terça-feira, 30 de março de 2010

Ricardo Coutinho X José Maranhão: Davi contra Golias?


Sempre tratei as pesquisas eleitorais no Brasil - e, especialmente, na Paraíba - como um dado a mais da realidade. Por outro lado, ao me deparar com opiniões sobre favoritismo de qualquer candidatura e com a idéia de uma eleição antecipada numa disputa majoritária, sempre lembro de um fato simples: entre a definição de uma candidatura e a eleição propriamente dita existe uma campanha no meio.

E não é por outro motivo que são abundantes os exemplos de candidatos que perderam eleições que, segundo as pesquisas, "estavam ganhas", e candidatos considerados derrotados que acabaram vencendo as eleições. Não se ganha nem se perde eleição há 6 meses de sua realização. E nenhuma eleição, salvo circunstâncias muitos especiais, é vencida sem que as condições para tal estejam plenamente amadurecidas. Madura a situação, o mais importante é encontrar o melhor discurso, apresentá-lo da maneira mais didática possível e torná-lo o centro da estratégia eleitoral.

Ricardo Coutinho, apesar dos erros amadores cometidos nos últimos meses, provavelmente chegará em junho montado nos 30%, um percentual considerável em qualquer circunstância. E os atuais percentuais do governador José Maranhão, que superam os pouco mais de 40%, exigem daqui por diante uma ampliação constante e segura, pois suas vantagens diante do adversário fazem lembrar novamente a disputa de Davi contra Golias. Nessas circunstâncias, o perigo é que o eleitor, ao invés de votar em quem "vai ganhar", comece a torcer pelo mais fraco. Lembrem do "tá com medo ou tá com Pedro?" que elegeu Pedro Gondim contra Ruy Carneiro, em 1960.

José Maranhão está cada vez mais assumindo o papel de "Golias" nessa disputa. Ele tem ao seu lado a força das máquinas administrativas dos governos federal e estadual, além do poderio das principais prefeituras da Paraíba; junto com isso, potentes máquinas partidárias, como as do PMDB e do PT - é verdade que esta última está enfraquecida e dividida, - que serão acrescidas de novos partidos em busca dos aconchegantes e largos braços do governernismo (como o PTB - e já se fala do PP). Com essa conjunção de forças o atual governador terá a possibilidade de colocar nas ruas um verdadeiro exército de cabos eleitorais que fornecerão à Paraíba a sensação de que ela está literalmente coberta pelas cores de sua bandeira, que são as cores do PMDB.

Mas, além dessa força desproporcional que será demonstrada ao longo dos próximos meses até o início da campanha, quando cada oponente saberá com alguma precisão o tamanho do exército que contará nessa peleja, José Maranhão precisará apresentar um novo discurso ao eleitor, principalmente o motivo que o convença a votar para que ele, atual governador, tenha direito a mais um mandato.

Não tenho dúvidas de que esse será o principal embate, em termos de discurso, que poderá reproduzir o acirramento das duas últimas eleições. Nesse sentido, a questão é saber se o eleitor estará aberto à mudança - e saturado das lideranças tradicionais, - ou se manterá distância, na hora da escolha, da observação das características individuais e históricas de cada candidato, optando por manter, em termos de lideranças políticas, as coisas como estão.

Por outro lado, a grande incógnita será o comportamento do eleitorado dos dois maiores colégios eleitorais, João Pessoa e Campina Grande. No caso do primeiro, se ele converterá em voto no candidato oposicionista (Ricardo Coutinho) a boa avaliação que ele faz da administração pessoense; no caso do segundo, se o eleitor campinense reproduzirá a rejeição a José Maranhão que permitiu estabelecer uma diferença que foi a principal responsável pela vitória de Cássio Cunha Lima nos dois últimos pleitos.

Se a atitude do eleitor campinense mantiver a atitude das duas últimas eleições - foram 4 as vezes, nos dois turnos de 2002 e 2006, que ele se dirigiu às urnas para derrotar os candidatos do PMDB, - consolidando uma espécie de comportamento eleitoral, José Maranhão precisa começar a se preocupar. Especialmente se Ricardo Coutinho conseguir uma aliança com o PSDB, indicando Ivandro Cunha Lima como o seu vice, e Veneziano Vital permanecer na Prefeitura. Então, as condições políticas estarão montadas para repetir 2002 e 20006, se não nas mesmas proporções, mas com intensidade suficiente para estabelecer uma diferença que precisará de dezenas de pequenas cidades para ser coberta.

E se o eleitor de João Pessoa desconsiderar as alianças que fez o atual prefeito, será a capital dessa vez a derrotar o PMDB. E é bom não esquecer: mais de 50% do eleitorado paraibano está concentrado nas 20 maiores cidades, onde o eleitor é cada vez mais independente e cada vez mais tem acesso à informação.

Portanto, se for mantida hoje a diferença entre José Maranhão e Ricardo Coutinho, como mostram as últimas pesquisas - mesmo desconsiderando a margem de erro, - está certo o prefeito de João Pessoa em ousar, mesmo com as reais possibilidades de derrota. Em política, a ousadia pode ser o diferencial entre uma carreira medíocre e uma carreira vitoriosa.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Ainda o Datafolha

Tive o trabalho de organizar os números das últimas 5 pesquisas do Datafolha num quadro e trasformá-lo em dois gráficos. Um, com a evolução dos números a respeito das pesquisas estimuladas (quando é apresentado ao eleitor os nomes dos possíveis candidatos) e outro com os resultados das pesquisa espontâneas (quando é perguntado ao eleitor em quem ele vota, sem que nenhuma informação lhe seja apresentada).
Observe que eles mostram tendências diversas que se interrompem com a última pesquisa. Enquanto Dilma Rousseff segue sua linha de ascensão nas pesquisas espontâneas, José Serra, mesmo sendo mais conhecido, estancou nos 8%. Ora, José Serra cresceu entre os eleitores que tem o Bolsa Família e entre as mulheres, além de ter crescido na região sul - onde sempre atuou politicamente Dilma Roussef, - exatamente entre os potenciais eleitores da candidata petista, como explicar que, mesmo crescendo na espontânea, tenha perdido pontos na estimulada? Observem a curva ascendente entre um e outra pesquisa. Vejam que Serra, quando caiu na espontânea, caiu também na estimulada. O mesmo ocorre com Dilma. A excessão é a última pesquisa.

Não vou repetir aqui o lugar-comum de que toda pesquisa "é um retrato" circusntancial da disputa eleitoral, só servindo pesquisas há 6 meses da eleição para estabelecer possíveis tendências. Entretanto, nessa fase da disputa, as pesquisas tem outro objetivo. Nesse caso, impedir a consolidação da idéia de que Dilmna Rousseff é a nova favorita da disputa e José Serra um candidato decadente, visando com isso impedir a migração de potenciais aliados do PSDB (como o PTB, por exemplo) para o arco de apoio à candidata do PT. Além disso, existe o problema do financiamento das campanhas. Quanto mais favorito é um candidato, mais recursos ele tende a arrecadar. Como só a eleição pode desmentir qualquer pesquisa, vale tudo seis meses antes.
Roussef iniciou uma linha de ascensão nos últimos meses quando o seu nome tornou-se mais conhecido e, especialmente, depois do programa nacional do PT de dezembro quando ela foi apresentada pelo próprio Lula como sua candidata a presidente. Tanto que os votos espontâneos dados a Lula começaram a migrar para Rousseff, que já o ultrapassou (12% a 10%).

Quando afirmei aqui mesmo neste blog (clique aqui), ainda em outubro do ano passado, que Dilma Rousseff tendia a ser favorita quando a eleição se aproximasse, muita gente desdenhou daquela análise. Quem viu apenas as características da candidata - nem de longe parecidas com as de Lula (mas, é bom lembrar que Lula foi derrotado duas vezes por FHC, um político elitista e sem "carisma") - e desconheceu o ambiente político e econômico que se formava, h0je tem que reconhecer que, diferentemente do quadro de 2009, em 2010 Dilma Rousseff é quem aparace como favorita. E, a não ser que aconteça uma hecatombe econômica - o que é improvável, muito pelo contrário, a tendência é que bem próximo da eleição, a economia atinja o auge do seu crescimento em 2010, - Dilma Rousseff tende a confirmar esse favotismo.

Vamos acompanhar. Sem histerismos.

sábado, 27 de março de 2010

Em tempo: Que fato político extraordinário provocou a subida de José Serra no Datafolha?

Pesquisa Datafolha divulgada hoje indica que José Serra recuperou 4 dos cinco pontos perdidos de dezembro para cá. Dilma Roussef caiu 1 ponto. A grande questão é: qual o fato político extraordinário que fez José Serra subir 4 pontos e Dilma Roussef estacionar?

Ao contrário, as chuvas continuam a assolar São Paulo, assim como os "alagões". Além disso, os professores continuam em greve, o que não é um dado da conjuntura favorável ao governador paulista.

A não ser que o simples anúncio que o governador paulista fez de sua candidatura tenha provocado essa subida repentina. As manipulações apenas começaram. Resta conferir os resultados da Vox Populi e da Sensus que devem sair em breve.

E por falar em greve, e a nossa quando acaba? José Maranhão vai fazer como José Serra? E o PT, o que diz em defesa da educação e dos professores?

PS. Rubens Nóbrega, depois de postado o texto acima, me chamou a atenção, via "i-meio", para o fato de que Dilma Roussef, na pesquisa espontânea, cresceu e ultrapassou Serra, indo a 12%, enquanto o governador tucano manteve-se estacionado nos 8%, fato que ele considerou "estranhíssimo".

E é mesmo. Deve ter sido a primeira vez que uma candidata aumenta suas intenções de voto na espontânea e cai na estimulada. Essa tipo de manipulação grosseira vai ser o mínimo que a grande imprensa vai aprontar até outubro. 2010 vai ser uma espécie de tudo ou nada pra ela.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Armando Abílio e o PTB: existe limite para a incoerência política?

A MÃE DINAH DA POLÍTICA PARAIBANA REVELOU O DESTINO DE MUITOS POLÍTICOS, MENOS O SEU PRÓPRIO

O deputado federal Armando Abílio gabava-se em cada entrevista que dava de ter sido o PTB o primeiro partido a acreditar no projeto político de eleger o prefeito Ricardo Coutinho governador da Paraíba, e de ter sido ele próprio a antecipar o apoio que o ex-governador Cássio Cunha Lima daria a esse projeto. Isso há mais de dois anos atrás.

Repetiu à exaustão aquilo que se tornou quase um bordão, tentando inverter a seu favor a ironia de adversários que o apelidaram de “Mãe Dinah” por querer prever o futuro político de Cássio Cunha Lima quando este ainda era governador. Mãe Dinah foi (ou é) uma vidente que ganhou notoriedade por tentar fazer previsões na TV, especialmente a respeito da vida das chamadas “celebridades”.

A mais conhecida delas foi a previsão de que Ayrton Senna venceria, em 1994, o GP de Ímola, na Itália. Entretanto, ao invés de carregado nos braços da torcida, Senna saiu do autódromo naquele trágico fim de semana dentro de uma ambulância, agonizando depois de um grave acidente que o levaria à morte.

Convenhamos que predizer que Senna venceria um grande prêmio dirigindo o melhor carro da Fórmula 1 à época não era mesmo grande coisa. Mas, a vidência tem dessas coisas. Das muitas previsões que ela faz, se apenas uma se realiza, é essa que ganha notoriedade e esquece-se as muitas outras que o acaso não permitiu que se efetivasse.

No início dessa semana, a Mãe Dinah paraibana surpreendeu novamente a todos/as fazendo o seu partido, depois de mais de 3 anos celebrando o prefeito de João Pessoa como a maior liderança da Paraíba, aderir ao principal adversário daquele que outrora tinha sido a menina dos seus olhos. Não sei se Abílio refez suas previsões sobre quem será o futuro governador da Paraíba, afinal suas previsões tinham prazo de validade e iam até a fase das definições das candidaturas.

Mas é certo que Ricardo Coutinho, por conta desses mistérios de finais tão previsíveis que marcam a política paraibana, já não habita mais o coração daquele que tornou-se, depois do prefeito de João Pessoa, o mais ardoroso defensor da democracia participativa, modelo que o PTB adotou com afinco e propagandeou por todo o estado como uma política mudancista.

O ex-tucano Abílio, e hoje lulista de carteirinha, finalmente havia compreendido a diferença entre democracia representativa e democracia participativa. Pelo menos teoricamente. E para não ficar como um peixe fora d’água, ou um passageiro fora do “coletivo”, Abílio também começou a chamar, mesmo os jornalistas que lhe entrevistavam, de “companheiro”! Tinha mesmo se tornado uma metamorfose ambulante o companheiro Abílio...

O homem era de uma fidelidade tão canina ao ricardismo que deve ter chegado a causar comoção no duro e pouco sensível coração de Edvaldo Rosas, certamente deixando nele uma pontinha de saudade daqueles tempos em que Rosas podia elogiar, sem que ninguém desse uma risadinha às escondidas, a forma altruísta como Abílio defendia a causa da Paraíba. Eu mesmo nunca entendi como um político com tantos anos de estrada, e com aquelas qualidades reveladas, tivesse passado de mim despercebido.

No seu afã ricardista, como o cristão-novo que deseja ser mais realista que o rei, o atual presidente do PTB conseguiu o que foi considerado um feito pela imprensa cassista: para consolidar a aliança do PTB com o PSB, Abílio chegou mesmo a convencer o até então mais ferrenho opositor no partido à tese da aliança com Ricardo Coutinho, ninguém mais ninguém menos que o suplente de senador Carlos Dunga!

Entretanto, nem bem 2010 havia começado, ao invés da comoção, alguns ricardista começaram a ficar foi com a pulga atrás da orelha. Armando Abílio começava a engrossar a voz, a dar petelecos na mesa, a estabelecer condições.

Ao mesmo tempo em que fazia isso, negava de pés juntos e com o terço nas mãos que ele ainda preserva dos tempos do Seminário, que não conversava com José Maranhão e que a única coisa que lhe interessava era o PTB. Mas, como bom cristão que é, Abílio só confessaria suas incursões pelo reduto maranhista a um padre. Mesmo assim, começou a insistir em indicar o vice da chapa do PSB, quando ele e toda a Paraíba sabiam que aquele lugar já tinha dono. Para Armado Abílio era a vice ou nada, que era uma maneira mais elegante de dizer "a bolsa ou a vida".

Dunga não percebeu, mas na verdade o que Abílio dizia era "Dunga ou Maranhão". Porque, olhando para o barco que, pela sua lógica, começava a fazer água, o presidente do PTB precisou que alguém entrasse nesse jogo para fazer o seu jogo. E de repente, Abílio, sempre pensando no PTB, escala Carlos Dunga.

E, convenhamos, Dunga agiu como se espera de um Dunga, não o técnico da Seleção Brasileira a quem eu idolatro pelo simples fato dele ter dobrado a Rede Globo e a língua de Galvão Bueno, que tentaram derrubá-lo por não ceder aos seus caprichos e regalias, mas ao Dunga da Branca de Neve, o simpático anãozinho cuja ingenuidade está expressa na face bochechuda.

Armando Abílio atraiu Dunga para fazer o seu jogo de pressão sobre Ricardo Coutinho. E ele tinha todas as qualidades que se exigia de um vice. É de Campina Grande? É. É fiel escudeiro do grupo Cunha Lima? É. Dispõe-se a ser candidato a vice-governador? Desde 1994. Com todas essas qualidades, e mesmo sendo (tirando Ricardo Barbosa, é claro) o mais cunhalimista dos cunhalimistas, o nome de Carlos Dunga só tinha um defeito, nesse caso, fatal: o de não ter Cunha Lima no sobrenome.

Mas, mesmo assim, em nome da unidade do PTB, “das oposições” e "para o bem da Paraíba" lá foi Dunga para a fogueira que Armando Abílio já havia encomendado. E se o presidente do PTB tivesse dito como fazer ele não teria feito tão bem. Primeiro, aceitou dar um ultimato a Ricardo Coutinho: o PTB só esperaria até depois do carnaval, bradaram ele e Armando Abílio. E o Mago se fazendo de morto, já sabendo que perderia o PTB.

Até hoje eu não entendi porque Ricardo Coutinho aceitou fazer o jogo de Armando Abílio. Ora, se o jogo era esse mesmo, bastava ele anunciar bocejando o nome de Carlos Dunga e deixava com Cássio Cunha Lima a tarefa de convencê-lo a retirar a candidatura mais à frente, “em nome da unidade das oposições”. Abílio não teria o que dizer, o PTB continuaria onde o seu presidente sempre desejou que o partido estivesse e ele, Abílio, teria que arranjar um outro álibi para aderir a José Maranhão.

Coutinho, entretanto, manteve-se calado e Carlos Dunga, provavelmente sem combinar com Cássio Cunha Lima, que provavelmente passou o carnaval” twittando”, cumpriu o script: renunciou solenemente, com carta e tudo, à uma candidatura que nunca existira, a não ser na cabeça dele e nos planos de Armando Abílio, que, com o trocadilho intencional, armou direitinho para, um mês depois, anunciar que estava se entregando nos braços de José Maranhão, sem exigir nem vice, nem vaga para o senado, a não ser o que brevemente será revelado, além daquilo que não pode ser.

Digo a todos vocês: eu pensava que tinha já assistido de tudo na política paraibana, mas essa mis en scéce que o deputado federal e presidente do PTB Armando Abílio brindou a todos nós vai marcar época na política paraibana. E é também provável que em nenhum momento a Paraíba tenha assistido a tamanho espetáculo de completo desprezo pelo debate de idéias, de completo desdém no trato dos alinhamentos políticos, que não resistem à mínima distância do poder.

A trajetória do PTB nos últimos 3 anos e o corolário do anúncio do apoio do partido ao governador José Maranhão talvez seja o mais expressivo exemplo do que se tornou a política paraibana, que, com as ressalvas necessárias, tornou-se um caminho aberto para políticos medíocres (de direita e de esquerda) assumirem papéis relevantes na política paraibana. E é desse ambiente marcado pela ausência de escrúpulos que eles tiram seu oxigênio para levar à frente seus projetos, que são tão medíocres quanto são suas trajetórias.

Quanto a Armando Abílio, ele poderia nos brindar com uma última previsão antes de abandonar definitivamente a alcunha de "Mãe Dinah:"que previsão ele faz para o seu próprio futuro político?

sexta-feira, 19 de março de 2010

O PT, Jose Maranhão e a questão da vice: o presente e o futuro

O PT paraibano deseja indicar novamente o candidato a vice-governador na chapa do PMDB de José Maranhão. É legítimo que qualquer partido tenha pretensões de ocupar o máximo de espaço político. Em grande medida, nós podemos dizer que é para isso que os partidos existem e isso é o que aproxima todos os partidos, diferenciando-os as proposições programáticas que estabelecem o caráter e os objetivos do poder.

Entretanto, para que isso aconteça não basta apenas que os partidos proclamem os seus desejos em resoluções partidárias. É preciso que, acompanhado dessa vontade política, seja demonstrada a força necessária para que suas pretensões se estabeleçam sobre a dos outros partidos, que também, obviamente, desejam a mesma coisa.

O PT na Paraíba vive esse dilema. Propõe-se a manter o espaço conquistado na chapa de 2006, indicando o mesmo nome que há quatro anos compôs com o então senador José Maranhão a chapa para o governo, mas não mostra forças suficientes para tornar efetiva sua reivindicação.

Como eu já disse aqui, os argumentos do PT – especialmente do interessado mais direto, o atual vice-governador, Luciano Cartaxo – se resumem a afirmar a força do governo Lula e do tempo de TV que o partido dispõe, o que, convenhamos, não é pouca coisa, mas tem pouco a ver com a força que o partido dispõe no estado: dois deputados estaduais, um deputado federal, 6 prefeitos, sendo que a prefeita da mais importante cidade comandada por petistas – Pombal – não segue a orientação partidária e vive às turras com o próprio partido na cidade.

Não bastasse isso tudo, o PT está literalmente rachado ao meio, e suas lideranças vivem se atacando publicamente. A principal liderança do PT no estado, o deputado federal Luis Couto, acompanhado de seu grupo que controla os cargos que o partido detém na prefeitura de João Pessoa, divergem frontalmente das orientações da atual direção regional, ao ponto de, para acomodar seus interesses, defenderem dois palanques para o PT e sua candidata a presidente na Paraíba.

É bom registrar que esse mesmo grupo não diz um pio contra a aliança nacional do PT com o PMDB, ao contrário, não só vêem nisso sinal de "amadurecimento" de ambos os partidos, como propalam aos quatro ventos que o PMDB será um importante aliado para a construção do novo modelo de desenvolvimento que o governo Lula – e o de Dilma Rousef, futuramente – tentam colocar em prática! Coisas do petismo paraibano...

Assim sendo, se as bases políticas do PT na Paraíba já são frágeis, a sua divisão o torna uma caricatura do que o partido é no plano nacional. Isso fica claro quando o grupo minoritário, não perdendo a oportunidade de criar mais confusão no interior do PT, continua a defender a proposta que foi derrotada na eleição interna do PT, qual seja, o apoio à candidatura de Ricardo Coutinho ao governo – que, é sempre bom lembrar, conta com o apoio do PSDB e do DEM, inimigos históricos do PT e de Lula.

Escutei num dos programas de rádio de João Pessoa o anúncio da formalização dessa iniciativa por parte de um destacado membro do grupo de Luís Couto, e o argumento apresentado revela o alto grau de diversionismo que essa banda do PT esboça como principal forma de fazer a disputa interna: defendem o apoio à candidatura de Coutinho como uma “reação” à desmoralização a que estão sendo submetidos o vice-governador e o PT por conta da recusa do PMDB em aceitar a indicação da manutenção de Luciano Cartaxo no cargo que ele ocupa atualmente. É risível porque também é patético.

A ação não apenas objetiva criar confusão interna dentro do PT, mas ajudar a direcionar baterias ameaçadoras contra o PMDB, reforçando a frágil posição que ocupa Luciano Cartaxo, que parece não se sentir confortável com a defesa que o grupo majoritário faz da sua candidatura. O ato de buscar a todo custo ser candidato, mesmo com a recusa de José Maranhão e do PMDB, diz muito do nível político do PT paraibano. E da fragilidade política do atual vice-governador, que age como um animal de estimação rejeitado que, mesmo sendo empurrado para fora de casa, insiste em permanecer, mesmo que para isso tenha que enfiar suas unhas nas pernas do dono da casa.

Além desse movimento interno, que o grupo de Luis Couto aparentemente recebe de bom grado, vendo nisso a oportunidade de estimular o racha no grupo majoritário, Cartaxo busca sustentação fora do PT, especificamente na Rainha da Borborema, e, mais especificamente ainda, na família Vital do Rego.

É mesmo o que lhe resta. Não sei bem por que, mas escrevendo isso, senti aquela entranha sensação de déjà vu. Analisando bem, é isso mesmo: eu já assisti esse filme em algum lugar.

Em 2006, como o PSB já tornou público, Cartaxo conseguiu a sua indicação para vice-governador depois de não apenas se comprometer com a candidatura a governador de Ricardo Coutinho, em 2010, mas de assinar um documento, firmando ali a assinatura do seu compromisso. Isso tudo sem o conhecimento e à revelia do PT, partido de Luciano Cartaxo.

Estranhamente inserido de última hora entre os candidatos do PT, o ex-líder de Coutinho na Câmara de Vereadores foi um tértius que só foi indicado depois do impasse gerado por conta da indicação do vice, e dos continuados vetos colocados por Ricardo Coutinho aos nomes apresentados pelo PT, inclusive à candidatura de Luís Couto. Como é surpreendente a política! Agora sabemos como Cartaxo viabilizou sua candidatura a vice. Veja abaixo cópia do documento e do "compromisso público" secreto.

Dois anos e meio depois, Cartaxo não contou conversa e desdenhou do documento assinado e se jogou nos braços de José Maranhão, renegando o apoio dado àquele que foi, na verdade, o responsável por sua ascensão ao cargo de vice-governador, mesmo que Cartaxo, antes de 2006 e depois de várias tentativas, não tenha conseguido sequer se eleger deputado estadual.

Hoje, no rastro da indefinição sobre a candidatura do prefeito de Campina Grande, Cartaxo cava o seu lugar e tem novamente a boa acolhida de um aliado externo interessado em evitar que a vice-governadoria caia nas mãos de alguém que possa, em 2014, criar dificuldades para a sua candidatura ao governo.

O problema dessa estratégia é que em cada eleição é plantada a semente da próxima. No caso, para essa semente germinar, é necessário vencer a eleição para o governo estadual, caso contrário, os projetos envolvidos ameaçam ruir antes do tempo. Depois disso, o que se plantou em 2010 precisa ser muito bem cuidado, especialmente se houver um governador disposto a regar a semente para que ela vire planta e floresça.

E é isso que está em jogo agora. José Maranhão quer não apenas ter o controle sobre suas alianças, indicando um vice de sua confiança, mas estabelecer as condições de conduzir a sua sucessão. É por isso que ele não vai entregar a vice a Luciano Cartaxo, porque, além de fragilizar sua candidatura em 2010, isso significaria perder o controle das definições a respeito de quem vai sucedê-lo.

Caso José Maranhão se reeleja em 2010 e se afaste para concorrer ao Senado em 2014, a ascensão de Cartaxo ao cargo de governador abriria, pelo menos, duas hipóteses para o futuro das disputas eleitorais: 1) ele apoiaria Veneziano Vital, mantendo o acordo que atos e palavras demonstram que foi celebrado, ou 2) ele seria candidato à reeleição, depois de declarar que não resistiu às “pressões” internas para que o PT lançasse candidato ao governo. Com o governo nas mãos, o que ele teria a perder?

Nas duas hipóteses, José Maranhão deixaria de ser peça-chave na condução de sua sucessão, a não ser que ele resolvesse permanecer no cargo. Portanto, o que está em jogo hoje não é apenas a disputa de 2010. Todos os atores importantes (aqueles que estão envolvidos no tabuleiro de xadrez da política paraibana) enxergam muito mais à frente, especialmente quem está no controle do processo.

Caso não seja Veneziano Vital o vice, dificilmente será Luciano Cartaxo, que entrou no desesperado (e perigoso) jogo da intimidação, o que fragiliza ainda mais a sua candidatura, pois insere um elemento que ainda não existia: a desconfiança.

Até o início de abril, teremos todos os futuros jogadores em campo. Por ora, vale a pena lembrar para os candidatos a vice de José Maranhão, um ditado popular: quem tudo quer...

terça-feira, 16 de março de 2010

PT: UMA HISTÓRIA EM 3 ATOS (1998-2010)



Pretendia concluir essa séria de postagens sobre a história do PT com esta que apresentamos agora. Isso não será possível. Talvez, na medida que o tempo permita (as aulas da UFPB recomeçaram), com mais duas eu consiga concluir a série: mais uma sobre a eleição de Lula, em 2002, e mais outra sobre o seu governo.

Nesta, como você verá abaixo, concentrei minha atenção no segundo governo FHC, especialmente sobre o chamado "apagão elétrico" e suas repercussões na vida dos cidadãos comuns, que pagaram até bem pouco tempo essa conta.

O segundo governo FHC: crise, crise, crise...

O início do segundo governo Fernando Henrique Cardoso, ao contrário de representar a consolidação de um ciclo iniciado com eleição de Fernando Collor de Mello, em 1989, representa, na verdade, o início do seu fim.

Se no primeiro governo, FHC realizou a sua “grande obra” para a qual ele fora eleito, no segundo veremos o desenrolar de sucessivas crises, como se FHC apenas plantasse o que semeara nos primeiros quatro anos, quando a capacidade de ação do Estado foi praticamente anulada e a dependência financeira externa tenha se tornado o Brasil um país completamente sem soberania.

O primeiro sintoma disso aconteceu antes mesmo de FHC tomar posse no seu segundo mandato presidencial. Como já nos referimos anteriormente, a crise asiática e depois a crise da Rússia, que levou aquele país à moratória, provocou sérios impactos nas economias de países “emergentes” como o Brasil.

Num único dia, a Bolsa de Valores de São Paulo teve uma queda de 14,9%, ocasionando ataques especulativos contra o Real através de uma corrida ao dólar, o que provocou pesadas perdas nas reservas cambiais (em alguns dias, o Brasil chegou a perder mais de 12 bilhões de dólares!).

A receita tucana para enfrentar essas crises foi a mesma: aumento das taxas básica de juros, que estava em 20,3%, e mais do que dobrou, atingindo o patamar de 43,4% ao ano, à época a maior taxa de juros do mundo, e corte nos gastos públicos.

A alta dos juros objetivava, principalmente, manter a sobrevalorização do real frente ao dólar, a “âncoras” mais importantes a sustentar a estabilidade da moeda, bancada através de financiamento externo. Necessitando dos dólares em fuga, o governo federal, para dar segurança aos “investidores” externos, tomou emprestado ao FMI 41 bilhões de dólares.

Mesmo assim, os ataques especulativos à moeda continuaram quanto mais ficavam óbvios os sinais de fragilidades da economia brasileira. Incapaz de manter sob controle o processo de desvalorização do Real, à custa de um provável comprometimento definitivo das suas reservas cambiais, como acontecera com o México, o Banco Central foi obrigado a aceitar uma desvalorização de mais de 70% da moeda imposta pelo mercado financeiro.

Em janeiro de 1999, o Real, que valia R$ 1,21, foi a R$ 2,10, o que acabou com o regime de “bandas cambiais”, determinando desde então um valor flutuante para o dólar. O Real tinha acabado e com ele o sonho dos “jornalistas econômicos” – que, segundo Paulo Henrique Amorim, não são nem uma coisa nem outra – de ver funcionar de maneira estável uma economia de livre mercado.

Ao contrário disso, o que se sucedeu à débâcle de 1998 foi um pesadelo para os brasileiros. No esforço de cumprir as metas estabelecidas pelo FMI e sistema financeiro, o governo federal não apenas não ampliou o investimento público em infra-estrutura, como promoveu um grande aumento da carga tributária, que passou de 29,7% do PIB, em 1998, para 35,9%, em 2002.

Em relação ao investimento público, o governo FHC começou e terminou com o mesmo percentual de investimento: 2,7% do PIB, incluindo as estatais. Ou seja, a única e exclusiva preocupação do segundo governo de FHC foi evitar o desastre monetário, com a volta da inflação, sacrificando o desenvolvimento econômico e prejudicando, principalmente, os trabalhadores, que foram vítimas tanto do aumento do desemprego como da queda na sua renda.

O "apagão": como os brasileiros pagaram (de várias maneiras) pela privatização do Setor Elétrico

O acontecimento mais exemplar a tornar palpável na vida do cidadão comum o que afirmamos acima foi o chamado “apagão elétrico”. Duas ações podem mostrar as responsabilidades políticas de FHC para o desastre econômico que foi o seu governo:

1. Ausência de investimentos das empresas privadas que “adquiriram” as estatais de energia elétrica privatizadas por conta da não obrigatoriedade dessas empresas em expandir seus investimentos – nem isso FHC cuidou de fazer;

2. Ausência de investimentos do Estado, especialmente para a expansão da oferta de energia através da construção de novas hidroelétricas.

O primeiro aspecto permite breves considerações sobre como foi realizado o programa de privatizações de FHC. Além de oferecer todas as vantagens para as empresas compradoras, como crédito público e certeza de lucro fácil, já que, especialmente no setor elétrico, os monopólios estatais apenas foram transformados em monopólios privados, os preços das empresas eram verdadeira pechinchas.

Só para termos um parâmetro a respeito disso, basta comparar o preço pago pelo Grupo Cataguazes-Leopoldina pela Celb (R$ 87 milhões). Só com a receita líquida do ano de 2007, isto é, sem os impostos (R$116,3 milhões), os donos da hoje chamada Energisa comprariam quase 1 Celb e meia.

O negócio é tão bom que os custos com salários e encargos sociais dessa empresa no mesmo ano de 2007 foram de apenas R$ 9,1 milhões de reais, ou seja, o que corresponde a menos de 10% da receita líquida da empresa. E a Energisa ainda hoje continua demitindo e transferindo setores que funcionam na Paraíba para a matriz, em Minas Gerais. Isso tudo porque não comparamos ainda com o lucro líquido de todo o Grupo Cataguazes-Leopoldina de apenas 1 ano, novamente o de 2007, que foi de R$ 327.758 milhões! Com tudo isso, é fácil concluirmos o grande negócio que foi feito com as privatizações.

A falta de investimento privado pode explicar, em parte, a razão de lucros como esses, mas a lucratividade dessas empresas foi ajudada principalmente por reajustes acima da inflação, que inflaram os seus cofres. Em 1998, auge do programa de privatização brasileiro, calcula-se que uma família de classe média, formada por quatro pessoas e com renda mensal de R$ 2 mil, gastava entre 1% e 2% de seu orçamento com a conta de luz. Cinco anos depois, isto é, em 2003, essa mesma família, com o mesmo salário, desembolsava entre 8% e 11% dos rendimentos com o serviço.

O quadro abaixo mostra a trajetória dos índices de reajustes de energia elétrica entre 2000 e 2008, em seguida, os índices de inflação.

Quando comparamos os índices de reajustes tarifários com os índices de inflação, veremos a razão do peso cada vez maior da energia na renda das famílias paraibanas. A diferença entre os reajustes de energia dado aos serviços prestados pela Saelpa, que engloba toda a Paraíba, excluindo a região polarizada por Campina Grande, e a inflação do período chega a 44,71% acima da inflação. É isso que explica porque essas empresas se apropriaram de maneira ilegal de mais de 10 bilhões de reais dos consumidores nos últimos anos e se recusam a devolver, mesmo com o “erro” reconhecido. Para isso elas contam com a proteção da Aneel, agência criada por FHC para regular o setor elétrico e que conta com autonomia diante do Poder Executivo.

Quanto à falta de investimento público na produção de energia elétrica, o gráfico abaixo mostra a evolução dos investimentos das estatais por seu respectivo setor, de 1950 a 2002. Observe abaixo a queda abrupta desses investimentos, especialmente depois de 1988, quando o empresariado brasileiro adere ao neoliberalismo.

(fonte clique aqui) .

O resultado não podia ter sido outro que não o “apagão elétrico”, que começou no ano de 2001 e se prolongou ainda por 2002, causando graves prejuízos à economia do país.

E um acontecimento com esse teria levado qualquer empresa que vendesse energia elétrica a grandes prejuízos, não é mesmo? Essa lógica se inverte quando se trata das empresas privatizadas do setor elétrico brasileiro.

Pois bem, com o racionamento de energia elétrica patrocinado pelo governo FHC, em grande medida proveniente da desobrigação dos novos donos das empresas privatizadas em fazer os investimentos que prometeram no setor, além da ausência dos investimentos do próprio governo na ampliação da produção de energia, durante o “apagão”, o BNDES abriu linha de crédito para financiar os prejuízos dessas empresas, calculados por elas mesmas em 90% por conta da redução obrigatória do consumo.

Entretanto, para financiar o pagamento desses esses empréstimos, a ANEEL e o Governo Federal criaram a chamada Revisão Tarifária Extraordinária,cuja finalidade”, segundo a Energisa, “era permitir que empresas de distribuição, como a Emissora e as outras Distribuidoras do grupo, recuperassem, no futuro, parte da receita perdida e quitassem o empréstimo do racionamento do BNDES mencionado acima”.

Além disso, parte do arrecadado com essa “revisão tarifária” foi repassado para as empresas de fornecimento de energia, também atingidas pelo prejuízo ocasionado pelo racionamento. Em síntese, além do Governo FHC forçar a população às dificuldades de racionar energia, foi essa mesma população que pagou esses prejuízos, ao ver repassados para ela, na forma de aumentos nas tarifas, os empréstimos que as empresas de produção e distribuição de energia elétrica pediram ao próprio Estado para cobrir seus prejuízos.

Ou seja, os consumidores perderam dos dois lados, e as empresas ganham em qualquer circunstância. Pelo menos, esses consumidores tiveram o consolo de pagar para que as empresas financiassem esses empréstimos em 71 suaves prestações.

Infelizmente, a história não acaba por aí. Como a Energisa não conseguiu cobrir todos os “prejuízos” com o apagão cobrando dos seus consumidores, restando um saldo a pagar para à empresa de R$ 29,1 milhões, correspondentes as “dívidas” da antiga Saelpa e CELB, essa “dívida” foi contabilizada como “outras despesas operacionais” e incluídas nos custos da empresa, o que quer dizer que todos os consumidores tiveram que assumir o ônus através de repasses para o valor da tarifa.

Para completar, os valores acima foram acrescidos, ainda segundo a própria Energisa, dos R$7,1 milhões “do saldo do passivo regulatório de RTE (Energia Livre) não faturado no prazo de recuperação em contrapartida de ‘outras receitas operacionais’.” Tradução: fomos nós que pagamos também a conta aos fornecedores da Energisa.

Esse caso, por si só, demonstra o caráter absolutamente contrário aos interesses da sociedade quando empresas privadas controlam setores essenciais ao desenvolvimento econômico e social, especialmente porque tal estrutura foi montada para que evitar que tais empresas nunca percam.

Portanto, o termo “apagão” vai além do seu significado prático para a vida econômica da nação e das pessoas comuns. Ele expressa, em termos simbólicos, o início do fim de uma era, curta, é verdade, mais intensa o suficiente para promover profundas alterações na economia e na sociedade brasileiras. Em termos políticos, ela expressa a decadência de um bloco de poder que governou o Brasil por 8 anos de maneira incólume e, com a ajuda da grande imprensa, tornou palpável nos debates (ou por conta da ausência deles) o significado da expressão “pensamento único”. O “apagão”, com sua pedagogia insuperável, ensinou ao povão o que era esse tal de “neoliberalismo” e, mais do que isso, o que era essa tal “hegemonia tucana”.

O fim dessa hegemonia já se prenunciara mesmo antes do apagão, quando o desempenho dos candidatos do PT na eleição para prefeito em 2000 tinha sido surpreendente, revelando já o estado de ânimo do eleitorado com a situação do país. Se em 1996, o PT elegera apenas 2 prefeitos de capitais (Porto Alegre e Belém), e mais 113 prefeitos em todo o país, obtendo naquela eleição 7,94 milhões de votos (10,7% do total), em 2000 o PT abocanhou 6 prefeituras de capitais (São Paulo, Porto Alegre e Recife, Goiânia,Belém e Aracaju), obtendo 11,38 milhões, um crescimento eleitoral de mais de 40% com uma votação concentrada nos grandes centros.

Era Lula, finalmente, chegando lá.

Continua...

Para concluir a série sobre a história do PT: 1) Rumo a 2002: do Programa econômico do PT à Carta aos Brasileiros; 2)O Governo Lula: rumo a um novo modelo de desenvolvimento

sexta-feira, 12 de março de 2010

Pesquisa Consult-Correio: Ricardo Coutinho está no páreo‏

Apesar das comemorações dos maranhistas com os resultados da pesquisa Consult-Correio não custa nada lembrar que o jogo está apenas começando. Por outro lado, mais do que criticar a pesquisa, ou desdenhar dela, os ricardistas deveriam comemorar o fato de Ricardo Coutinho, um político relativamente desconhecido no resto do estado, atingir uma percentagem de indicações de quase 33%.

Trata-se de um considerável suporte que permite ao atual prefeito de João Pessoa iniciar uma campanha que, acredito que ninguém desconhece esse fato, será dura e difícil, pois Coutinho vai enfrentar uma união de duas máquinas poderosíssimas: a administrativa (especialmente a estadual, mas também a federal que o PMDB e o PT controlam na Paraíba, e as das principais prefeituras do estado) e a partidária, especialmente a do PMDB. O racha no PT, infelizmente, enfraquece o partido e diminui sua importância eleitoral. A força do PT paraibano é reflexo mais da força que o partido construiu no resto do país do que a que ele tem no estado. E dividido então...


E por que o resultado da pesquisa não é de todo mal para Ricardo Coutinho?

Primeiro, porque ele enfrenta um candidato muito mais conhecido, que já foi governador do estado, participou do último pleito e, mesmo derrotado, obteve um inquestionável bom desempenho, quando foi derrotado por uma margem mínima de votos, e nas circunstâncias que todos nós conhecemos. Além disso, José Maranhão se encontrar no exercício do cargo de governador, com uma poderosa estrutura de comunicação que só agora começa a funcionar para divulgar as ações de governo.

Por outro lado, o nome de Coutinho ainda é relativamente desconhecido da maioria dos paraibanos, que sabe dele de "ouvir falar", ou seja, superficialmente.
E um conhecimento maior do atual prefeito de João Pessoa esses eleitores só poderão ter quando a campanha de TV começar. Mesmo os que o conhecem mais de perto, como os que residem na região metropolitana de João Pessoa, onde o prefeito pessoense necessita colocar uma grande vantagem sobre José Maranhão, na medida em que a eleição se aproxima e o debate se torna mais acirrado, podem voltar a optar de maneira mais massiva pelo futuro candidato do PSB.

O grande desafio de Coutinho será convencer esse eleitor que o julgamento de sua administração é mais relevante que as alianças que ele fez com antigos adversários políticos, que são também tradicionalmente rejeitados pelo eleitorado pessoense, e que essas alianças não vão interferir na sua futura administração. E a TV certamente - e mais uma vez - jogará relevante papel nisso.


Segundo, é bom não deixar de mencionar, Coutinho enfrentou nos últimos meses um impiedoso bombardeio, exatamente por conta das alianças que fez - inclusive partindo deste blog, - o que ajudou a expor as dificuldades de uma aliança que é claramente inconsistente, especialmente por conta das trajetórias dos novos aliados.

Não bastasse isso, Coutinho vem perdendo importantes aliados como o PTB e ainda não pode contar com o PSDB, cuja sigla vive a indefinição se terá ou não um candidato competitivo para presidente. E se José Serra aceitar a indicação se fortalecem as chances de Cícero Lucena ser o candidato do partido, o que não é necessariamente um fato negativo, pois assegura a existência de um segundo turno, que é uma nova eleição e um momento (curto) de rearrumamento de forças. A não ser que Coutinho resolva apoiar José Serra, o que eu acho improvável: seria um suicídio político e eleitoral.

Entretanto, mesmo com todas essas dificuldades e limitações, o prefeito de João Pessoa conseguiu superar os 30% dos votos, o que demonstra a força inquestionável de sua candidatura. Em suma, em meio a todos esse percalços esses mais de 30% atribuídos a Coutinho devem, ao contrário de parecer um desastre - só os ricardistas acreditavam que a eleição já estava ganha e que derrotariam José Maranhão com relativa facilidade, - devem ser lidos como um poderoso ponto de partida, um espólio que só a campanha poderá dizer se será ampliado ou não. Acho que dificilmente Ricardo Coutinho baixa desse patamar. Além de tudo, uma diferença de 7,5%, como demonstram as últimas pesquisas para presidente, mesmo desconsiderando a margem de erro, são insignificantes, principalmente a 7 meses da eleição.

São esses os únicos dados que a pesquisa Consult-Correio consegue mostrar nesse momento: que Ricardo Coutinho será um candidato respeitável e que José Maranhão está, por ora, vencendo o embate político.

Fora isso, os maranhistas fazem o que tem que fazer: comemoram e propalam sua vitória como inevitável. Aos ricardistas, cabe reafirmar que a campanha está só começando. E que seu candidato está no páreo.

terça-feira, 9 de março de 2010

VENEZIANO FICA OU SAI?

Independente de qualquer pesquisa, e qualquer que seja a avaliação, o fato é que, viabilizado o quadro eleitoral sem a presença na disputa do prefeito de Campina Grande, Veneziano Vital, teremos mais uma acirrada disputa para o governo. Não escondo com isso que essa avaliação ajuda, sem dúvida, a reforçar a idéia de que a presença de Veneziano na chapa maranhista ao governo é, com perdão do trocadilho involuntário, vital. Há seis meses da eleição, o dado mais relevante que qualquer observador mais isento da cena política paraibana não deixa de perceber é que, consolidado esse quadro, como já disse, teremos uma disputa acirrada quando outubro chegar. E que Campina Grande será mais uma vez decisiva.

Olhando estritamente para o objetivo de ser candidato a governador em 2014, objetivo que, caso José Maranhão não tivesse assumido o governo é provável que já estivesse em plena realização atualmente, já que Veneziano se tornaria o candidato natural do PMDB, acredito que a pergunta que deve orientar a decisão do jovem prefeito campinense é a seguinte: em 2014, é melhor ser candidato ao governo no cargo de governador ou, do contrário, enfrentar uma disputa eleitoral contra um candidato à reeleição em pleno exercício do cargo?

A primeira hipótese considera o fato mais do que previsível de que, caso eleito na condição de vice na chapa do atual governador agora em 2010, Veneziano assumiria o cargo com a renúncia de José Maranhão para se candidatar ao Senado e encerrar como um vitorioso sua carreira política; a segunda hipótese considera o fato de, vitorioso Ricardo Coutinho em 2010, o objetivo de Veneziano de se eleger governador em 2014 estaria pesadamente comprometido, seja porque, no momento, o prefeito continua ainda sem perspectivas de ter um candidato com viabilidade suficiente para permitir-lhe almejar fazer o seu sucessor, problema que seria agravado, considerando a hipótese da derrota maranhista em 2010, pela ausência da máquina estadual pára ajudá-lo nessa empreitada, o que o fragilizaria ainda mais.

É bom lembrar que a vitória de Ricardo Coutinho abriria o caminho de volta para ele refazer os laços políticos com o PT, já que, visto pelo olhar de hoje, Coutinho ainda mantém firme a idéia de apoiar Dilma Roussef para presidente. Essa será a senha que muitos petistas utilizarão para desembarcar da nau peemedebista em caso de derrota, inclusive os petistas mais adorados hoje pelo irmão do prefeito de Campina Grande.

Ao argumentar isso não estou sendo simplista a ponto de afirmar que a decisão de Veneziano Vital de anunciar sua saída ou sua permanência da prefeitura de Campina Grande, decidirá as eleições de 2010 na Paraíba. Mas, ela trará importantes conseqüências para a montagem dos palanques num momento decisivo da disputa. Em termos práticos, não se pode omitir o fato de que foi criada uma expectativa tal por conta da decisão do prefeito que, qualquer que seja ela, a leitura necessariamente passará seja pelo fortalecimento – em caso do anúncio de afastamento da prefeitura - ou enfraquecimento da candidatura de José Maranhão – em caso da permanência no cargo.


Por um motivo simples: José Maranhão continuará sem solução eleitoral para a região que foi o principal motivo das duas últimas derrotas do PMDB: a região da Borborema, especialmente Campina Grande, problema que, inquestionavelmente, seria resolvido caso Veneziano Vital aceitasse participar da chapa na condição de vice, o que criaria imensa expectativa de poder em torno de mais um campinense com possibilidades de assumir mais uma vez o Governo do Estado.
E não imagino que esse problema pode ser contornado com outro nome de Campina na chapa, a exemplo do deputado federal Vital do Rego Filho, que tem tido uma atuação brilhante como deputado federal.

Apesar de irmãos, os dois tem reconhecidamente modos distintos de fazer política – isso visto exclusivamente no âmbito do manuseio das palavras, pois conheço muito pouco os dois para afirmar algo diferente, - o que implica em algo que torna Veneziano, em termos políticos, tão sedutor e agregador, enquanto “Vitalzinho” passa a idéia de querer, a todo custo, projetar-se além do espaço que ele já ocupou - no vácuo do crescimento do irmão, é verdade, - para assegurar para si o que todos tem como espaço que pertence a Veneziano, espaço conquistado a duras penas - ao lado do irmão, também é verdade.

Resumindo de maneira simples: Veneziano Vital é Veneziano Vital, Vital do Rego Filho é Vital do Rego Filho. Mesmo irmãos, eles não são nem de longe, eleitoralmente falando, a mesma pessoal. Acompanhe abaixo o desempenho do atuante deputado federal do PMDB, Vital do Rego Filho, antes do irmão Veneziano assumir a Prefeitura de Campina Grande:

Nos quadros acima, privilegiou-se o desempenho dos candidatos antes da ascensão de Veneziano à condição de Prefeito, ou seja, em disputas sem o apoio da administração municipal, que é onde o potencial dos candidatos melhor se revela. Pois bem. Em três eleições seguidas, Vital do Rego Filho alcançou e estacionou em pouco mais de 7% dos votos válidos, incluindo uma disputa para prefeito na qual obteve 7,3%, o que indica que Vitalzinho na sua trajetória conseguiu conquistar e manter apenas um nincho eleitoral, o que, se foi o suficiente para compor uma base importante para sucessivas eleições de deputado estadual, o impediu de alçar vôos mais ousados.

Por outro lado, o desempenho de Veneziano foi ascendente a cada eleição da qual participou. Na primeira eleição, em 1996, conseguiu uma votação pouco expressiva que o deu apenas a ante-penúltima colocação entre os eleitos. Quatro anos depois, Veneziano, beneficiado pelo acordo de Cozete Barbosa e do PT com os Cunha Lima na eleição para prefeito, o que o tornou o principal nome da oposição, consegue figurar entre os 5 mais votados, tendo menos votos apenas que os candidatos mais próximos ao grupo Cunha Lima, mesmo fazendo parte de uma coligação esvaziada eleitoralmente.

Dois anos depois, Veneziano se lança candidato a deputado federal e abocanha quase 13% dos votos dos campinenses, numa disputa acirrada e sem a estrutura necessária, resultado que certamente deu a projeção necessária para disputar com chances a Prefeitura de Campina Grande e que o solidificou definitivamente como a liderança que faltava para colocar em xeque a hegemonia da família Cunha Lima, o que viria a se confirmar 2 anos depois, numa campanha para prefeito cuja simbologia remete à conhecida passagem bíblica da luta entre Davi e Golias, pois Vené, como carinhosamente passou a ser chamado pelo povo campinense, enfrentou uma furiosa máquina estadual montada na própria cidade para derrotá-lo, o que só deu ares de epopéia àquela vitória que foi comemorada em toda a Paraíba.

Se em Campina Grande, metade do eleitorado ainda o vê com os olhos embebidos pela paixão política como uma liderança de carne e osso, no restante do estado uma parte considerável do eleitorado enxerga Veneziano ainda como uma espécie de mito. O mito que reuniu exércitos e derrubou a mais importante cidadela da família Cunha Lima que, por 20 anos, manteve-a intocada.

É esse mito intocado ainda pela derrota que pode se colocado por terra caso Veneziano se aferre à opção mais cômoda - mas também a mais perigosa para o seu futuro - que seria a de permanecer na prefeitura de Campina Grande para concluir o seu mandato. Mais perigosa porque ele estaria ajudando, diante de uma possível derrota maranhista, ao projeto daquele que deverá ser seu adversário mais poderoso no futuro, um adversário capaz de ocupar, com sua ascensão, um espaço que Veneziano lutou muito para conquistar interior afora.

Anunciando sua saída, por outro lado, Veneziano promoverá uma irresistível expectativa de vitória de José Maranhão que, somadas às vantagens que o atual governador dispõe, tornará isso quase um fato consumado, o que também o tornará, em consequencia, um nome quase imbatível para 2014.


A derrota, especialmente na política, pode vir de várias maneiras, mas a mais dolorosa delas é quando perdemos por falta de ousadia.

quinta-feira, 4 de março de 2010

A PROPÓSITO DE DILMA ROUSSEF TER DOIS PALANQUES NA PARAÍBA


O que significa, na prática, a proposta defendida pela Direção Municipal do PT de João Pessoa de dois palanques para Dilma Roussef na Paraíba? A resolução do PT de João Pessoa trás duas implicações políticas:

Primeiro. É claro que, caso Ciro Gomes retire sua candidatura a presidente, especialmente aceitando ser candidato ao governo de São Paulo, no pacote de apoio do PSB deverá constar os dois palanques para Dilma na Paraíba. Isso, além de respaldado pela resolução do último Congresso do PT, seria politicamente óbvio.

Onde houver aliados de Dilma Roussef disputando governos estaduais, apesar dos constrangimentos que isso normalmente causa a qualquer candidata/o, não deve existir nenhum tipo de privilégio dado aos seus apoiadores. Isso só criaria problemas com os partidos aliados, e soaria como exclusivismo petista, um mal que o PT, felizmente, abandonou.

Entretanto, no caso da Paraíba, o fato de que aqui renhidos adversários do PT, de Lula e de Dilma estarão no palanque do PSB, inclusive disputando vagas para o Senado e para a Câmara, dá ao caso da Paraíba uma peculiaridade que não existe em outros estados onde o PSB terá candidatos a governador, como em Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará. Nesses estados, o Dem e o PSDB ocuparão o outro lado da trincheira.

Além disso, será politicamente constrangedor para Dilma. Imagine a candidata de Lula e do PT subindo num palanque e ajudando a eleger aqueles que, caso eleitos, tentarão ser os seus algozes no Congresso Nacional. O Senador Efraim Morais, por exemplo, repetirá na frente Dilma o que disse no plenário do Senado, em dezembro de 2005, sobre o PT?

“Aparelhou o Estado desde os escalões mais modestos até os superiores. A partir daí, passou a assaltá-lo sistematicamente. As prefeituras municipais, que o PT conquistou gradualmente, serviram-lhe de laboratório. Lá, no âmbito municipal, ensaiou a rapina que, a partir de 2003, passou a praticar em âmbito federal.”(...)

“PT era uma vivência incontornável. Tínhamos que passar por ela e estamos passando. Mas, como sarampo e catapora, só dá uma vez. São múltiplas as lições que o purgatório político nos está transmitindo.”

“Em 2006, ano de eleições gerais, é hora de a cidadania brasileira dar o troco aos que o iludiram. E que assim seja” ? (clique aqui)

E isso foi o mínimo. O rosário de provocações do demo Efraim Morais contra Lula e o PT daria para compor, se reunidos, um libelo conservador contra um governo dirigido de esquerda e uma homenagem ao pensamento direitista brasileiro, digno do partido a que pertence, historicamente sempre entrincheirado contra tudo que possa soar popular e de esquerda na política brasileira.

Além disso, o senador Efraim Morais (DEM-PB) foi um dos mais críticos oposicionistas ao Programa Minha Casa, Minha Vida, não por acaso, proposto e coordenado pela Ministra Dilma Roussef. Em aparte ao Senador Heráclito Fortes, do Dem do Piauí, Morais afirmou sem pestanejar: “Esse programa é um engôdo, uma ilusão” (clique aqui) , o que não deixa de ser um paradoxo que ele seja o convidado de honra do prefeito Ricardo Coutinho para uma manifestação de entrega de casas cujo financiamento provem, principalmente, de verbas do governo federal

Que o PSB defenda dois palanques para Dilma Roussef na Paraíba é compreensível – afinal, o partido não quer que sobre para ele apenas o palanque dos tucanos paulistas em 2010, numa região que Lula tem mais de 90% de aprovação e que teve mais de 80% dos votos na última eleição. Mas, petistas de João Pessoa defenderem isso, sem levar em conta a estratégia que eles mesmos aprovaram como prioritária – eleger Dilma Roussef, – é uma maneira de criar mais problemas para sua candidata, ao invés de tentar diminuí-los. É uma maneira de colocar acima do objetivo de eleger Dilma o objetivo de eleger Ricardo Coutinho

Subordinar, portanto, as disputas e os interesses locais de grupos e pessoas ao projeto nacional do PT e da esquerda, cuja vitória terá repercussões geopolíticas na América Latina e no mundo, além de, principalmente, permitir a consolidação do projeto de desenvolvimento iniciado no governo Lula, é de uma mesquinhez política sem tamanho.

Essa questão remete à segunda implicação da resolução do Diretório Municipal do PT de João Pessoa: a defesa de dois palanques para Dilma, caso prevaleça, implica que os dirigentes do partido estariam liberados para escolher em qual palanque ficar, se no de José Maranhão ou no de Ricardo Coutinho?

Não acho isso praticável, tanto em termo políticos – como reagirá o eleitorado vendo petistas num palanque que não é o do seu partido, – quanto em termo jurídicos: para que isso se viabilize deve contar com a concordância ou as vistas grossas da direção regional do PT (do jeito que se comportam algumas liderança detentoras de cargos públicos do PT de ambos os lados, não seria surpresa se prevalecesse essa permissividade política.)

Nesse aspecto, penso o seguinte, expressando aqui o que disse a um amigo petista. Dilma pode ter mais de um palanque nos estados, afinal, esses palanques serão de partidos que a apóiam para presidente. O PT, como partido, não. O PT terá o palanque que a convenção estadual decidir (Ricardo Coutinho ou José Maranhão). Se não valer isso, instituam-se o fim da democracia e da unidade partidárias que tornou o PT o que ele é hoje e ratifique-se que o partido é um mero agrupamento de interesses individuais e de grupo, sem projeto de poder próprio.

Ora, se isso vale até para os candidatos de partidos ditos liberais, como não valeria para candidatos e dirigentes do PT? Por exemplo, se Cícero Lucena for o candidato do PSDB, Cássio Cunha Lima subirá no palanque de Ricardo Coutinho? Claro que não, por mais que Cunha Lima deseje.

E, no caso de petistas, isso soaria como atitude de mal perdedor. Perderam no PED e querem manter a posição política a todo custo. O grupo que dirige o PT municipal não viu ainda o quão impraticável é essa política que eles insistem em manter? Ela foi derrotada não só no PT, como está sendo derrotada na sociedade – o apoio a Ricardo Coutinho em João Pessoa, especialmente na classe média e nos meios mais esclarecidos, desmancha como sorvete exposto ao sol. Tentar mantê-la é não apenas teimosia, mas sinal de burrice que levará ao isolamento político e à derrota eleitoral.

segunda-feira, 1 de março de 2010

As chances de Luiz Couto para o Senado

Foi com o professor de Filosofia Luiz Couto que mais aprendi sobre Maquiavel numa disciplina que o atual deputado federal do PT ofereceu aos alunos do curso de História da UFPB, há uns 20 anos atrás. Entre as opções propostas pelo então professor, escolhi Maquiavel e tive que ler O Príncipe para apresentar um seminário. Tanto a leitura atenta quanto a apresentação das idéias do diplomata italiano do século XVI e do debate que se seguiu, me permitiram desenvolver uma nova compreensão do que Maquiavel representa para a política moderna.

Longe dos preconceitos largamente difundidos sobre esse grande filósofo, resumidos na frase que nunca foi escrita por Maquiavel (“os fins justificam os meios”), compreendi finalmente que a política tem uma dinâmica própria e que a ação política exige uma compreensão da realidade que deve ir além do que nós desejamos que ela seja, mas como efetivamente ela é. Enfim, na esfera da política as normas de conduta não devem ser mediadas por modelos a priori, mas em razão dos objetivos a serem alcançados. Não se trata de propor um vale tudo sem princípios – para Maquiavel, o fim da política é alcançar o bem estar e a estabilidade social, – mas o fim da ingenuidade na política. Pois ela, definitivamente, não é lugar para ingênuos.

Você, meu possível leitor, deve estar se perguntando qual a relação dessa introdução com o título dessa postagem? Primeiro, ressaltar que as decisões políticas devem ser mediadas pela racionalidade e não pelas paixões ou por uma visão menor dos objetivos pelos quais nos metemos a fazer política, e com isso contribuir para uma análise mais racional da política paraibana e das chances de termos um candidato de esquerda na disputa para o Senado em 2010; segundo, evitar que a maior, e talvez a única, referência política da esquerda paraibana hoje – Ricardo Coutinho deixou de ser quando optou por aliar-se à direita – seja tragado pelas armadilhas dessa mesma política.

Comecemos, então, por deixar claro que foi o PT, e não apenas Luiz Couto, quem definiu que o partido tinha dois objetivos principais nas eleições de 2010 na Paraíba: ajudar a eleger Dilma Roussef
e conquistar uma das vagas para o Senado. A política que o PT deveria perseguir era essa, mas o que se viu na prática foi que esses objetivos foram sendo colocados em segundo plano para dar lugar à prioridade dos outros partidos de eleger seus candidatos a governador. O PT acabou se dividindo entre os que queriam apoiar José Maranhão (PMDB) e os que queriam apoiar Ricardo Coutinho (PSB).

No caso do grupo de Luiz Couto, o objetivo ficou mantido, mas atrelado à candidatura do PSB sem observar, em primeiro lugar, como o projeto de eleger um senador se encaixava nessa opção. Talvez a candidatura de Ricardo Coutinho desse mais lastro para esse projeto caso ela viabilizasse uma alternativa que aglutinasse a esquerda (PSB, PT, PCdoB e PDT) e atraísse outros partidos, como o PTB e o PP. Optando por aliar-se ao PSDB e Dem, Coutinho feriu de morte a possibilidade de uma aliança com o PT e a esquerda, o que enfraqueceu a posição de Luiz Couto e seu grupo dentro do PT. Couto não levou em consideração a possibilidade de um recuo tático, excluindo a opção de apoiar o candidato do PSB, e resolveu enfrentar o abismo e só não caiu nele ainda porque o tempo da política mantém sua condescendente espera.

No caso do grupo que apoiou Rodrigo Soares, aos poucos esse objetivo foi se diluindo até se consolidar no seu abandono, substituído pelo propósito de manter a vaga de vice-governador, ajudado tanto pelo precedente da aliança feita em 2006 como pela aliança entre PT e PMDB que se construía nacionalmente. E a tal unidade partidária, aquilo que foi e continua sendo o lastro de todos os projetos individuais e de grupo, acabou sendo a vítima de todo esse processo. O PT da Paraíba caminha para um racha que pode ter sérias implicações futuras.

Entretanto, ainda há tempo de restabelecer essa unidade, o que só será conseguido por intermédio da política. Para o bem do PT e da esquerda paraibana.

Luiz Couto unia o PT. Ainda une?

Não há dúvida que a maior liderança individual do PT continua sendo o deputado federal Luiz Couto, sendo ele o único nome capaz de compor uma chapa majoritária com possibilidades de vitória. O fato de, excluído Luiz Couto, o PT não dispor de outro nome para ocupar esse espaço, preferindo o aconchego da vaga de vice-governador na frondosa árvore maranhista, é revelador das fragilidades eleitorais do partido e de suas lideranças na Paraíba. A indicação do vice se sustenta pela simples afirmação da vontade dessas lideranças? Como já analisamos neste blog, a candidatura de Luciano Cartaxo se fortaleceu internamente após a vitória de Rodrigo Soares para a presidência do PT. Mas, isso por si só é suficiente?

Uma simples análise da vantagem eleitoral proporcionada pela indicação da manutenção do atual vice-governador na chapa de José Maranhão pode expor o quanto será difícil manter essa estratégia, a não ser que seja pela pura intimidação política. Caso não consiga manter Cartaxo na chapa o PT pula fora do barco do PMDB para se abrigar ao lado do PSDB e do Dem no tumultuado barco ricardista? Da mesma maneira que o PT nacional resiste, por legítimas razões de ordem política e eleitoral, em aceitar a indicação de Michel Temer, do PMDB, para compor a chapa presidencial ao lado de Dilma Roussef, o atual Governador da Paraíba José Maranhão tem razões de sobra para preferir um nome de maior densidade eleitoral, porque, e isso é um fato que interessa a todos, a derrota dele significará a derrota de todos. Depois, como aceitar a indicação de Cartaxo se ele não consegue assegurar nem mesmo o apoio do PT por inteiro, como pelo menos aconteceu em 2006?

Esse é um primeiro dado a conferir importância à candidatura de Luiz Couto ao Senado. Ela tanto permitiria criar as bases para o restabelecimento da unidade interna do PT e da esquerda, como evitaria atropelos na relação com o PMDB. Se Couto pensar com paixão, deixando a mágoa falar mais alto, ele verá nesse segundo aspecto uma maneira de não contribuir para solucionar essas dificuldades; se pensar racionalmente, olhando ao mesmo tempo para o PT e para o projeto original de se eleger Senador, verá com tranqüilidade que as condições políticas para viabilizar sua candidatura existem. Dentro e fora do PT.

Por que a candidatura de Luiz Couto ao Senado é viável

Primeiro, as condições para ser candidato. Quando eu me refiro às condições internas do PT estou me referindo não exclusivamente ao PT paraibano – mesmo aqui, para muitos que apóiam retoricamente a candidatura de Luciano Cartaxo, seria um alívio que o único motivo atual de confronto com José Maranhão fosse desfeito, – mas ao PT nacional, especialmente a Lula e Dilma Roussef. Por dois motivos: primeiro, a candidatura de Couto evitaria criar mais um problema regional com o PMDB, problema que não existia; segundo, viabilizaria a entrada na disputa de um candidato do PT com chances de vitória ao Senado, casa parlamentar que mais criou problemas a Lula e ao seu governo. Dilma certamente não quer enfrentar novamente esse problema.

Visto por esse ângulo, Luiz Couto hoje está na mesma situação que o paraibano Lindberg Farias se encontrava no Rio de Janeiro e conseguiu um acordo mediado pelo próprio Lula para que ele seja candidato ao Senado. Farias, que eu conheci relativamente bem, pois atuamos juntos no movimento estudantil, agiu com a frieza e a paciência que a política exige, esticando a corda sem deixar que ela se rompesse, deixando sempre uma janela aberta. Lula abriu essa janela e Lindberg não se fez de rogado. Para Luiz Couto, essa janela permanece aberta, como deixam claro todos os dias as lideranças do PMDB, incluindo o próprio governador.

Em resumo, a candidatura de Luiz Couto ao Senado interessa tanto a Lula e a Dilma, quanto ao próprio José Maranhão, o que pode permitir um acordo que viabilize toda a estrutura necessária para que o enfrentamento de uma disputa majoritária.

Segundo, acredito que seja do amplo interesse dos outros partidos de esquerda que haja um candidato desse campo como alternativa eleitoral. O quadro que se apresenta hoje considerando apenas o perfil dos possíveis candidatos ao Senado na Paraíba é dolorosamente carente de personalidades mais à esquerda: Efraim Moraes, Cássio Cunha Lima, Wilson Santiago, Wellington Roberto, Ney Suassuna mostram que o eleitor mais progressista enfrentará graves dificuldades de encontrar um candidato que mereça seu voto.

Quem representará esse eleitor, que tem um grande peso nos grandes centros? Depois, ninguém encarnaria de maneira mais real, sem precisar de estripulias midiáticas, a condição de candidato do presidente Lula ao Senado do que o petista Luiz Couto, especialmente numa eleição que tende a produzir nacionalmente uma onda vermelha, especialmente no Nordeste, com a ampla vitória dos candidatos que apoiarão e serão apoiados pelo governo Lula. Há uma clara subestimação desse provável fenômeno político, que já beneficia a candidata a presidente de Lula, uma até então desconhecida personalidade política, colocando-a em empate técnico com o candidato do PSDB, o conhecido governador de São Paulo, José Serra. Isso em março, sem a campanha na rua e na TV!

Se Luiz Couto e seu grupo perceberem a dimensão do que estará em jogo em 2010, as tendências que se apresentam hoje e que podem beneficiar sua candidatura, apontando como reais as possibilidades de uma vitória que, finalmente, dê ao PT da Paraíba a expressão política que o PT conseguiu em todo o Brasil, eles não terão dúvida que a candidatura ao Senado é a melhor opção, tanto para Luiz Couto quanto para o PT e, eu diria mais, para a política paraibana. Além disso, internamente, essa candidatura viabiliza a reversão da derrota polítca no PED, unindo o PT novamente em torno de Couto, para dar uma perspectiva para o partido e para toda a esquerda na Paraíba, perspectiva que, infelizmente, ela ainda não tem.

Cabe a Luiz Couto definir qual o papel que ele deseja que o PT e ele próprio desempenhem em 2010. Se de um partido que lidere a esquerda, apresentando um candidato ao Senado unir todas as matizes numa ampla campanha estadual, ou permitir que o PT seja um mero apêndice, mantendo-se A força e à sombra do PMDB.

O PT merece muito mais do que isso.