrota porque se recusou a levar jogadores mais jovens, como Ganso e Neimar (qual o acordo da Globo com o Santos e quanto ela leva na venda de seus jogadores? Lembram da verdadeira campanha publicitária que a Globo fez com Robinho antes de sua venda para o Real Madrid?)

Se o Brasil tivesse um time jovem e fosse derrotado, certamente diriam o contrário: que copa não é lugar para jogadores inexperientes, que experiência é fundamental e blá, blá, blá... Não fosse esse, seria outro argumento. E tem mais: eles esquecem de que o que aumentou a média de idade de nossa seleção foram as presenças de jogadores como os zagueiros Juan (31 anos) e Lúcio (32), considerados até a derrota "os melhores zagueiros do mundo" (Andre Ooije, zagueiro holandês, tem 36 anos de idade; Pelé, quando foi tri-campeão em 1970, tinha 30 anos). E, para colocar o argumento da Globo e da CBF abaixo definitivamente, a média de idade da campeã seleção espanhola é de 27,7 anos, portanto, menos de 1 ano abaixo da média brasileira.

Não foi por outro motivo que a Globo torceu de maneira deslavada pelos alemães quando eles enfrentaram a Espanha na semi-final. Caso eles fossem campeões teriam a prova definitiva para enterrar de vez Dunga, cuja seleção perdeu não por que tinha um time mais "velho", mas por que enfrentava outra seleção à altura do nosso futebol, tanto que foi à final; perdeu por que ninguém é imbatível, especialmente no futebol; perdeu por que o futebol é um esporte e, por isso, devemos saldar aqueles que souberam honrar nossa tradição no futebol, que resgataram o sentido do coletivo, do amor pela nossa camisa e pela nossa seleção; que se doaram e, como todos nós, sofreram com a derrota. E foi Dunga quem resgatou isso.

Dunga e a nossa seleção mereciam mais, tanto da asquerosa direção da CBF quanto da repugnante grande imprensa. Esta última, por vis interesses econômicos, prefere torcer contra a ver um desafeto vitorioso.

Como é desconcertante para qualquer pessoa que tenha algum senso crítico escutar de "comentaristas", apresentadores e narradores da estirpe de Galvão Bueno, essa detestável figura do jornalismo esportivo brasileiro, que com a derrota para a Holanda se confirmava o que eles "previam" que aconteceria, mas que "torciam" que estivessem errados (!) – ora, eles tinham 50% de chances de acertar seus "prognósticos" anti-Dunga: em copas, ou se é vitorioso, se é campeão que é a única coisa que vale para o brasileiro, ou se é derrotado. E Dunga tinha que ganhar a copa para para provar que estava "certo".

Mas, mesmo com a derrota, Dunga é o grande vitorioso: era para ser demitido depois de Copa América de 2008 e foi ficando até conquistar uma impressionante sucessão de campeonatos (além da Copa América de 2008, ganhou a Copa das Confederações de 2009 e o primeiro lugar nas eliminatórias, depois de uma inesquecível vitória contra a Argentina na casa dos nossos hermanos).

Fez a copa que tinha que fazer, sem um futebol vistoso, mas de um vigor, uma movimentação sincronizada entre meio de campo e ataque – o que mostra suas qualidades como técnico, – um equilíbrio defensivo por conta da articulação entre o meio e a defesa, além de um eficiente e quase mortal contra-ataque que, deixava os adversários com medo de atacar o Brasil (além dos dois gols, resultado de falhas na nossa defesa, o que mais a Holanda fez naquele fatídico jogo, depois de levar um "baile" num primoroso primeiro tempo que lembrou as melhores seleções brasileiras da nossa história?)

A desclassificação brasileira deveu-se mais ao medo psicológico da derrota do que a uma superioridade holandesa, o que certamente teve a ver com a "campanha" que a Globo e suas aliadas fizeram contra Dunga e a seleção. O medo da derrota provavelmente imobilizou os jogadores e talvez o próprio Dunga.

Tanto que na entrevista que deu após a derrota, ao invés do choro, Dunga se mostrava mais aliviado, pois mesmo a dor da desclassificação, que resultaria no fim de um sonho profissional - ser campeão mundial e dirigir a seleção na próxima Copa -, era inferior ao alívio diante da pressão de ter que enfrentar o dia-a-dia de jogo sujo de uma imprensa raivosa. Por isso, a cada vitória na copa e a cada entrevista que a sucedia, Dunga despejava seu caldeirão reprimido de raivas sobre repórteres sem caráter, ansiosos por agradar seus chefes nas redações dos jornais, rádios e TVs, à custa da reputação profissional de pessoas que a eles não se dobravam.

Por isso, repito, Dunga foi vitorioso. Vitorioso por que enfrentou e venceu a Globo (isso eles não perdoarão nunca!). Chegou a copa era objetivo principal de Dunga, objetivo que no início quase ninguém acreditava que ele atingisse. Dunga, como Lula – o único parâmetro de comparação – demonstrou que é possível enfrentar e vencer a Globo e toda a grande imprensa.

Nesse caso, com a diferença que Dunga foi menos político e, por isso mesmo, menos sutil: desdenhou abertamente, na frente das câmeras, daqueles que tentaram "derrubá-lo" (mas, derrubar Dunga depois da copa, convenhamos, pode ser considerada uma vitória de Pirro da Globo). E, como Lula e contra a Globo, Dunga conseguiu o apoio de mais de 70% dos torcedores brasileiros antes e durante a copa, que ainda demonstram algum carinho pelo treinador mesmo depois do linchamento moral a que foi submetido depois da derrota para a Holanda.

Quanto à Espanha, venceu o melhor futebol, o mais ofensivo, o futebol que não tinha medo de perder, o que é cada vez mais raro em Copas do Mundo. Mesmo na prorrogação a Espanha procurou teimosamente o gol para evitar que mais uma copa fosse decidida nos pênaltis, o que não condiz com as expectativas que geram o torneio. A Espanha felizmente venceu. A Holanda foi covarde, como fora contra o Brasil, e mereceu perder novamente uma final. Teria sido bonito assistir, mesmo que para perder, a uma final do Brasil contra a Espanha.

Talvez em 2014.

O vídeo acima mostra a deslavada manipulação que a Globo faz, dando a entender que o repórter Tadeu Smith escreveu o texto que foi lido em uma entrada sua durante o Jornal Nacional. Entretanto, o mesmíssimo texto foi apresentado por outro apresentador, agora na Globo News.


Já o vídeo mostra Dunga "dizendo" palavrões para outro repórter da emissora, Alex Escobar, em uma entrevista coletiva. Entretanto, ninguém escutou nada. O que a Globo fez foi uma "leitura labial" para constranger Dunga e firmar sua imagem como alguém mal educado e grosseiro. Em 2006, a mesma Globo fez isso com Parreira, só que com o técnico à beira do gramado. Parreira protestou e a Globo pediu desculpas em cadeia nacional (clique aqui). Mas, Parreira era Parreira, em quem a Globo mandava...

terça-feira, 6 de julho de 2010

Sobre copas, derrotas e vitórias

Acompanho Copas do Mundo de Futebol desde a de 1978. Da de 1974, quando eu tinha 7 anos, tudo que sobrou na memória foram as imagens de uma Itaporanga, onde morei na infância por 3 anos, de ruas vazias como se ela fosse uma cidade fantasma. É uma lembrança de um país que sempre parou para assistir sua seleção em jogos de Copa do Mundo. De 1978 a 1994 sofri por 16 anos a tristeza de nunca ter comemorado a vitória numa Copa do Mundo. Depois de sucessivos desastres, comecei a temer que isso jamais acontecesse durante a minha vida. Continuadamente, assisti às derrotas de 78, 82, 86 e 90.

1982: a copa que merecíamos ganhar e perdemos

De todas elas, a que mais me doeu foi de 1982. Não apenas porque aquela seleção foi a melhor que eu já vi jogar, mas porque do alto dos meu 15 anos a vitória brasileira em 82 seria uma justa homenagem ao futebol do maior jogador de todos os tempos, Zico, e a um time que também tinha Sócrates, Falcão, Éder Aleixo, e os incríveis laterais (do Flamengo) Leandro e Júnior, e um maestro do tal futebol arte como treinador, Telê Santana.

Trucidamos nossos adversários com uma elegância e uma facilidade que, sonhávamos nós, nos dava a certeza mesmo antes da copa de que não haveria adversário à altura do nosso escrete. Especialmente a Argentina do então jovem Maradona, a qual goleamos por 3 a 1, num olé memorável. 1982 me ensinaria definitivamente que nem sempre o melhor time era o que levantava a taça no final, e que nas copas, sendo rápidos torneios, os fatores motivacionais e psicológicos, especialmente nas partidas decisivas, são tão valiosos quanto a qualidade do futebol. Perdemos para uma sofrível Itália, que passara para a segunda fase da copa e para o grupo do Brasil capengando depois de 3 empates seguidos, e no saldo de gols marcados.

Vi um Paulo Rossi, com uma sorte infernal, abrir o placar daquela partida que não sairia jamais da memória dos brasileiros que a assistiram; em seguida Sócrates, depois de um daqueles passes magistrais que só Zico sabia dar, empatou o jogo; no finalzinho do primeiro tempo, depois de um suculento passe de Toninho Cerezo que, inexplicavelmente, recuou a bola para o espaço vazio da nossa defesa para nele aparecer novamente Paulo Rossi, que acordara na copa para infernizar nossas vidas. Rossi avançou sozinho e fuzilou a meta do fraco goleiro Waldir Peres. No segundo tempo, sofremos as dores de todas as copas, imaginando o que acontecia com a nossa seleção que simplesmente não aplicava outra goleada naquela Itália que só sabia marcar e temer o Brasil.

O pior é que perdemos jogando bem, ou seja, jogando o futebol de sempre. Eu me lembro perfeitamente de todos os lances daquele jogo, do gol que Serginho Chulapa perdera, sozinho, na marca do pênalti e de frente para o gol, da camisa de Zico escandalosamente rasgada por um zagueiro italiano dentro da área, das chances desperdiçadas. Até que, por volta dos 30 minutos do segundo tempo, Falcão recebeu a bola de Júnior, ao mesmo tempo em que se deslocava sincronizadamente com outros jogadores para a direita, o que abriu a defesa italiana, e Falcão, de fora da área e com o gol aberto, acertou um chute no ângulo de Dino Zoffi, o veterano goleiro italiano que defendera a Azurra na final de 1970.

Eu, que não conseguia mais assistir ao jogo, explodi numa alegria que misturava todas as torcidas naquela sala e que só as Copas são capazes de unir num abraço. Jamais senti alívio tão grande, a não ser quando Nunes marcou o terceiro gol na decisão do brasileiro de 1980. Na adolescência, vivemos nossas paixões tão intensamente que por vezes, quando adultos, sentimos saudades do quão absorvente eram nossos sentimentos, não apenas os amores que nos arrebatavam. Envelhecer é, também e principalmente, domar esse vulcão de sentimentos que vai ficando desativado até morrer numa fria calmaria. Depois de 1982, nenhuma vitória e nenhuma derrota no futebol teve o mesmo significado para mim.

Restabelecida a ordem das coisas com o empate que nos daria a classificação para a semifinal, queríamos agora ganhar da Itália para mostrar nossa supremacia. Engraçado que, diante de uma derrota iminente, imploramos aos céus por um empate; conquistado o empate, eis que ele se tornar desonroso para as nossas tradições, mesmo que, como naquele fatídico jogo, o empate nos levava à vitória. Mas, aquela seleção podia mais. E eis que surge novamente Paulo Rossi para atazanar a vida de uma nação inteira. Depois de um escanteio, que Waldir Peres com mais esforço, como reclamei à época, poderia ter evitado – fieis à nossa tradição católica, como gostamos de encontrar culpados para tudo! – a bola é lançada para o cabeceio, a defesa afasta para frente para o revide com um chute de primeira de um jogador italiano na entrada da área congestionada... e Deus, que naquela tarde, não sei exatamente por que, vestia a camisa azul da Itália, deixa que a bola vá na direção de Rossi, que apenas desviou para o gol... O pesadelo novamente começava e, dessa vez, para nunca mais acabar. Dirceu ainda cabeceou uma bola que foi defendida por Zoffi em cima da linha aos 44 minutos do segundo tempo. Quando o juiz apitou o fim da partida me dei conta de que, especialmente no futebol, ninguém era imbatível. E é exatamente por isso que ele é tão apaixonante. Quem imaginaria que o Uruguai venceria o Brasil, em 50? E a Alemanha a Hungria, em 54? E novamente a Alemanha a Holanda, em 74? Quem imaginaria, antes da partida, que aquela Itália venceria o Brasil, e depois a copa de 82?

E a derrota naquela copa foi tão dolorosa porque éramos, de longe, a melhor seleção do mundial. Na minha imaginação, se fosse possível trocar, trocaria de bom grado a vitória de 1994 pela de 1982.

1994: a copa que merecíamos perder e ganhamos

De todas as copas que eu vi o Brasil jogar, as de 1990 e 1994 foram as que apresentamos o futebol mais sofrível. De 90 a 94, abandonamos a Era Telê para entrarmos com força no pragmatismo da Era Lazaroni/Parreira. Na de 90, dava pena ver a mediocridade do nosso futebol, excessivamente defensivo, excessivamente medroso. Naquela copa, a Argentina repetiu a Itália de 2002: com uma medíocre primeira fase – se fosse no modelo de hoje, os argentinos teriam sido eliminados na primeira fase, já que eles se classificaram em 3º no seu grupo, atrás de Camarões e Romênia.

Nem longe lembrava o futebol de 1986, quando Maradona mostrou ao mundo a exuberância de sua majestosa arte, que nos dá inveja até hoje e, talvez por isso, consciente e inconscientemente, a maioria dos brasileiros o detesta. A Argentina eliminou o Brasil num jogo em que a nossa seleção teve várias chances e, no único lance criado durante todo o jogo, Maradona decidiu para os argentinos: arrancou antes do meio de campo, driblou 3 jogadores brasileiros e, quase caído, deu o passe para Caniggia, que, sozinho, driblou Tafareu e fez o gol. Isso aos 35 minutos do segundo tempo. O Brasil novamente estava fora da copa e a Argentina continuou e só foi parada na final, quando perdeu para a Alemanha.

Em 1994, até que tínhamos um time bom (Romário, Bebeto, Raí, Jorginho, Leonardo), mas tínhamos um limitado futebol. Jogamos a primeira fase com times medíocres (Rússia, Camarões e Suécia). Vencemos os dois primeiros e empatamos com o último. Depois, vivemos uma sucessão de sufocos: 1 x 0 nos Estados Unidos, 3 x 2 na Holanda, com um gol salvador de Branco (salvador mesmo, porque não fosse ele a Holanda teria virado o jogo depois de ter empatado quando perdia por 2 x 0), 1 x 0 novamente contra a Suécia na semifinal, com um gol de cabeça (de cabeça!) de Romário, o que nos levou à final contra a Itália.

Nela, quase morremos num, não fosse o nervosismo de uma decisão de copa, tedioso 0 x 0 no tempo normal e na prorrogação, o que nos obrigou a enfrentar, como diz Galvão Bueno, a "loteria" dos pênaltis. Decisão nos pênaltis foi mesmo uma síntese do que foi o futebol durante aquela copa, para a desonra tanto de Brasil quanto de Itália. Os dois países mais apaixonados por futebol mereciam mais. Mesmo assim, torci intensamente. Lembro que a final aconteceu num final de uma tarde chuvosa de julho e que durante todo o jogo pensei nos anos de espera para chegar até aquele momento. Quando Roberto Baggio chutou para fora o pênalti que deu a copa para o Brasil pude ver a loucura em movimento: gritos quase desesperados, choros convulsivos, corpos que rolavam nas poças das ruas enlameadas do Cristo Redentor. Depois de 24 anos de espera, tudo se justificava para uma geração, como a minha, que nunca assistira sequer a uma final de Copa do Mundo com o Brasil dela participando.

1982 e 1994 me ensinaram, antes de tudo, que, diante das vitórias e das derrotas, nada de significativo muda nas nossas vidas. Depois das copas, a vida continua bem ou mal com era antes delas. Que copas não elegem presidentes nem os fazem perder eleições (Lula perdeu em 1994, quando o Brasil foi campeão, em venceu em 2002, quando novamente o Brasil ganhou a copa). Em tempos de copa, muito se fala sobre nossas manifestações de patriotismo quadrienal, quando desfraldamos orgulhosos nossa bandeira a cada copa. Critica-se, em geral, o patriotismo que só se apresenta nesses anos, e a ausência dele nos anos seguintes. Isso é uma visão tosca e, como sempre, preconceituosa contra o nosso povo.

O patriotismo das copas é a paixão do brasileiro pelo futebol e por sua seleção, a mais universal e consensual expressão da identidade nacional, que transcende as diferenças de classes, raças, religiões. E pouco tem de ideológico, a não ser os interesses econômicos que se escondem atrás do futebol e, especialmente, das copas. Mas, o futebol há muito já se tornou isso: um lucrativo negócio para empresários da comunicação, de materiais esportivos, para dirigentes e jogadores. Durante as copas, sermos torcedores brasileiros ou brasileiros torcedores dá no mesmo. Não esqueçamos que o estimulo ao patriotismo é quase sempre manifestação de autoritarismo. Somos durante as copas isso mesmo: uma imensa e coesa torcida de adultos e crianças, jovens e velhos, homens e mulheres. Aliás, estas últimas, em sua maioria tão refratárias ao esporte fora das copas, são as que mais vibram, gritam, choram, tudo antecedido por uma caprichada preparação do visual antes de cada jogo. Comemoramos e choramos todos juntos nossas vitórias e derrotas. E depois, tudo volta ao normal.

É assim que tem que ser.

Como eu acabei alongando demais esta postagem, deixo para a próxima breves comentários sobre a Copa de 2010, e minha homenagem aos que lutaram e souberam honrar com seu esforço e vontade de vencer nossa bandeira, nossa camisa e a nós mesmos que torcemos.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Na chapa majoritária, Ricardo só indicou o próprio nome. Cássio foi quem deu as cartas

Ricardo Coutinho, como previsível, só indicou o próprio nome para a chapa majoritária. Tentou afastar Efraim Moraes, e Cássio Cunha Lima bancou o demo fantasmagórico. Resmungou, fez cara feia, elogiou publicamente Daniela Ribeiro, enrolou Damião Feliciano, mas no fim não pode disfarçar a espinha dobrada para os Cunha Lima. A indicação de Rômulo Gouveia para vice da chapa ricardista se deu mais por conta de Ivandro Cunha Lima ter ficado nos banco de reservas para substituir o sobrinho no provável impedimento de sua candidatura ao Senado. Cássio Cunha Lima está preso e enrolado na vara de pescar político ficha suja.

Daniela Ribeiro nunca foi a candidata a vice – nem nos sonhos mais mirabolantes de Ricardo Coutinho. Não foi por que os Cunha Lima não queriam, e isso já bastava como argumento definitivo. E Coutinho e o "coletivo" – esse agrupamento que está entrando para o folclore político paraibano – ficaram apenas fazendo beicinho. Para os Cunha Lima já basta Veneziano Vital a fazer-lhe uma sombra cada vez mais acolhedora para ameaçar-lhe o domínio no território campinense, que a família tinha até 2004 como feudo. O surgimento de mais uma liderança em Campina poderia ser o fim definitivo dos planos de retorno do domínio familiar sobre a Rainha da Borborema.

Pois é disso que se trata hoje. Cássio Cunha Lima quando olha para 2010 só enxerga a própria sobrevivência política e a de sua grande família. E ela passa por três movimentos. Dois no curto prazo, um para daqui a dois anos.

O primeiro, reputo mais importante do que derrotar José Maranhão, foi e continua sendo impedir a ascensão de um outro político no estado capaz de se constituir como alternativa à sua liderança (essa análise já foi feita aqui há um ano atrás clique aqui). Ricardo Coutinho caiu na rede jogada por Cunha Lima, preferindo a prisão do apoio cassista à ousadia do vôo livre. Esse objetivo, Cássio Cunha Lima já cumpriu e Ricardo Coutinho não tem hoje nem a sombra do prestígio que ele tinha antes, especialmente em João Pessoa. O ex-governador é mesmo um grande sedutor...

O segundo desafio cassista é ocupar uma das vagas no Senado para assegurar-lhe um cargo e uma tribuna. Entretanto, uma inesperada pedra foi colocada no seu caminho: a chamada lei dos ficha limpa, que ameaça-lhe a candidatura e uma eleição quase certa para uma das vagas. Se for mesmo impedido de disputar, o plano terá andamento, agora na pessoa de Ivandro Cunha Lima, seu tio. De qualquer maneira, na disputa majoritária, eleger um senador passa a ser o mais (e talvez, único) importante objetivo cassista. Efraim Moraes que desculpe os Cunha Lima, mas a família dessa vez não jogará a tábua que o salvou em 2002. Ele se afogará mesmo, e agarrado a Ricardo Coutinho.

O terceiro movimento é a preparação para retomar o controle da Prefeitura de Campina Grande. E essa será uma disputa de vida ou morte para a família e o grupo. Uma derrota em 2012 na cidade significará não apenas a consolidação definitiva da liderança de Veneziano Vital, mas o rebaixamento dos Cunha Lima à condição de mortais comuns na política paraibana, um nível acima do que são hoje os Ribeiro.

Portanto, a definição do vice na chapa de Ricardo Coutinho foi mediada pelos movimentos descritos acima, especialmente o último. E Cássio Cunha Lima foi mais uma vez um mestre em subordinar os objetivos dos aliados aos seus próprios objetivos. Impediu a indicação de Daniela Ribeiro, por mais evidente que fosse ela, nos termos ricardistas, a melhor candidata: jovem, mulher, de outro partido que não o PSDB, e campinense, atributo quase fetichista nas escolhas dos candidatos a vice nas duas chapas. E por que ela não foi a escolhida? Porque, mesmo derrotada, ela sairia fortalecida para as disputas de 2012, já que toda a campanha para governador na cidade passaria por ela, e seu nome se imporia "naturalmente".

Portanto, qualquer outro nome para vice deveria sair do bolso de Cássio Cunha Lima. O tio foi para o banco de reservas e a bomba acabou no colo do deputado federal Rômulo Gouveia, um freguês de Veneziano Vital. Com esse lance, Cássio Cunha Lima matou vários coelhos com uma só cajadada. De um lado, para acomodar o PP e o PDT, isto é, Enivaldo Ribeiro e Damião Feliciano, os donos dos partidos, abriu-lhes espaços para viabilizar as candidaturas a deputado federal de Agnaldo Ribeiro e do próprio Damião Feliciano, que andavam mais perdidos que cego em tiroteio, já aperreados com o calor do cozimento em fogo brando da panela cassista. Eles só tinham a janela que foi mantida sempre aberta por José Maranhão, e não entraram porque abriram o olhos gordos para os votos de Gouveia, mas também porque estavam na desvantagem de se tornarem convidados de última hora na festa maranhista: os melhores lugares estavam ocupados.

Por outro lado, com a presumível derrota para o governo, Cunha Lima afasta Rômulo Gouveia das disputas de 2012. Com uma eleição quase assegurada para a Câmara Federal, Gouveia foi o carneiro que o ex-governador tosquiou e ofereceu em sacrifício para a chapa ricardista. Sem mandato, definhará politicamente até 2012. Notem que nenhuma verdadeira liderança familiar foi apresentada a Ricardo Coutinho como vice: os Ribeiro apresentaram o nome de Daniela Ribeiro, que é Vereadora e podia se arriscar numa disputa; Lígia Feliciano, esposa do deputado federal Damião Feliciano, continuaria onde sempre esteve: na retaguarda do marido; e Ivandro Cunha Lima, um nome que foi ressuscitado para essa disputa. Por que não os próprios Agnaldo Ribeiro ou Damião Feliciano nunca cogitaram sequer disponibilizar seus nomes?

Dos nomes apresentados para vice de Ricardo Coutinho, o único que tem muito a perder é Rômulo Gouveia: perderá o mandato de deputado federal (o que é ótimo, porque será menos um tucano na Câmara!) e o sepultamento de sua candidatura à Prefeitura de Campina Grande. Porque eu continuo acreditando que os Cunha Lima não entregarão a disputa de 2012 nas mãos de qualquer um: caso possa ser candidato, Cássio Cunha Lima se apresentará como alternativa. 2012, como eu disse, será uma disputa de vida ou morte para a família e, sem alternativa, Cunha Lima arriscará o próprio pescoço na disputa.

E mais: o nome de Rômulo Gouveia, apesar de forte, não era o melhor, pois ele estimula a reedição das duas últimas renhidas disputas para a Prefeitura, uma outra lembrança que certamente ainda se mantém viva na memória do eleitor campinense, que também deverá ser lembrado de que o vice de um político como Ricardo Coutinho tende a ter pouco espaço, tendendo a assumir funções meramente decorativas. E mesmo que Ricardo Coutinho vença em Campina Grande, a vitória será creditada na conta dos Cunha Lima e nunca na de Gouveia.

Se a análise que fiz acima estiver correta, Ricardo Coutinho está em maus lençóis. Quando aliados (e adversários) começam a pensar na eleição seguinte é porque já enxergam o crescente buraco na canoa ricardista por onde entra água abundante. Até o final de agosto será cada um por si. E salve-se quem puder!